A BELA E A FERA
A história é bem antiga. O texto surgiu no Século XVIII e foi escrito por Gabrielle-Suzanne Barbot de Villeneuve, o nome completo da conhecida Madame de Villeneuve. Foi publicado pela primeira vez em 1740 em um jornal francês voltado para contos. No original, no entanto, eram mais de 300 páginas. A trama parte da transformação de um jovem príncipe, que era conhecido por sua arrogância, em um monstro. Mais do que isso, o castigo se estende para seus empregados todos – impressionante essa injustiça social –, que viram objetos e o deixam sozinho, não tendo mais quem atendesse suas exigências mais do que egoísticas. O resgate só se daria se ele, mesmo com essa condição desfavorável, conseguisse conquistar um amor verdadeiro e recíproco.
No cinema, esta obra foi em pelo menos três oportunidades levada às telas. Primeiro pelo diretor e poeta surrealista Jean Cocteau, no ano de 1946. O filme, uma produção franco-luxemburguesa, acabou sendo feito depois dele ter visto uma adaptação teatral de Alexandre Arnoux, na Bélgica. Mais modernamente tivemos uma animação que foi produzida pela Disney, em 1991. O mesmo estúdio fez, em 2017, a história com atores humanos – Emma Watson, Dan Stevens e Luke Evans, citando papéis principais –, com direção de Bill Condon. Uma curiosidade é que o pequeno vilarejo onde Bela mora antes de ir para o castelo existe na vida real. Ele fica no departamento do Alto Reno, região francesa da Alsácia. Se trata de Riquewihr, uma aldeia que integra a rota turística dos vinhos.
Agora, o que realmente importa é a enorme subjetividade que se encerra nessa história. O ser humano sempre dividido entre aquilo que tem de bom/bonito e ruim/feio. Isso também uma espécie de maldição, como a lançada pela feiticeira Agathe sobre o príncipe Adam, que requer tempo e esforço para ser superada. Aliás, na vida real se pode afirmar que isso nem acontece, com a única possibilidade concreta ficando em alcançar um modo de se conviver com essas duas facetas. Aceitar a existência permanentemente dualista, entre a racionalidade e a irracionalidade, a primeira sendo uma suposta característica humana e a segunda aquela que seria seu oposto: a bestialidade, o instinto e a fúria.
Se trata da doçura de Bela sendo usada como elemento que busca uma transformação da Fera, não que esse fosse seu interesse primeiro, mas algo usado como recurso que garantiria sua própria sobrevivência e a de seu pai. Depois, ela é surpreendida por um querer bem que recebe de volta, numa reciprocidade real que sequer esperava. O castelo vai aos poucos deixando de ser uma prisão, se tornando alternativa. Ela chega a se ausentar dele, com a sofrida aquiescência da Fera, que acredita que ela jamais retornaria, o que o deixaria eternamente à mercê da maldição. Mas, ela volta de modo voluntário e não mais por obrigação. Assim, vamos descobrindo que pode haver vida mesmo na escuridão. E se vê até romantismo, numa dança que confirma toda uma aproximação que vai ocorrendo entre eles.
Importante salientar que na versão animada a Fera não canta, o que acontece na humana. A diferença está muito na proposta dos Estúdios Disney, que adora apostar nisso em boa parte de suas produções. Quem é responsável pela trilha sonora em ambas as ocasiões é Alan Menken. É dele a composição “Evermore” (Nunca Mais), tendo ele se inspirado em canção do musical da Broadway que levou ao público esta história. Dan Stevens a canta no filme e Josh Groban na outra versão.
Voltando à narrativa, enquanto a violência latente jamais acontece entre os dois protagonistas, uma vez que estes acreditam no poder maior do diálogo, da acomodação das diferenças, na possibilidade de convivência, os “terceiros” desconhecem totalmente isso. Esses preferem apostar no uso da força bruta, no aniquilamento daquilo que não entendem por seu absoluto desconhecimento. E mostram, com sua conduta, que entre os humanos a bestialidade maior está naqueles que se julgam perfeitos, nos “homens de bem” e não na Fera.
1º.05.2024

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteComo bônus temos primeiro o trailer do filme de 2017. Logo depois é a vez da canção Evermore (Nunca Mais), de Alan Menken, na voz do protagonista Dan Stevens.