MUSK E A SOBERANIA BRASILEIRA

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a inclusão do bilionário Elon Reeve Musk, natural de Pretória na África do Sul e naturalizado estadunidense, como mais um dos nomes no inquérito que apura a atuação das milícias digitais em nosso país. A investigação mira grupos que atentaram e seguem atentando contra a democracia brasileira. Essa decisão foi tomada devido ao fato do atual dono do X, novo nome do antigo Twitter, ter simplesmente anunciado que não iria cumprir determinações judiciais e estaria disposto a reativar uma série de perfis suspensos por prática criminosa.

O despacho ordena que a empresa se abstenha da desobediência, sob pena de multa diária de R$ 100 mil por conta que seja tornada outra vez operacional, sem que isso a livre de consequências legais outras. Em seu despacho, o ministro afirma que o empresário iniciou, no sábado 6, “uma campanha de desinformação sobre a atuação do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral”. No texto, Moraes ressalta que Musk praticou, em tese, uma “dolosa instrumentalização criminosa” da rede social. Esta prática, reforça o ministro, prosseguiu também no domingo e ocorre de forma sistemática, com notícias fraudulentas sendo espalhadas. Por isso teria determinado a investigação por obstrução à justiça, organização criminosa e incitação ao crime.

A reação do estrangeiro, como um menino mimado que é repreendido, foi dizer que estava sofrendo censura. E que seria um absurdo ter que desativar as contas suspeitas de espalhar desinformação, uma vez que isso afetaria as receitas de sua empresa no Brasil. Como se nosso país estivesse abaixo dos seus interesses pessoais. Com o recrudescimento dos ataques, o advogado-geral da União, Jorge Messias – não confundir, devido ao nome –, declarou ser “urgente regulamentar as redes sociais”. Algo que está sendo feito em diversos países da Europa, por exemplo. Tal medida se faz necessária para que a virtualidade não se torne terra de ninguém. Na opinião dele, “não podemos mais conviver em uma sociedade em que bilionários com domicílio no exterior tenham controle de redes sociais e se coloquem em condições de violar o Estado de Direito, descumprindo ordens judiciais e ameaçando nossas autoridades. A Paz Social é inegociável”.

No seu esperneio, Musk sugeriu que Moraes renunciasse ou sofresse impeachment. E deputados federais eleitos pela extrema-direita não perderam a oportunidade de repercutir este desejo inoportuno, ilegal e impróprio, prestando a ele homenagem no Congresso. Mas, nenhum dos “defensores da família e dos bons costumes” comentou a reportagem recente do Wall Street Journal, um dos principais dos EUA. Segundo a matéria, a conduta do empresário durante suas “atividades recreativas” está trazendo enorme preocupação entre os executivos das suas várias empresas – como Tesla e SpaceX – e os acionistas. Isso porque cresce seu uso de drogas como ketamina, cocaína, LSD e alucinógenos. O costume não é de hoje, mas tem se agravado. Ainda em 2018 esse fato teria preocupado até mesmo a NASA, com quem mantém contratos. Festas com liberação de drogas e imposição de acordos de confidencialidade e restrição ao uso de celulares, são cada vez mais frequentes. E ele já se apresentou no ambiente de trabalho de tal forma transtornado que não foi possível a continuidade de reuniões.

Na opinião de Musk – mesmo quando sóbrio – é dever da democracia garantir que aqueles que dispõem de meios possam mentir livremente, destruir reputações, alavancar candidaturas sórdidas, semear discórdia, difundir negacionismo e trabalhar para o crescimento da desigualdade social. Tudo, evidentemente, lhes garantindo rigorosa impunidade. Ele acha que a lei precisa ser para aqueles que não são como ele. E que a sua casta deve estar sempre acima de qualquer texto legal. Acredita piamente que a ralé aqui do Terceiro Mundo deve continuar explorada e subdesenvolvida. Ele tem certeza que nos cabe no máximo as migalhas que caem da mesa dos incensados. Acha que se falar em coisas como direitos e regulações é inaceitável. Entende que limites para ele devem ser aqueles estabelecidos pelas naves da sua empresa espacial.

É esse o tipo de pessoa que desrespeita a soberania brasileira. E que, mesmo assim, consegue o aplauso de alguns brasileiros desinformados ou mal-intencionados. Em 2020 ele dera apoio para a derrubada de Evo Morales, presidente eleito da Bolívia. Fez isso para garantir suprimento de lítio para as baterias dos carros elétricos que fabrica, em abundância e preços baixos. O deserto de Uyuni, naquele país, abriga 50% de todo o lítio existente no planeta. Criticado, disse com todas as letras: “daremos golpe onde quisermos”. É o que claramente pretende que aconteça também aqui no Brasil. O que, evidentemente, não se pode permitir.

11.04.2024

Xandão versus Musk

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O bônus de hoje é a música Aquarela do Brasil, de Ary Barroso, na voz de Emílio Santiago. Ela é considerada uma das maiores expressões do que se convencionou chamar de “samba-exaltação”. E foi escolhida para que nos lembremos que a nossa brasilidade precisa ser valorizada.

A DESONERAÇÃO DA FOLHA É INCONVENIENTE

A desoneração da folha de pagamentos, apontada por empresários como uma questão primordial para a geração de empregos em nosso país, se tornou assunto repetido nos meios de comunicação, como um mantra. E não se viu ninguém na imprensa buscando números que comprovassem ou desmentissem essa afirmação. O que, a bem da verdade, apenas se trata da repetição do comportamento atual de boa parte de jornalistas profissionais, que parecem ter se esquecido da necessidade de apuração daquilo que chega até as redações, antes da divulgação ser feita para o público. Por exemplo: onde se viu publicado que um estudo do Ipea (*) comprovou que entre 2012 e 2022 esses setores desonerados ao invés de criarem novas vagas as reduziram em 13%? Foram nada menos do que 960 mil postos de trabalho fechados. Raros órgãos de imprensa fizeram isso, mesmo o estudo estando disponível para acesso em qualquer pesquisa simples e rápida, tendo o instituto credibilidade o suficiente para ser citado.

A desoneração começou ainda no ano de 2011, no primeiro governo de Dilma Rousseff, através da Lei 12.546, com seu caráter temporário sendo depois alterado por nada menos do que treze outros atos legais, ao longo do tempo. O seu objetivo inicial era atender especificamente os setores de tecnologia da informação e da comunicação, que enfrentavam problemas sérios para com a concorrência externa e precisavam de capitalização para desenvolvimento. Aos poucos foram sendo incluídos outros setores da economia, sempre em função de lobbies estabelecidos junto aos deputados federais, chegando a 17 no total. Entraram na lista construção civil, confecções e vestuário, proteína animal, fabricantes de veículos e carrocerias, transporte rodoviário de cargas e até coisas bem estranhas, como empresas de call center, esse pessoal que fica ligando para todos nós em momentos mais do que inoportunos, oferecendo todo tipo de serviço.

Desonerar significa liberar da obrigação de um encargo. Neste caso específico, retirar das empresas a necessidade de que contribuam para a manutenção do sistema previdenciário. Mas, isso “quebra” uma das três pernas sobre as quais tal estrutura foi historicamente montada, pois a manutenção do sistema prevê que patrões, empregados e governo se responsabilizem por parcelas. Então, todo o ônus passa a recair sobre apenas dois dos três lados anteriores. Isso acontece porque este sistema diferenciado de contribuição permite que a empresa recolha não mais os 20% tradicionais sobre a folha de pagamentos, mas apenas alíquotas que variam entre 1% e 4,5% da sua receita bruta, o que não é de modo algum a mesma coisa. Cálculos realistas apontam que essa aparente simples alteração reduz em cerca de R$ 18 bilhões o recolhimento final. Assim, faltam recursos para atender justamente a classe trabalhadora, tanto na garantia das aposentadorias futuras como para o financiamento de serviços públicos dos quais ela necessita, uma vez que o governo tem que arcar com valores maiores nos orçamentos e fica com menos para obras de infraestrutura, saúde e educação. O que a desoneração da folha de pagamentos tem conseguido fazer é deslocar recursos públicos para apropriação privada.

A Lei 14.784/23 fixou um novo prazo para a validade dessa benesse desnecessária. Será 31 de dezembro de 2027. Essa medida, além de atender quem dela na verdade não precisa, é também uma forma da oposição “desidratar” o Governo Lula, retirando recursos que lhes são necessários para que as promessas de campanha e a recolocação do país num patamar mais justo de desenvolvimento possam se tornar realidade. Restou ao presidente vetar o projeto, o que gerou impasse e desgaste, outra coisa que agrada à oposição, que esfrega as mãos de contentamento. Ele então foi promulgado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. A saída do Executivo foi a edição de uma medida provisória que prevê a reoneração gradual da folha. Mais do que isso, seu texto limitou compensações tributárias decorrentes de decisões judiciais e retomou a tributação do setor de eventos.

Como os grandes meios de comunicação também estão na relação dos que são beneficiados, o que ocorre é o silêncio determinado ou a notícia propositalmente distorcida. Essa última faz com que uma boa parcela da população, que na verdade é prejudicada com isso, se una aos que lucram de fato, aplaudindo a decisão. O que não é inédito, sendo um recurso que a extrema-direita utiliza com naturalidade e competência em quase todos os temas que defende.

14.01.2024

(*) Ipea é a sigla de Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, uma fundação pública federal vinculada ao Ministério do Planejamento e Orçamento, que foi criada ainda em 1964. Trata-se de uma estrutura de apoio ao Estado, atendendo todos os governos, independente de suas inclinações ideológicas. E tem técnicos de alta competência e prestígio nos seus quadros.

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O bônus de hoje duplo: A Cidade, com Chico Science & Nação Zumbi, na abertura; e A Novidade, de Gilberto Gil com Os Paralamas do Sucesso, logo depois.