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QUANDO PESCARAM MACONHA

Final de setembro de 1987. Pescadores da cidade litorânea de Maricá, no Rio de Janeiro, retornam com uma carga inusitada em seu barco. Não se sabe ao certo se naquele dia deu peixe, mas 18 latas que boiavam no mar foram recolhidas e em cada uma delas, depois de abertas, havia cerca de 1,5 kg de maconha. Surpreendidos pelo fato e para evitar problemas, trataram de relatar tudo para a Polícia Militar. Nos dias seguintes isso foi se repetindo, cada vez com maior quantidade de latas, que apareciam nas proximidades e na direção sul, rumo a São Paulo. Então, o número de pessoas interessadas na atividade pesqueira cresceu vertiginosamente.

A polícia não dava conta de deter quem se aventurava tentando apanhar as tais latas. Surfistas passaram a voltar para a areia com várias delas sobre as pranchas. E pescadores profissionais de verdade desistiram de buscar peixes, acreditando que a venda deste outro produto lhe seria muito mais lucrativa – devem ter amaldiçoado os colegas que avisaram aos órgãos de segurança  Uma regata que acontecia normalmente entre Ilhabela e Santos, na edição daquele ano enfrentou situação inédita: o número de barcos a vela que abandonaram a competição no meio do caminho foi de mais de 50%, porque este fenômeno lhes chamava mais a atenção e despertava maior interesse do que as medalhas.

Estimativas que foram depois feitas pelas autoridades apontam para um total de 15 mil dessas embalagens inusitadas. As aparições seguiram ocorrendo pelos meses seguintes, sempre ao sabor da correnteza e das ondas. A estação chegou a ser batizada de “Verão da Lata”, sendo mais tarde isso tudo apontado como o último episódio do período da legítima contracultura. Com as necessárias investigações, foi apurado que todas elas estavam em um navio cargueiro chamado Solana Star. Procedente de Cingapura, ele tinha Miami como destino, sendo o porto do Rio uma escala programada. Mas, a Drug Enforcement Administration (DEA), agência que se encarrega do combate ao tráfico de drogas nos EUA, já estava monitorando há muito tempo a embarcação. E relatou à Polícia Federal, visando que fossem interceptados os traficantes ainda no nosso território. Só que de alguma forma a tripulação foi avisada e tratou de descartar o produto, evitando prisão em flagrante.

Quando da abordagem, em operação conjunta com a Guarda Costeira, não encontraram nada. Mesmo assim o navio atracou no Rio de Janeiro, de onde seis dos sete homens que nele estavam foram embora de avião, o mais rapidamente possível. Apenas um permaneceu na embarcação. Quando a história se tornou pública, o remanescente foi preso – ele não só confirmou tudo como também informou o número exato de latas que jogaram ao mar – e o barco confiscado. Três anos depois, ele foi à leilão e acabou arrematado por um comprador que pretendia transformá-lo em um iate, o que não deu certo. Revendido, foi preparado para se tornar um barco de pesca. Depois de pronto, na primeira viagem que fez com o novo nome de Lunamar, acabou afundando.

O episódio se tornou quase que uma lenda urbana e chegou a inspirar ao menos um documentário, lançado em 2014, com direção dupla de Haná Vaisman e Tocha Alves. Algumas músicas também foram compostas, com inspiração nessa história fantástica. Quanto às latas, cerca de duas mil e quinhentas delas foram recuperadas. As demais caíram nas mãos de consumidores do produto, numa concorrência que foi desleal com os traficantes locais.

11.08.2025

O marinheiro preso e algumas das latas apreendidas

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O bônus de hoje é a música Solana Star, com Márcia Novo. A cantora e compositora é amazonense, de Parintins. O seu primeiro CD (Tudo Novo) foi lançado em 2010, de forma independente, produzido por ela própria.