PICASSO E O OFICIAL NAZISTA
Quando os alemães nazistas ocuparam Paris o multi artista espanhol Pablo Picasso (1881-1973), que lá residia, foi preso. A polícia secreta do Estado, em alemão Geheime Staatspolizei, conhecida pela contração Gestapo, queria interrogá-lo. Ele chamou a atenção de um dos braços da repressão, especialmente interessado em intelectuais. Não se sabe se por sorte ou especial deferimento, o detido foi confrontado por um oficial que falava bem o francês, era educado e parecia ter instrução. O que em geral é uma raridade em quaisquer grupos militarizados.
O homem mostrou a ele uma foto da obra chamada Guernica – queria saber sobre ela –, a enorme pintura na qual Picasso retrata visão sua sobre o bombardeio que havia sido perpetrado sobre a pequena cidade que tem aquele nome e fica em território basco. O fato se deu durante a Guerra Civil Espanhola, em 26 de abril de 1937. Com autorização do grupo de Francisco Franco, fascista que buscava chegar ao poder pela força na Espanha, aviões da Legião Condor, da Alemanha, destruíram o pequeno povoado, matando 1.654 e deixando centenas de feridos, entre os pouco mais de cinco mil habitantes.
Os agressores aproveitaram a oportunidade para que fossem testados aviões e armamentos. Cálculos apontam para terem sido despejadas 22 toneladas de explosivos, sendo algumas bombas grandes, de 250 quilos. Menores, bombas incendiárias foram jogadas sobre as casas, a estação de trem e o hospital. Pessoas que tentavam fugir, desesperadas, eram abatidas pelas metralhadoras dos caças. O objetivo era que o massacre servisse de exemplo. O nazista Hermann Göring admitiu, depois que os pilotos da Lufwaffe (Força Aérea) precisavam ser experimentados em condições reais. Mas, como notícias falsas já existiam naquela época, muito antes de as redes sociais existirem a as potencializarem, Franco disse mais tarde que os próprios bascos teriam sido responsáveis pelo bombardeio. Uma espécie de suicídio coletivo, com aviões e bombas que não possuíam.
Guernica é uma das obras mais expressivas de Picasso. Ouso dizer que se trata da mais famosa. Ela pertence ao acervo do Museu Nacional e Centro de Arte Rainha Sofia – o Reina Sofia –, que está localizado em Madri, na Espanha. Foi criada em 1937 especialmente para o artista participar da Exposição Internacional de Paris. É um grande mural, que tem 782,5 centímetros de largura por 351 centímetros de altura, sendo um óleo sobre tela. Suas formas geométricas confirmam facilmente a caraterística cubista. A atmosfera retratada não poderia ser outra que não o horror, com gritos, uma mulher ferida na perna e um soldado morto. Há também a presença de uma mãe chorando pela perda do seu bebê, além de construções de animais, no caso cavalo e touro que são típicos na cultura espanhola. Acima de tudo, a obra é política. E mostra um momento sem cor alguma, sendo toda em preto, branco e tons de cinza.
Mesmo sendo relativamente tolerante com o gênio que sabia ter na sua frente, o oficial da Gestapo tinha também uma boa dose de raiva, devido ao que considerava uma “afronta” cometida pelo pintor. Assim, como relatei no início, mostrou a ele uma foto da obra Guernica e perguntou: “Picasso, foi você que fez isso?” Imperturbável, o espanhol deu uma resposta digna de ser reconhecida como perfeita, em livros de história. “Não. Foram vocês que fizeram. Eu apenas pintei.”
05.09.2023


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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é Décimas para el Guernica, com o cantor uruguaio Jorge Drexler. Essa apresentação integrou o evento Sune Guernica, ocorrido no Museu Reina Sofia e reunindo vários artistas, com as suas apresentações sendo feitas diante da obra de Picasso.