FELIZ ANIVERSÁRIO, BRIZOLA!

Carazinho, 22 de janeiro de 1922 – na época a localidade se chamava Cruzinha. Nessa cidade gaúcha e na data citada nascia um dos líderes políticos mais carismáticos da história do Brasil. O que significa que hoje se comemora seus 102 anos, mesmo não estando mais ele entre nós, desde 2004. Leonel de Moura Brizola foi o único brasileiro que conseguiu se eleger governador em três oportunidades, por dois Estados diferentes: Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Antes disso, seus conterrâneos gaúchos o haviam escolhido para deputado estadual, deputado federal e prefeito em Porto Alegre.

Brizola conviveu pouco com seu pai, que foi assassinado por forças leais ao então presidente da Província, Borges de Medeiros, quando ele tinha ainda dez anos, durante a Revolução de 1932. Em função desse fato, entre as poucas brincadeiras que se permitia na infância estava imaginar que era o personagem caudilho Leonel Rocha, que lutava para vingar a morte do pai. E teve tal importância esse fato que resultou mais tarde em uma solicitação para mudança legal de nome: ele que nascera Itagiba, assumiu o nome do herói.

Ainda no interior, foi alfabetizado em casa mesmo, pela sua mãe. Vindo morar em Porto Alegre em 1936, apenas em 1942 teve condições de concluir o ensino fundamental. Mesmo assim, três anos depois obteve vaga no curso de Engenharia Civil na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde se formou em 1949, um ano antes de casar com Neusa Goulart, que era irmã do então deputado estadual e mais tarde presidente da República, João Goulart.

A política entrou em seu sangue definitivamente ainda quando estudante universitário. No mesmo ano em que ingressou na UFRGS, também se tornou membro ativo do Partido Trabalhista Brasileiro, o PTB. E estava por lá quando se elegeu deputado estadual. Foi reeleito em 1950. Na prefeitura, chegou em 1956, na segunda vez que disputou. Seu slogan vencedor foi “nenhuma criança sem escola”, começando aí sua enorme obsessão pela educação pública, o que se tornou seu maior legado. Para cumprir o prometido, ampliou o número de prédios e o de vagas. Também investiu em obras de infraestrutura e saneamento nas periferias da capital.

Em 1958, se torna governador e termina com o déficit de 270 mil vagas no ensino público, promovendo convênios com escolas privadas, além de ter acrescentado seis mil salas de aula nos prédios estaduais. Mas foi muito além disso: nacionalizou a Bond & Share, que monopolizava o fornecimento de energia elétrica na Região Metropolitana, criando a Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE); e fez algo semelhante com a International Telephone and Telegraph, que foi substituída pela Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT). Esses fatos, somados à posição de resistência contra os militares, que pretendiam dar um golpe em 1961, o tornaram persona non grata tanto para os EUA quanto para as Forças Armadas entreguistas do nosso país.

Exilado no Uruguai e depois na Europa, a partir de 1964, só voltou para o Brasil depois da anistia de 1979. Impedido por Golbery do Couto e Silva de retomar a sigla PTB, fundou o Partido Democrático Trabalhista, o PDT, que nunca alcançou a expressão nacional do primeiro, com suas forças se concentrando muito mais no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Disputou o governo deste segundo em 1982, contra Moreira Franco (MDB), que era apoiado pela Rede Globo. Com a certeza de que o risco de fraude era enorme, uma vez que o TRT contratara empresa ligada aos militares para fazer a apuração, Brizola organizou contagem paralela, comprovando que estavam direcionando votos brancos e nulos para o seu adversário. O Jornal do Brasil, concorrente de O Globo, deu ampla cobertura ao fato e o gaúcho terminou eleito com 1,7 milhão de votos. A partir disso, ele nunca mais conseguiu se ver livre do ódio explícito de Roberto Marinho.

No Rio, sonhava em implementar os Centros Integrados de Educação Pública, os CIEPs, apelidados de Brizolões. Neles haveria ensino em tempo integral e amplo apoio social às famílias dos alunos. Mas, isso foi boicotado e destruído por ação sistemática da mídia, liderada pelo Grupo Globo. A perseguição chegou ao ponto de deixarem de cobrir o Carnaval, culpando Brizola pelo fato, e de criarem matérias falsas associando o governo com o crime organizado. Com esse clima hostil, ele se lançou candidato à Presidência, na primeira eleição direta depois do final da Ditadura Militar, em 1989. Acabou em terceiro, atrás de Fernando Collor de Mello (PRN), que era parceiro da TV dos Marinho, em Maceió; e de Lula (PT), que foi de modo informal ajudado no primeiro turno e destruído no segundo, com a edição manipulada do debate televisivo final.

Leonel Brizola ainda perseguiu esse sonho em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso (PSDB) venceu no primeiro turno. E em 1998, desta vez como vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando ficaram em segundo com FHC sendo reeleito. E em 2002 ele apoiou Lula no segundo turno, quando este venceu José Serra (PSDB) e se tornou o primeiro operário a chegar à presidência da República em nosso país. Brizola faleceu no Rio de Janeiro, em 21 de junho de 2004, vitimado por um infarto. Seu corpo está no Cemitério Jardim da Paz, em São Borja, Rio Grande do Sul, mesmo local onde estão sepultados Getúlio Vargas e João Goulart, dois ex-presidentes, e sua esposa Neusa.

22.01.2024

P.S.: Abaixo você encontra o “Algumas Coisas Para Se Pensar” e também o bônus musical.

Leonel de Moura Brizola

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ALGUMAS COISAS PARA SE PENSAR (12)

  1. Recebi por e-mail convite para ir apreciar um Festival do Torresmo, algum tempo atrás. A ideia me pareceu bem deliciosa, mas meu colesterol desaconselhou. Entretanto, o que me chamou a atenção mesmo foi que no card enviado havia o desenho de um porquinho correndo. Temo que tenham alcançado ele.
  2. Dados divulgados dias atrás: 2023 fechou com 650 mil pessoas vivendo em situação de rua nas grandes cidades, dos EUA, com esse número em crescimento constante. O país mais rico do mundo já não consegue esconder as consequências do sistema capitalista, do qual é o maior dos exemplos.
  3. Foram 60 as notas máximas em Redação, na recente prova do ENEM. A maioria dos que alcançaram esse feito é do Nordeste. Nenhum entre todos os agraciados, de qualquer ponto do país, era aluno de escolas militares.
  4. Pastor que lidera igreja evangélica em São Paulo publicou em sua página no Facebook, afirmação de que “mendigos têm o dever bíblico de passar fome”. Deve ser por isso que atacam tanto o padre Júlio Lancellotti, que ousa trabalhar em na defesa dos desassistidos.
  5. Notícia de última hora, no final de semana: Ronnie Lessa, que é assassino confesso da vereadora carioca, Marielle Franco, e de seu motorista, Anderson Gomes, acaba de fechar acordo de delação premiada com a Polícia Federal. Consta que irá entregar de vez quem mandou o crime ser cometido.

O bônus de hoje é uma paródia: Aquarela do Professor, aqui cantada por Gabriel Augusto, não tem a autoria conhecida. Mas, foi produzida sobre Aquarela, de Toquinho. Este, por sua vez, compôs a melodia e usou letra do italiano Guido Moura, em 1983.

VOLTE LOGO, PTB!

Não se passaram 30 dias de sua morte e ele está reencarnando. Nesta volta à vida, promete se afastar do caminho trilhado nos estertores da existência anterior, quando desonrou sua própria história ao se distanciar dos propósitos iniciais, tomando rumos tortuosos e opostos aos que dele sempre se esperou. O Partido Trabalhista Brasileiro, sigla fundada por Getúlio Vargas e que abrigou figuras que foram verdadeiros ícones da vida pública brasileira, como Leonel Brizola e João Goulart, foi extinto oficialmente no mês passado, ao confirmar fusão com o Patriota. Mas, entrou em imediato processo de recriação.

A legenda, que estava sendo comandada por Roberto Jefferson, aquele ex-deputado que se encontra preso por tentar matar policiais federais que foram até sua residência – fez disparos de arma de fogo e chegou a jogar granadas contra eles –, pode não apenas estar em breve de volta como também retornando ao espectro da esquerda. Isso porque os que assinam este pedido de renascimento são brizolistas que jamais se conformaram em ver o PTB atuando como um acessório, verdadeiro penduricalho a serviço de interesses que sempre passaram longe dos que norteiam ideais trabalhistas. Além da figura sombria desse seu último presidente, também o policial reformado Fabrício Queiroz, aliado de Jair Bolsonaro e envolvido no escândalo das rachadinhas, assim como o ex-deputado Daniel Silveira – que também está preso –, são dois outros exemplos de quem andou fazendo uso desse espaço político.

O aval do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para que seja iniciada a coleta de assinaturas para a recriação do PTB foi dado na sexta-feira passada, dia 1º de dezembro. Isso já consta no rol do tribunal e agora começa o prazo de dois anos para a coleta das 500 mil assinaturas que são necessárias. Enquanto isso, os inquilinos agora são parte de um tal PRD – Partido da Renovação Democrática. E, como aqui é o Brasil, seus integrantes não representam qualquer renovação e muito menos são democráticos. A fusão com o Patriotas não foi por afinidade ideológica, mas devido ao fato de não terem conseguido nenhum dos dois alcançar votação que lhes permitisse sobreviver à cláusula de barreira. Ou seja, ficaram sem a garantia dos fundos partidários e eleitoral.

Quem está à frente do processo de recriação da sigla PTB é Vivaldo Barbosa, ex-deputado constituinte e ex-secretário da Justiça durante o primeiro mandato de Leonel Brizola no Executivo fluminense, no ano de 1983. O desejo manifestado é que seja recuperado o que ele chamou, nas declarações à imprensa, de “trabalhismo de verdade”. O PTB original nasceu em 1945 e foi extinto pela ditadura militar. Com o fim deste regime autoritário, ele foi refundado em 1980, depois de uma batalha judicial. Isso porque Brizola desejava muito retomar a legenda, depois de ter voltado do exílio, mas numa articulação comandada por Golbery do Couto e Silva permitiu que ela fosse entregue para Ivete Vargas, uma sobrinha-neta do ex-presidente que foi cooptada pelo sistema vigente.

Foi marcante a cena do ex-governador do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro, chorando diante das câmeras de televisão, quando a decisão do TSE foi anunciada. Ivete, por sua vez, realinhou o partido ao PDS, que era o braço político dos militares, tendo sucedido a Aliança Renovadora Nacional (Arena). Outro momento relevante aconteceu em 2020, quando as tradicionais cores vermelho, preto e branco foram trocadas, por uma decisão de Roberto Jefferson, pelo verde e o amarelo. Essa foi referência ao alinhamento ideológico com o grupo bolsonarista, assim como o fato de terem adotado o lema “Deus, Família, Pátria e Liberdade”. O estatuto da retomada já informa, no documento constitutivo, a retomada das cores originais, com bandeira dividida em três listras verticais com o nome do partido no centro. E os princípios adotados deverão ser o nacionalismo, com democracia, trabalhismo e socialismo. E existe o desejo de manter o mesmo número 14 que o acompanha desde 1985. Essa última definição, no entanto, só se confirmará com a obtenção das assinaturas previstas em lei. Representações constituídas em 20 Estados já estão trabalhando nesse sentido.

06.12.2023

Brizola chora ao perder a legenda PTB. Depois, em função disso, fundou o PDT

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O bônus de hoje é o Hino do PTB, composto por Jaime Guilherme.