“HOMENS DE BEM” PERSEGUEM HOMEM BOM

São 40 anos de atuação na paróquia São Miguel Arcanjo, no bairro da Mooca, além de um trabalho maravilhoso com a população de rua da capital paulista. O padre Júlio Lancelotti, no entanto, angariou respeito e admiração muito além dos espaços onde atua. Verdadeiro ícone, sendo excelente exemplo do que deveriam ser todos os que se dizem cristãos, ele também incomoda muita gente. Notadamente aqueles que se auto proclamam “homens de bem”. Não por acaso, vem acumulando ao longo do tempo vários tipos de ameaças e perseguições. Sejam elas por ódio ou meramente inveja, até agora não conseguiram deter o seu trabalho.

Ao denunciar torturas e maus-tratos em unidades da antiga FEBEM, hoje Fundação CASA, em 2004, o padre sofreu ameaças de morte por parte de funcionários e de grupos de extermínio. Três anos depois, foi vítima de uma quadrilha que tentou extorqui-lo para não assassinar a sua reputação, atribuindo a ele condutas inapropriadas. A investigação feita pela polícia e a posterior ação da justiça trataram de esclarecer tudo e inocentar Júlio.

A partir de 2010, quando a extrema-direita começou a se organizar mais fortemente no Brasil, ele passou a ser bombardeado com a rotulação de “ideológico”. E sofreu com abuso de autoridade, com diversos relatos de abordagens policiais agressivas enquanto tentava mediar conflitos entre moradores de rua e a Guarda Civil Metropolitana (GCM). Também foi nessa época que começaram os ataques digitais, com campanhas de difamação sistemáticas em redes sociais, associando o trabalho da sua pastoral com um suposto “estímulo ao uso de drogas”.

Em setembro de 2020, enquanto realizava atendimento na Mooca, Júlio foi atacado e xingado por um indivíduo que o chamou de “filho da puta” e que só não o agrediu fisicamente porque o padre não estava só. O caso foi registrado na polícia e, mesmo com a placa do carro do agressor sendo conhecida, não deu em nada. Depois disso, Arthur do Val, youtuber que ficou conhecido como Mamãe Falei, um ex-deputado bolsonarista, iniciou campanha chamando o religioso de “cafetão da miséria”. Com isso foi desencadeada uma campanha de ódio entre os seguidores do político, que passaram a proferir sistemáticas ameaças físicas contra o padre.

Em 2021, indignado com a atitude da Prefeitura de São Paulo, que havia instalado pedras irregulares e pontiagudas sob um viaduto para impedir que moradores de rua dormissem no local, o padre usou uma marreta para remover o material. O ato humanitário resultou em uma avalanche de notificações judiciais e ataques por parte de grupos conservadores. Em agosto de 2023 um bilhete foi deixado na porta da paróquia, com dizeres que anunciavam estar chegando “o dia do seu acerto de contas”. A polícia identificou o autor da ameaça de morte.

Em janeiro de 2024 o vereador Rubinho Nunes (União Brasil) tentou, sem sucesso, instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar ONGs que atuam na Cracolândia, colocando o padre Júlio Lancelotti como alvo central. A iniciativa gerou forte reação por parte da sociedade civil e da igreja, sendo vista como uma perseguição política. Depois disso, coincidentemente, vídeos e fotos buscaram ligar a imagem do padre com pedofilia. A perícia policial comprovou serem elas montagens e manipulações feitas com o uso de Inteligência – no caso, o melhor seria chamar de Ignorância – Artificial.

Como se não bastassem os ataques externos, agora o padre enfrenta um recente, surpreendente e inesperado problema “intramuros”. Sem dar qualquer explicação sobre os motivos que o levaram a tomar a decisão, o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, determinou a transferência de Júlio Lancelotti. Isso ocorreu poucos dias antes do Natal, através de uma comunicação feita por meio de carta. Ou seja, nem sequer a coragem de cometer pessoalmente este absurdo ele teve, o que deve envergonhar seu irmão também gaúcho, o cardeal Dom Vicente Scherer (1903-1996), assim como envergonha a todos nós que somos seus conterrâneos. Ele também proibiu o padre de fazer uso de redes sociais e suspendeu a transmissão online das missas dominicais, que ele fazia com grande sucesso e audiência invejável de fiéis.

A Pastoral do Povo da Rua realiza um trabalho mais do que meritório. Faz um permanente esforço para resolver o problema de que nada tem, ao contrário de “homens de bem” que atuam para que isso se agrave. E não se trata apenas de dar conforto espiritual e alimento a quem tanto disso necessita. Há outros braços do projeto, como a Biblioteca Wilma Lancelotti, recentemente inaugurada, com três mil livros recebidos em doação, entre tantas outras iniciativas que oferecem oportunidades e a recuperação de um mínimo de dignidade para essas pessoas.

É inaceitável que políticos inescrupulosos e simples seguidores cegos na idolatria de mitos ataquem quem tem comprometimento na luta por quem é visto pela sociedade como um nada. O padre Júlio é um religioso que representa simplicidade, amor, abnegação e respeito. Um cristão na maior e mais verdadeira acepção do termo. E que precisa que todos nós, não importando que fé se professe, gritemos em sua defesa. Porque silenciar é ser cúmplice desta perseguição.

21.12.2025

Padre Lancelotti é verdadeiro exemplo cristão

O bônus de hoje é clipe de A Paz, do Roupa Nova, com a participação do Padre Fábio de Melo. A música é uma versão de Heal The World (Cure o Mundo), de Michael Jackson.

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