HÁBITOS ESTRANHOS

A minha mãe era uma pessoa que tinha alguns hábitos estranhos. Não vou entregar tudo aqui, seria muito feio, mas posso dar como exemplo o fato dela sempre arrumar toda a casa para receber a diarista que a gente contratara. A mulher ficava surpresa, porque estava tudo em perfeita ordem e totalmente limpo quando ela chegava. Aquele deveria ser o emprego que ela pedira a Deus. Deste modo, depois dela tomar um cafezinho, ficava tentando encontrar ou inventar o que fazer. Outra coisa que Dona Vicentina fazia era separar todo o lixo, décadas antes disso se tornar uma preocupação social. Mais do que isso, higienizava tudo antes de jogar fora. Deveríamos ter os resíduos mais limpos de toda a nossa cidade. Em outra ocasião, já escrevi aqui sobre os inacreditáveis itens que ela costumava levar na sua bolsa, que inclusive um dia foi roubada. Mas, essas coisas passam batidas quando se é uma pessoa comum, como ela e eu – que também tenho minhas manias. Vá alguém famoso fazer alguma coisa “fora do prumo” e isso vira notícia. Viraliza, abastece um tipo de imprensa especializada e ainda mais as redes sociais, que adoram tais fatos.

O genial Salvador Dalí, pintor surrealista espanhol, carregava consigo um porta-cigarros de onde tirava bigodes postiços semelhantes aos seus, que costumava oferecer para seus amigos. O cientista inglês William Harvey, que conseguiu explicar como funciona a circulação sanguínea e descobriu funções do coração, curtia ficar totalmente no escuro para se concentrar. A tal ponto que construiu uma caverna, um espaço subterrâneo onde meditava durante boa parte do verão. Já o poeta Friedrich Schiller, que foi amigo íntimo de Goethe, mantinha seu escritório literalmente fedendo, uma vez que afirmava ser necessário mau cheiro para estimular a sua criatividade. Fizesse eu algo semelhante para produzir essas crônicas e seria expulso de casa.

O físico teórico estadunidense Richard Feynman, que ganhou o Prêmio Nobel de 1965 com seus trabalhos envolvendo de forma pioneira a eletrodinâmica quântica, costumava realizar cálculos trabalhando em um clube de strip-tease. Benjamin Franklin, que fez o conhecido experimento com uma pipa durante tempestade, para provar que os raios são de fato um fenômeno elétrico natural, tinha outro hábito ligado ao ar. Todas as manhãs costumava sentar pelado em frente a uma janela aberta, para “tomar a fresca”. Segundo ele, esse era um cuidado básico para manter sua saúde. E o general Stonewall Jackson, líder militar do Exército Confederado, durante a Guerra da Secessão norte-americana, só comia alimentos que ele mesmo detestava. Isso porque acreditava que seriam os melhores para sua saúde. Também costumava andar com um braço erguido, porque jurava que um lado do seu corpo era mais pesado do que o outro, o deixando desequilibrado. Muito provavelmente ninguém nas suas tropas ousou propor que talvez o desequilíbrio não fosse físico e sim mental.

A atriz brasileira Grazi Massafera simplesmente ama ficar desfazendo nós que se formam em rolos de lã ou linha. A cantora Roberta Miranda só viaja para fazer seus shows levando seu travesseiro e seu lençol. Afirma que não suporta a energia que existe nesses itens, quando são dos hotéis onde se hospeda. O também cantor Thiaguinho odeia os números ímpares. A tal ponto que nem o volume da sua TV ele mantém com um deles, pulando sempre para o imediatamente superior. Também costuma fazer o sinal da cruz ao entrar e sair do banho. E para se vestir inicia sempre pelo lado direito, sejam pernas das calças ou mangas de camisa. Lady Gaga preferia urinar nas latas de lixo existentes nos seus camarins, ao invés de usar o banheiro. E Katy Perry adora guardar chumaços de cabelos de seus amigos. Durante um Grammy implorou que Miley Cyrus e Taylor Swift dessem seus. Ela os amarra com fitas, identifica e guarda em uma bolsa.

Tem dezenas de outros casos que poderia também enumerar. Mas, eu vou parar por aqui antes que alguém descubra que tenho mania de revelar as manias dos outros. O que, se for verdade, ao menos diverte boa parte dos meus leitores.

15.03.2024

Hábitos, manias e tocs: todos nós temos algum

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O bônus de hoje começa com uma gravação ao vivo e diferente de Mania de Você, de Rita Lee, com ela própria e participação de Milton Nascimento. Depois temos o áudio de Mania, com Nelson Gonçalves. Este era o nome artístico de Antônio Gonçalves Sobral, cantor e compositor que fez enorme sucesso no Brasil, especialmente na década de 1950. Até hoje ele ocupa a segunda posição entre os maiores vendedores de discos da nossa história, com mais de 79 milhões de cópias comercializadas até o ano de 1998, quando faleceu.

NADA SE COMPARA A VOCÊ

Tão talentosa quanto polêmica, a cantora e compositora irlandesa Sinéad O’Connor faleceu no último dia 26 de julho. Mulher bonita e com uma voz que conseguia ser doce e firme, ela lançou ao longo de sua carreira dez álbuns de estúdio, o primeiro deles em 1987 e o último em 2014. Durante muitos anos se apresentava de cabeça raspada e confirmando a imagem de rebelde e provocativa que também gostava de cultuar.

Muito engajada e combativa, ficou conhecida também por causas que defendeu ao longo da vida. Criticava duramente a igreja católica devido aos muitos escândalos de pedofilia; se opunha à política social da então primeira-ministra do Reino Unido, Margareth Thatcher; apoiava alguns movimentos de esquerda em seu país; e criticava inclusive músicos. Em 1991 se recusou a ir até Nova York para a entrega do Grammy em protesto contra a Guerra do Golfo. Uma ocasião deixou nove mil pessoas esperando em um concerto para o qual estava convidada, porque os organizadores tocaram o hino dos Estados Unidos na abertura, o que não estava previsto e foi feito sem a sua concordância.

Foi com o seu segundo trabalho, o álbum I Do Not Want What I Haven’t Got (Não Quero o Que Não Tenho), de 1990, que alcançou notoriedade. Em especial a faixa Nothing Compares 2 U (Nada se Compara à Você), composta por Prince, ajudou a levá-lo para a primeira posição em termos de vendas em diversos países. Naquele mesmo ano ela participou do show que deu origem ao DVD Roger Waters The Wall Live in Berlin, cantando Mother, do Pink Floyd. Eclética, seu terceiro álbum – gravado em 1992 – foi feito com uma orquestra e cantando versões de sucessos dos anos 1950 e 1960, de cantoras como Ella Fitzgerald, Doris Day e Billie Holiday. Em 2005 lançou um apenas com reggae.

Não lhe faltavam motivos para que ela enfrentasse sérios problemas emocionais. Sua vida pessoal foi marcada por vários acontecimentos negativos que a afetaram profundamente. Começou com abusos físicos e psicológicos sofridos na infância, com internação em casa correcional para menores, seguiu com a perda da sua mãe no início da carreira devido a um acidente de automóvel, três casamentos e de quatro filhos, com um deles morrendo em 2022, aos 17 anos. Esses e outros eventos e situações influenciaram seu comportamento e sua produção.

Até com seu próprio nome ela foi controversa. Nasceu Sinéad Marie Bernadette O’Connor, mas em 2018 decidiu mudá-lo para Magda Davitt, sabe-se lá por que razão. No ano seguinte, ao ter se convertido ao islamismo, alterou outra vez para Shuhada’ Sadagat. Mesmo assim, em termos profissionais, suas gravações e apresentações continuaram sendo feitas como Sinéad O’Connor. Mas, independente de como fosse ela chamada, seu talento com certeza sempre a tornaria única.

04.08.2023

Sinéad O’Connor e seu filho mais velho Shane, que faleceu no ano passado

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No bônus de hoje, Sinéad O’Connor canta Nothing Compares 2 U. A gravação deste clipe se deu durante o Concerto da Anistia Internacional que aconteceu no Chile.