SANGUE NOS DEDOS

O guitarrista, cantor e compositor estadunidense Stephen “Stevie” Ray Vaughan (1954-1990) era famoso por usar cordas muito grossas nos seus instrumentos – em geral a 013 (*), pois ele curtia o timbre. Por causa disso, não raras vezes elas arrebentaram em plena apresentação. E isso terminou permitindo a ele se notabilizar por outra característica muito pessoal: conseguia trocar de guitarra com apoio de sua equipe e tamanha rapidez que não parava de tocar a música que estivesse em curso. 

Existem provas, com imagens e depoimentos, atestando que outros guitarristas também fizeram algo semelhante. Mas, foi a imagem dele que se tornou icônica, talvez porque ele não perdia de modo algum, nem o ritmo, nem a intensidade do show. E isso passou a fazer parte de seus espetáculos, com a plateia de certa forma esperando que viesse a acontecer. Havia, portanto, o desejo de que tal habilidade fosse sempre expressada, uma vez que reforçava uma já merecida admiração.

Vaughan nasceu em Dallas e se mudou para Austin com 17 anos. Nessa segunda cidade texana começou sua carreira musical – apesar de já saber tocar desde os 7, influenciado pelo irmão mais velho, Jimmie – e nela se tornou o  líder da banda de blues Double Trouble. Ele foi um músico dedicado e competente. Quanto às guitarras que tocou, primava por escolher as Fender Stratocasters. Muito versátil, o instrumento foi notabilizado por ícones como Jimi Hendrix, Eric Clapton e David Gilmour. E uma das várias que teve, com corpo de 1963 e braço um ano mais novo, com escala feita em jacarandá – árvore que é típica do Brasil e de alguns outros países da América do Sul –, parece ter sido realmente a sua predileta.

Na década de 1980, Vaughan se tornou figura chave para o fenômeno de ressurgimento do blues. Foi ele que uniu esse gênero ao rock, de uma forma inovadora. Albert King e B.B. King foram dois ídolos nos quais se baseou para tanto. Na vida pessoal, enfrentou uma longa batalha contra o uso de álcool e outras substâncias. O seu álbum In Step (Em Passo), de 1989, fazia justamente referência a isso: uma sobriedade que ele conquistou a duras penas.

Consta que pelo menos em uma oportunidade Vaughan tocou até que os dedos sangrassem. Mas, esse não é um fato comprovado, ao contrário do que ocorreu com Zakk Wylde, Billy Corgan, Rory Gallagher e Kurt Cobain. Aliás, com o primeiro desses quatro foi em São Paulo, em 2008, durante show de Ozzy Osbourne. Esse tipo de ocorrência é geralmente causado por atrito excessivo com as cordas durante performances que se revelam muito intensas. Ou se tratam de lesões prévias que acabam abrindo durante a apresentação. 

O último show de Vaughan ocorreu em 26 de agosto de 1990, no Alpine Valley Music Theatre, em East Troy, Wisconsin. Quem o viu classificou como algo de fato mágico. Na mesma ocasião, outros grandes nomes também estiveram no mesmo palco. Na madrugada seguinte, o helicóptero que o levava embora se acidentou. O piloto voara baixo demais e colidiu com o solo devido à pouca visibilidade no momento. Perderam a vida ainda três integrantes da equipe de Eric Clapton, que também comparecera.

27.10.2025

(*) Uma corda 013 é aquela que tem 0,013 polegadas de diâmetro. Esse é o seu calibre, a sua espessura. Geralmente, um encordoamento 013 informa que a corda mais fina – a primeira delas, o Mi agudo – tem essa medida. As demais cordas do conjunto seguem sendo progressivamente mais grossas. Esse calibre é tido como pesado e oferece uma sensação de toque mais rígida, com maior tensão em comparação com outros que são mais leves, como o 009 e o 010. A sonoridade robusta é própria para alguns tipos de rock, blues e jazz, propiciando som de fato encorpado.

Stephen “Stevie” Ray Vaughan

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O bônus de hoje é composto por dois vídeos. O primeiro é um corte mostrando Vaughan, sem parar de tocar, trocando de guitarra. O segundo, mais longo, destina-se a quem aprecia esse gênero musical: uma performance dele com a música Voodo Child, durante a mesma edição do Live From Austin.