ALPHAVILLE E A “MACONHA GOURMETIZADA”
Em um momento no qual estão discutindo no Congresso Nacional uma alteração na legislação existente, permitindo que passe a ser criminalizada a posse de qualquer quantidade de droga ilícita, de tal forma que se equipare o consumidor com o traficante, fico muito curioso para saber como serão tratados, por exemplo, aqueles participantes das chamadas “baladas de elite” que ocorrem em São Paulo – e claro que não apenas lá. A lei, sendo aprovada, vai tratar todos esses do mesmo modo que trata agora os que traficam na periferia e os consumidores da classe média, sempre mais expostos? Ou seguirá apanhando com seus braços apenas quem vende e compra nas ruas, sem chegar nem perto de quem faz isso dentro de condomínios de luxo?
Festas privadas em áreas nobres da capital paulista, como Itaim Bibi e do mesmo modo Alphaville, estão inclusive disponibilizando, nos últimos tempos, o que vem sendo chamado de “maconha dos playboys”, com cada cigarro sendo ofertado por até R$ 500,00. Ele é obtido através da potencialização da erva em laboratório, a partir do haxixe. Mas, apenas em grupos restritos de WhatsApp ela é encontrada, com entregadores vindos de moto até o interior destes muros protegidos pelo imenso poder econômico e pela impunidade de sempre. As investigações policiais já detectaram isso, sem que até agora o combate tenha conseguido ser de fato efetivo. Afinal, a clientela é composta por advogados, médicos, arquitetos, empresários e seus filhos, todos “pessoas de bem”, por si só totalmente insuspeitas.
O máximo que conseguiu a DISE – Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes, até agora, foi fechar um laboratório onde a droga vinha sendo produzida, em Carapicuíba, na Grande São Paulo. E no total três suspeitos já foram detidos. Entretanto, é do seu conhecimento que em outros locais a produção segue ativa, estimulada pela alta lucratividade. Mesmo se compreendendo ser difícil comparar, em função de que essa droga nova tem muito menor escala, foram apenas quatro apreensões em 2022 e cinco em 2023.
O que torna essa maconha mais potente é a alta concentração que ela apresenta de THC, a substância psicoativa da cannabis. Gourmetizada, ela tem um cardápio encontrado nos mesmos grupos de mensagens privadas e em aplicativos, para vários gostos, com variações na textura e até no sabor, com o acréscimo de essências. Como exemplo existe a “dry marroquino”, de cor escura e enrolada em papel fino para consumo em forma de cigarro. E a “ice”, que vem em forma de pedra, semelhante ao crack; além da “meleca”, que é pastosa. Vejam que é muito fácil para a imprensa levantar tudo isso. Do mesmo modo, não falta informação para a polícia. Difícil é colocar as mãos em alguém “alphavillado”.
Conforme antecipei no primeiro parágrafo, na última quarta-feira, dia 12 de junho, a CCJ – Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, aprovou a Proposta de Emenda à Constituição que levava o número 45/2023, com 47 votos a favor e 17 contrários. E anteontem, dia 14, a CCP – Coordenação de Comissões Permanentes, já recebeu o parecer para publicação. Provavelmente em breve estaremos diante de outra lei que vai alcançar os mesmos de sempre, com maior severidade. Mas que terá a mesma dificuldade em ultrapassar barreiras socioeconômicas.
16.06.2024
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