Ao menos aqui no Brasil, o uso do termo “coach” é relativamente novo. E passou a ser adotado porque parece soar muito melhor, para os ouvidos colonizados, do que dizer instrutor. Morei em cidades pequenas onde os empresários locais ficavam em frenesi quando aparecia uma pretensa autoridade em qualquer assunto, disposta a ensinar a todos eles alguns métodos para que maior eficiência fosse alcançada e a rentabilidade dos seus negócios fosse multiplicada. Algumas vezes até davam resultados práticos, que em geral eram temporários, pois os procedimentos não se consolidavam na cultura local. Não eram remédios reais, mas placebos. Exceto, evidente, o custo em geral nada barato de quem vinha vender as ideias “inovadoras e revolucionárias”. Esses custos eram verdadeiros. Ou seja, aumentava o lucro, sim: dos visitantes.

Como expliquei indiretamente acima, se o termo é novo esta pretensiosa função não é de hoje que existe. Passadas algumas décadas, deve estar mais difícil para estes vendedores de ilusão convencerem as pessoas a adquirir o acesso fácil ao seu conhecimento sem igual. Não porque eles estejam menos hábeis na tarefa de vender, mas porque a Internet se tornou uma concorrente de peso. Tentem fazer uma pesquisa, buscando ajuda para que se atinjam objetivos pessoais e profissionais. Graças aos algoritmos, você não apenas terá indicações no momento, como também estará recebendo dicas por dias e dias a fio.

Evidente – e não sou tão estúpido a ponto de negar isso – que mudar os padrões comportamentais e emocionais, quando estes não estão bem, tende a alterar de um modo significativo a vida das pessoas. Seja isso no âmbito pessoal, familiar ou do seu trabalho. E claro que em muitos dos casos, talvez mesmo na maioria deles, ajuda externa é relevante. Ou até mesmo imprescindível, inúmeras vezes. O que afirmo é que estes cursos curtos, que se apresentam como milagrosos, mirabolantes, têm tudo para não ser uma solução. O que vale para o indivíduo, como também para os grupos.

Sem dúvida, existem muitas pessoas sérias fazendo isso. Quem tenha passado por alguma formação minimamente adequada. Mas, é inegável que o número daqueles não preparados é bem maior. Existe quem jamais tenha sequer estado por perto de uma faculdade de administração, que desconheça quem foram aqueles que embasaram suas diferentes teorias, querendo ensinar como devem agir administradores. Quem jamais tenha frequentado semestre algum de psicologia, sugerindo métodos fáceis de uma suposta adequação comportamental.

Um dos maiores perigos está na tendência de ser colocada sobre o indivíduo a responsabilidade única sobre ter ou não sucesso. Se ele tem a oportunidade e está tendo o preparo, se falhar a culpa é inteiramente dele. Em geral as fórmulas mágicas ignoram influências do ambiente, a existência de outros envolvidos nos processos, assim como toda e quaisquer circunstâncias pessoais ou temporais. Deste modo, ao invés de serem ao final formadoras de vitoriosos, passam a apontar supostos fracassados. Criam insegurança, desequilíbrio e doença.

Enfim, receber orientação e auxílio pode ser muito positivo. Entretanto, será sempre imprescindível que toda e qualquer orientação seja filtrada, seja examinada à luz da razão. O que se faz, de modo amador, buscando a proximidade com amigos, familiares e nossos pares. E, quando de modo profissional, sabendo o quanto esta pessoa está de fato preparada para nos orientar. O quanto está disposta para tanto e se as propostas estão adequadas ao nosso momento e real necessidade. Fechar olhos e ouvidos não é inteligente; abri-los sem critérios também não.

03.03.2025

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O bônus de hoje é o áudio de Que Trabalho é Esse?, do sambista Paulinho da Viola.