MAIS UM GRENAL NA MINHA VIDA

Peço desculpas aos meus leitores e minhas leitoras que não gostam de futebol. Ou que preferem que eu não escreva sobre isso. Também me desculpo especialmente com os colorados. Mas, tenho que contar que estive na Arena ontem à noite, assistindo ao 24º Grenal disputado nas suas dependências – até agora, com nove vitórias do Grêmio (três delas por goleada) e duas do Internacional. Relato também que voltei feliz com o empate em 1×1, com gols de Braithwaite (G) e Fernando (I), uma vez que na realidade nós deveríamos ter perdido. Então, disfarçadamente ou nem tanto, vou preferir abordar outros clássicos que presenciei ao longo da vida.

O primeiro que eu fui ver em estádios foi no início dos anos 1970. Ou seja, cinco décadas atrás. Claro que passei muitos anos morando no interior e, naquele período, vinha mais raramente ver o jogo. Entretanto, em várias temporadas estive em todos eles, no Olímpico, no território adversário e agora, mais recentemente, na Arena. Nesta última, apenas uma vez eu não compareci, por estar em São Paulo. Todos os demais 23 contaram com minha presença, desde o primeiro, no dia 4 de agosto de 2013. Foi 1×1 como ontem, com gols de Barcos (G) e Leandro Damião (I). Assim, no total foram muitas dezenas deles.

Minha estreia foi no Beira-Rio, no dia 11 de novembro de 1973. Era jogo válido pelo Campeonato Brasileiro daquele ano e terminou empatado em 1×1. Valdomiro (I) abriu o marcador no primeiro minuto da etapa inicial e Mazinho (G) igualou no último minuto do segundo tempo. Ou seja, tudo começou com fortes emoções. Os donos da casa estiveram em campo com Schneider; Édson Madureira, Figueroa, Pontes e Vacaria; Falcão, Carpegiani e Escurinho; Valdomiro, Claudiomiro e Volmir. Entraram os atletas Borjão e Dejair. Os visitantes atuaram com Picasso; Cláudio Radar, Ancheta, Beto e Tabajara; Yura, Carlos Alberto e Humberto Ramos; Tarciso, Mazinho e Loivo. Entraram Paulo Sérgio e Carlinhos. Treinavam Dino Sani (I) e Carlos Froner (G). E o árbitro foi Romualdo Arppi Filho.

“Na parede da memória”, como escreveu Belchior na fantástica canção Como Nossos Pais, há alguns momentos especiais, ao longo de todo este tempo. Como os 4×0 aplicados no Inter em pleno Beira-Rio, no dia 6 de novembro de 1977, com dois gols de Yura, um de Tadeu Ricci e outro de Tarciso. Os colorados estavam em campo com grandes jogadores, como o goleiro Benitez, da seleção paraguaia, Batista, Falcão, o sempre perigoso Escurinho, Jair e Valdomiro. E estavam estreando um uniforme novo, com um vermelho mais escuro em camisetas, calções e meias. Era a reprodução do usado pelo Bayern Munique, também atendido pela Adidas. Devido ao resultado as vendas foram um enorme fracasso, com ele sendo abandonado em curto espaço de tempo. Ficou maldito.

No Grenal seguinte, também ocorrido no Beira-Rio, vitória do Grêmio por 3×2 de virada. Lúcio e Falcão (I), André Catimba, Ladinho e Eder (G) fizeram os gols. O último foi aos 42 da segunda etapa, numa cobrança de falta de tão longe que o ponteiro gremista tomou distância no nosso campo de jogo. Gritei tanto que literalmente perdi totalmente a voz. Foi tão sério que precisei receber atendimento para recuperar a capacidade de falar, o que demorou um bom tempo – como sempre falei demais, para muita gente a melhora deve ter sido um mau negócio.

Agora, se eu tivesse que escolher os dois melhores momentos, ficaria com o jogo do título de 1977, no Olímpico, e com os 5×0 aplicados na Arena em 2015. Naquele primeiro era a decisão do Estadual, com o Internacional buscando ser eneacampeão. Vínhamos de oito anos seguidos como vice – o que não acontece na atual disputa, por este novo octa, que agora se vier estará do lado oposto da força. Nos sete títulos já acumulados pelo Grêmio, entre 2018 e 2024, apenas três tiveram o Internacional na decisão: Brasil (Pelotas), Ypiranga (Erechim) e a dupla caxiense, Juventude e Caxias, foram os outros finalistas derrotados.

Pois bem: em 25 de setembro de 1977 terminou o suplício. Com o gol marcado por André Catimba, que se lesionou seriamente ao tentar um salto mortal na comemoração, o Grêmio voltava a ser campeão gaúcho. Terminava o longo e tenebroso inverno. Corbo; Eurico, Cassiá, Oberdan e Ladinho; Victor Hugo, Tadeu Ricci e Yura (Vilson); Tarciso, André Catimba (Alcindo) e Éder nos restituíram a glória. Eram treinados pelo mestre Telê Santana. O Internacional se retirou de campo antes do final do jogo e tivemos que esperar 30 minutos para ele ser encerrado, com a vitória de 1×0. Luiz Torres era o juiz, na ocasião.

Agora os 5×0 alcançados em 9 de agosto de 2015 repetira o placar de 105 anos antes (07.07.1910). Isso demonstra a grandeza do feito, que pude presenciar. Aliás, cinco ou mais de diferença a favor do tricolor só aconteceram sete vezes nestes mais de cem anos, desde o primeiro que foi jogado, em 18.07.1909 (Grêmio 10×0 Internacional). Estavam na Arena 46.010 pessoas, com a maioria vibrando com os gols de Giuliano, Luan (duas vezes), Fernandinho e Réver contra. Os goleiros em campo eram os ótimos Marcelo Grohe e Alisson, colorado que até hoje brilha na Seleção Brasileira. Entre os azuis desfilaram Maicon, Douglas – que chegou a perder um pênalti antes do placar ser aberto –, Geromel, Pedro Rocha e outros. O zagueiro Juan e o craque Alex estavam de camisa vermelha. Valeu muito mesmo ter ficado mais de uma hora preso no trânsito na hora de ir embora. A grandeza daquele resultado só é superada pela do clássico em si. Não é à toa que esta é a maior de todas as rivalidades futebolísticas do nosso país.

Passados tanto o susto quanto as emoções de ontem, agora é esperar pelos próximos confrontos. Claro que torcendo por desempenho melhor e um placar favorável ao Grêmio. E preparado para continuar, venham eles ou não. Afinal, “Grenal é Grenal”, expressão criada pelo ex-governador gaúcho Ildo Meneghetti, que foi patrono do Internacional.

09.02.2025

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O bônus de hoje é a um clipe com a música Porto Alegre é Demais, de Isabela Fogaça. Na letra ela cita a espera que antecede a disputa de um clássico Grenal.