UM EQUÍVOCO DO MOVIMENTO ESPÍRITA

Ao tentar se mostrar como algo asséptico, intocado por esse assunto meramente mundano chamado política, o movimento espírita está cometendo, no Brasil, um equívoco que pode afetar o seu futuro. Por ser extremamente conservador, ao contrário da doutrina que surgiu como revolucionária e que seus membros professam – sou um dos que acreditam nela –, ficou fácil se alinhar a um pensamento que, em futuro breve, quando se confirmar a tendência de se tornar majoritário, irá fazer de tudo para silenciar quem defenda Kardec. Claro que o equívoco não é nem exclusividade nem primazia dos kardecistas, mas no caso destes se torna mais surpreendente e lamentável. Até porque um ensinamento básico do codificador foi que se refutasse mil verdades, se necessário fosse, para que não se aceitasse uma só mentira. E, atualmente, muitos dos seus membros estão abraçados em uma das maiores inverdades dos últimos tempos.

O que está acontecendo na prática é que, assim como boa parte dos católicos, muitos espíritas – felizmente não todos – têm seguido a reboque dos evangélicos, adotando posições que são na verdade muito políticas, mesmo quando não partidárias. E talvez o façam sem se darem conta. Se tornaram uma espécie de “inocentes úteis” a serviço do fortalecimento dos tentáculos pentecostais – talvez porque um médium incensado tenha escancarado seu ponto de vista nefasto. Ou seja, repito aqui para que fique bem claro, estão adotando posições políticas sim, mesmo que não estejam conseguindo ou não queiram perceber isso. A maior comprovação acabou sendo dada nas urnas, tanto em 2018 quanto em 2022, com o apoio incondicional a candidatos da extrema-direita, cuja conduta nunca teve nada de cristã. O que eles tinham e têm é um envolvimento com esse ramo radical do evangelismo, algo umbilical, mais do que íntimo, visceral mesmo.

No ano passado a Frente Parlamentar Evangélica – foi criada em 2003 e oficializada em 2015 – estava composta por 181 deputados federais e oito senadores, filiados a 80% dos partidos políticos com representação no Congresso. Ou seja, esta espécie de “invasão” que tende a crescer se dá em diversas frentes ideológicas, que ficam servis diante dos “interesses maiores” das igrejas. E era esse o grupo mais alinhado e votando de modo favorável às propostas apresentadas pelo Governo Bolsonaro. Os dados são oficiais, levantados pelo Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB), do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ. Esse ano, com grupo ainda maior, a Frente foi reinstalada no Senado dia 15 de março, em uma solenidade que contou com a presença do vice embaixador de Israel no Brasil, Yonatan Gonen, além de inúmeros pastores e outros representantes de igrejas evangélicas de todo o país.

Precisamos citar que além de tratarem de pautas de costumes, que são em tese sua principal obsessão, seus integrantes tentaram, por exemplo, aprovar um projeto de lei que retira de Nossa Senhora Aparecida a condição de Padroeira do Brasil. A mesma bancada votou em peso a favor da liberação de armas em nosso país; apoiou a retirada de verbas para a educação pública; trabalhou pela aprovação do excludente de ilicitude – permissão para que policiais possam matar qualquer pessoa que considerem suspeita de qualquer coisa, sem que respondam por isso –; pela exploração mineral em reservas; a redução da maioridade penal, levando crianças de 14 anos para prisões (que são escolas de crime); a proposta de um Estatuto da Família, retirando direitos já adquiridos por grupos familiares diversos; e muito mais. Acrescento um exemplo prático: agiu em silêncio e conseguiu a transferência de polpudos valores que são destinados a centros de recuperação de dependentes químicos, para que aqueles que fazem isso com “amparo evangélico” os recebessem, em detrimento de outros trabalhos, baseados em conhecimento e técnicas científicas.

Falta a noção mínima aos espíritas de que, mesmo aqueles que tiveram o pudor de não declarar votos dados ao inominável e seus candidatos a cargos nas eleições legislativas, nos últimos pleitos, dizendo serem “neutros”, contribuíram sim e muito para o fortalecimento de um estado de coisas que tende, no futuro – repito o que afirmei antes –, a trabalhar pelo silenciamento do kardecismo. Não se coloca raposas a cuidar de galinheiro algum. Não há nada de cristão na sede de poder pentecostal. A busca é real, mas pelo poder mundano, pelo controle, pela possibilidade de impor seus pontos de vista sem quaisquer objeções e, em especial, pela posse de riquezas que estão muito longe de serem espirituais.

A parcela Bíblia da bancada BBB no Congresso Nacional (Bala, Bíblia e Boi) agradece estrategicamente o apoio que recebe da inocência dos católicos moderados e dos espíritas pouco esclarecidos. Porque isso é muito útil ao ajudar na pavimentação do seu caminho até o poder, que pretendem venha a ser absoluto. Deixem os pentecostais chegarem lá, consolidarem essa posição pela qual trabalham arduamente, e vamos ver se o comportamento não muda. O dia que nosso Estado deixar de ser laico, será tarde demais para que se reaja. Até porque esse grupo de evangélicos, que idolatra Israel – que não é um país de maioria cristã, diga-se de passagem –, busca mesmo é reproduzir aqui a lógica de muitos países árabes, onde quem detém o poder político são chefes religiosos radicais. E onde uma leitura equivocada do que representa a fé muçulmana está causando tantos problemas.

Aliás, naqueles países isso se acentuou quando mesquitas e locais de reza foram se multiplicando enquanto fechavam cinemas, escolas, bibliotecas, casas de artes e espetáculos, espaços culturais e de convivência respeitosa das diferenças. Assim começou uma leitura toda própria dos ensinamentos do Alcorão, com interpretação distanciada do que de fato pregava Maomé. Por aqui, não se precisa ser muito observador para ver quantos templos evangélicos estão surgindo em todos os cantos. Por uma enorme “coincidência” também se fecham cinemas e bibliotecas de bairro, se exalta a possibilidade de adoção do homeschooling, exposições são censuradas – vide a Queer Museu, no Santander de Porto Alegre – e educadores magistrais como Paulo Freire são execrados, enquanto se retira verba da educação pública e se valoriza o armamento da população. Todas essas ações contribuem e muito para a propagação do fanatismo e da radicalização, coisas também distantes do que defende Jesus Cristo. E, no seu rastro, ocorrem absurdos como a queima de mendigos nas ruas, o espancamento e assassinato de homossexuais e os massacres de crianças e adolescentes em creches e escolas, tudo sendo facilmente esquecido e naturalizado, num esforço crescente para a normalização do medo, da insegurança. Os “salvadores da pátria” precisam desse clima para se estabelecer.

Mesmo que de modo pontual, há muito estão ocorrendo “eventos-teste” para as agressões futuras, que serão maiores e escancaradas. Em 2022, várias casas de reza das comunidades indígenas Guarani e Kaiowá foram queimadas por evangélicos, no Mato Grosso, fato que resultou em denúncia ao Conselho de Direitos Humanos da ONU, uma vez que o governo federal de então fez vistas grossas e não ofereceu a proteção solicitada pelas vítimas. Também no início do ano passado, eles invadiram na Bahia um terreiro de candomblé – eram 30 homens e estavam armados – e destruíram tudo. Tipo de ação que já ocorreu em vários outros momentos e em diversos pontos do país, inclusive Porto Alegre. No Moradas da Hípica atiraram uma bomba em centro de umbanda. Em março deste ano, no bairro Partenon, outro terreiro foi pichado com ofensas e palavrões. Em Caxias do Sul, em 2020, houve um atacado a tiros.

Nas favelas do Rio de Janeiro, em ação conjunta de pentecostais e grupos de traficantes, foi dado ordem expressa e proibitiva da existência de quaisquer manifestações de crenças de origem afro. Na Baixada Fluminense existe o “Bonde de Jesus”, que invade e destrói terreiros de umbanda e de candomblé, espancando seus seguidores. Isso não lembra um pouco a “Polícia da Moralidade” (Gasht-e Ershad), que pode até mesmo executar mulheres que não usem o hijab (véu islâmico), no Irã? Em 2021 um pastor quebrou imagem de Nossa Senhora Aparecida, na cidade de Santo Antônio da Platina, no Paraná, dizendo ser ela “Satanás vestido de azul”. Duas semanas atrás, fato e palavras idênticas ocorreram em Bastos, no interior de São Paulo. Anos antes já haviam feito isso, com tudo gravado em vídeo e sendo amplamente divulgado. Basta se fazer buscas cuidadosas na internet e se constata que essa intolerância religiosa se multiplica em centenas de casos. Repito: centenas. E há outras ações sub-reptícias, de mão escondida, via pressão.

Agora mesmo, no final de setembro, interessada em frear a perda de audiência que ocorre também pela ação de evangélicos pentecostais, a Rede Globo recusou uma sinopse de novela escrita pela paulista Thelma Guedes, para a faixa das 18 horas. O motivo foi um só: a temática era espírita e, mesmo tendo a novelista se proposto a fazer algumas alterações que a suavizasse, a direção optou por descartar totalmente a ideia. Vamos lembrar que recém terminou outra, desenvolvida dentro do critério da emissora para agradar esse público fanatizado e radical, com a protagonista e seus familiares sendo todos evangélicos, este um dos primeiros acenos feitos pelo plim-plim para esse público.

Enquanto escondem suas reais intenções atrás de coisas que ninguém sabe o que sejam, muitas das quais por de fato nem existirem – tipo aquela “ideologia de gênero”, que não cansam de citar – ninguém fala dos dois pilares sobre os quais se fundamentam as propostas evangélicas. Referem um poder alicerçado na Teologia da Prosperidade (TP), atraindo um público de classes econômicas menos favorecidas, com a promessa de uma nebulosa melhoria na sua condição financeira, um privilégio por serem esses “filhos do Rei”. E também a Teologia do Domínio (TD), na qual a realidade física se junta à realidade espiritual, numa fundamentalista “luta do cristão contra o Diabo”, esse último internamente representado pelos santos católicos e por manifestações religiosas de outros credos que reconhecem a comunicabilidade dos espíritos, como as dos povos originários, as de matriz africana e o próprio espiritismo. Isso sendo assunto privado, sem divulgação fora dos seus meios, como convém a eles nesse momento.

Uma publicação feita pela Folha de São Paulo, ainda em 1996, na qual foi feita comparação entre o que adeptos de diferentes religiões pensavam uns dos outros, mostrou que as maiores “oposições” eram justamente entre espíritas e os seguidores de Edir Macedo e outros “líderes”. Nada menos do que 86% dos evangélicos acusavam de charlatanismo os praticantes do espiritismo. Estes, por sua vez e em índices semelhantes, reconheciam haver exploração de dinheiro e corrupção entre os evangélicos. Essa “animosidade” está esquecida debaixo de interesses. Mas, como o que acontece com brasas não totalmente apagadas, se trata de algo que espera o momento certo para voltar a arder. Basta um sopro. E lembro que projeções do IBGE apontam para uma maioria de pentecostais no Brasil, em no máximo dez anos. O que não seria problema algum, se a fé por eles professada não estivesse comprometida com uma ideia de poder totalitário. Continuem depositando votos errados nas urnas – teremos eleições municipais no próximo ano – e esperem para ver o que vai acontecer em futuro breve.

06.11.2023

Se o Estado deixar de ser laico corremos o risco da imposição da fé única, a exemplo do islamismo radical

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DIVALDO NÃO REPRESENTA A MAIORIA

Apenas as pessoas que não conheciam bem Divaldo Pereira Franco é que foram surpreendidas pelas suas declarações, proferidas no último dia 9 de fevereiro. Integravam palestra que ele ministrou na Mansão do Caminho, em Salvador, tendo se tornado públicas a partir de vídeo que circula nas redes sociais desde a quinta-feira passada, dia 16. O médium diz literalmente que “estamos vendo leis absurdas, prisões estúpidas, sem julgamento. Como é que pegam pessoas na rua, colocam num ônibus e levam para a cadeia?”. Fazia naquele momento referência aos que foram detidos em flagrante, por uma série de crimes cometidos em Brasília, no dia 8 de janeiro. Ainda segundo ele, não se pode acusar essas pessoas de serem terroristas, pois “ninguém estava com revólver, nem faca, nem canivete, nem gilete, nem cortador de unhas”. E não ficou nisso, com ele se superando nas observações que continuou fazendo: “mil e tantas pessoas, crianças de colo, idosos de 80 anos e ninguém se sensibilizou”. Para concluir, disse que “a imprensa nem toca no assunto, porque desagrada patrocinadores”.

Foi um verdadeiro show de desinformação e um desserviço à verdade. Não há absurdo nas leis, com elas apenas sendo agora cumpridas. Não são estúpidas as prisões, que se fizeram mais do que necessárias. O julgamento – e ele faz que não sabe disso – virá apenas depois de todo o rito, que passa pela investigação policial com indiciamento ou não, pela aceitação ou não da denúncia por parte do Ministério Público, para então ser instaurado o processo judicial, no qual será garantida a ampla defesa. Estão presos preventivamente os que representavam maior risco para a ordem pública, muitos dos quais inclusive com antecedentes criminais, enquanto centenas de pessoas terminaram liberadas já nos primeiros dias, com ou sem o uso de tornozeleiras eletrônicas.

Será que devido à idade avançada Divaldo não vê mais televisão, nem acompanha notícias por qualquer outro meio confiável? A violência do grupo golpista foi extrema e o dano aos bens públicos de elevada monta. Não teve esse senhor, lá na Bahia, acesso a quaisquer um entre centenas de vídeos com as cenas, muitos dos quais feitos pelos próprios envolvidos? Onde estão nessas imagens as crianças de colo que ele cita? Idosos que participaram pareciam estar em boas condições tanto físicas quanto de discernimento, não sendo inclusive o grupo mais numeroso apesar de também atuante. Entre esses os octogenários, se existiam, com certeza não somavam o número de dedos de uma mão. Quanto à imprensa, essa foi incansável na cobertura, que se mostrou mais do que adequada e necessária. Mais ainda: para fazer terrorismo ninguém precisa se transformar em um homem-bomba.

O auge da obra de Divaldo junto ao Movimento Espírita foi aquela estrutura que ajudou a construir a partir de 1952, no bairro de Pau da Lima, na capital baiana – eu estive lá uma ocasião, conhecendo tudo de perto. E não fez isso sozinho, tendo sido de fundamental importância a participação de Nilson de Souza Pereira. Mas, o que o notabilizou foram as palestras que passou a fazer em todo o país. Entretanto, quem teve a oportunidade de ver mais de uma – eu vi pessoalmente cinco delas –, e não tinha a sua percepção afetada pela idolatria, já notava duas coisas. Uma, que ele seguia um roteiro cuidadoso, repetindo sempre citações e passagens postas de modo criterioso em momentos pensados, numa retórica calculada e bastante aprimorada, com o passar do tempo. O segundo detalhe é que ele não fazia esforço algum para se expressar em uma linguagem mais popular. Adorava, por exemplo, usar o arcaico pronome pessoal “vós”. Sendo mais direto, ele sempre foi pernóstico. Divaldo jamais teve e jamais conseguiria ter a humildade e a simplicidade de um Chico Xavier, por exemplo.

O que não se pode negar é a sua importância na difusão da doutrina. A notoriedade que ele adquiriu – e da qual sempre gostou bastante – deu uma contribuição importante nesse sentido. Ele arregimentava grande número de pessoas, por onde passava. E isso popularizava ao menos as noções básicas do espiritismo. Nos últimos tempos, entretanto, falava muito mais para os já “iniciados”, não tendo mais aquele poder de trazer público externo. Hoje se mostra um homem que está tendo dificuldades no envelhecimento. Ele não arreda um centímetro das suas posições, que sempre foram conservadoras e que agora parecem estar se aprofundando. Sob o cabelo cuidadosamente pintado, pensamentos que não seriam de modo algum corroborados por Kardec ganham cada vez mais espaço.

O ápice deste modo de pensar, que se revela há tempos como atrasado, talvez tenha sido atingido quando ele recebeu das mãos de Bolsonaro, antes das eleições do ano passado, a Insígnia da Ordem do Rio Branco. Com ela veio o encantamento e ele não se acanhou mais em momento algum no sentido de confirmar seu apoio a um homem que é verdadeira antítese de tudo o que prega a Doutrina Espírita. Kardec, o codificador, sempre defendeu a ciência e repetia que, no dia que essa desmentisse algo defendido nos ensinamentos, eles deveriam ser revistos. O nosso felizmente agora ex-presidente fez de tudo para destruir a educação e a pesquisa em nosso país, sucateando ambas em todos os níveis. Passou todo o período da pandemia incentivando os brasileiros para que não se vacinassem, apesar de agora saber-se que ele se vacinou. E foi o maior responsável pelo absurdo de termos perto de 700 mil desencarnes, com mais da metade desse número sendo evitável. Não pode se declarar cristão quem tenha um torturador como ídolo. Não é cristão quem admite ser racista, homofóbico, misógino, quem manifesta desrespeito com as mulheres, os índios e deficientes, quem imita uma pessoa que está morrendo asfixiada e acha graça disso.

Alan Kardec era um educador amoroso e racional. Ao receber os dados que vinham de médiuns de todo o mundo, com os quais sistematizou a doutrina em seus livros basilares, ele preferia refutar mil verdades do que aceitar o risco de introduzir nos textos uma única mentira. Divaldo virou um disseminador de fake news, como essas que citei na abertura desta crônica, esteja fazendo isso de modo involuntário ou consciente. Parece ter esquecido que um verdadeiro espírita defende o amor e a caridade, não o ódio e o apego ao poder. Defende a paz, não que a população se arme. Jesus Cristo foi o maior exemplo de acolhimento, Bolsonaro causou desagregação. Como agora se vê também dentro do Movimento Espírita, que teve parte dos seus membros cooptados para apoiar algumas práticas diametralmente opostas aos princípios doutrinários.

Sobre as manifestações de Divaldo, ele não fala em nome do Movimento Espírita como um todo. Não recebeu procuração para tanto. Hoje em dia, nem mesmo a Federação Espírita Brasileira consegue fazer isso. Porque o espiritismo no fundo é uma filosofia que defende o livre pensar, que respeita singularidades, que entende a complexidade da existência. Sua organização institucional, para ser integrante do tecido social, se faz necessária. Mas em alguns momentos tem se revelado asfixiante, uma forma de conservar tanto o passado que chega a negar os aspectos da doutrina enquanto proposta progressista, de vanguarda, de responsabilidade com o presente e de visão e compromisso com o futuro. O Movimento Espírita não está num mundo separado, vivendo uma realidade paralela. Ele está inserido no espaço e no tempo presentes, precisando entender e fazer de fato parte disso.

Felizmente nós temos grupos como o EàE (Espíritas à Esquerda), já organizado em 17 estados brasileiros e com encontros promovidos em âmbito nacional. E ainda, entre outros, existem a Associação Brasileira Espírita de Direitos Humanos e Cultura de Paz, o Coletivo de Estudos Espiritismo e Justiça Social, o Centro de Pesquisa e Documentação Espírita, o Espíritas Progressistas, o Coletivo Girassóis – Espíritas pelo Bem Comum, além da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita. Essa última mantém a Universidade Livre Pampédia, que oferece o curso de Pós-Graduação em Pedagogia Espírita. Ou seja, o movimento já possui estrutura sólida e legítima, reunindo quem não abre mão de ser mantido o braço da preocupação e das atribuições sociais, como algo além da também necessária caridade material. Vários desses grupos divulgaram manifestos contra o voto em Bolsonaro, no ano passado. Pesquisas feitas por institutos sérios demonstraram que no último pleito, ao contrário do anterior, a votação dos espíritas majoritariamente (67%) não foi dada para ele. Ou seja, na pior das hipóteses se pode afirmar que Divaldo não representa a maioria. E, depois desse último fato, mais contestações surgiram, também fora do âmbito religioso e na imprensa em geral.

Não se pode mais permitir a manipulação da realidade. Nem a proposital confusão do que sejam a Doutrina Espírita e o Movimento Espírita, que são coisas totalmente diferentes. A primeira segue irretocável; o segundo merece passar por uma revisão e uma depuração urgentes. Para concluir e voltando a falar de Divaldo, todo o nosso agradecimento a ele pelo seu passado. Mas é triste vermos a senilidade de um homem que tinha tudo para ser um líder respeitado, mas que agora se acomodou em postura muito menor, de um simples pastor. No mau sentido desta palavra.

24.02.2023

O Movimento Espírita sempre foi conservador, ao contrário da Doutrina Espírita. Essa é progressista por excelência (Importante: a ilustração acima nos mostra Alan Kardec e não Divaldo Pereira Franco)

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