O TRATOR ENTERRADO NO CANINDÉ
Não há cidade no mundo que não possua suas lendas urbanas. Algumas são muito interessantes e tão verossímeis que se passa a acreditar nelas piamente. Existem outras que confessam na sua própria estrutura narrativa se tratarem de inverdades absolutas. E fecha o grupo as que oscilam entre a certeza e a impossibilidade. Talvez nesse último esteja uma que sempre me chamou a atenção, até porque sou fã incondicional de futebol. Dizem que, ao final da construção da última etapa do Estádio Oswaldo Teixeira Duarte, conhecido como Estádio do Canindé, por estar em bairro que tem este nome, um trator teria ficado no seu interior. E que só então se deram conta de que não havia como retirá-lo, por não passar pelos portões de acesso. A solução teria sido enterrar o equipamento embaixo do campo de jogo.
Pertencente à Associação Portuguesa de Desportos, na minha opinião o clube mais simpático entre todos os da capital paulista, a primeira fase da obra foi inaugurada no dia 11 de janeiro de 1956. O terreno fora adquirido do São Paulo Futebol Clube, nele já existindo um campo de treinamento, um restaurante e vestiários. De início foi feito apenas um alambrado e colocadas arquibancadas provisórias de madeira, para que pudesse a Portuguesa participar de competições da Federação Paulista de Futebol. Em virtude disso, a maledicência alheia apelidou o estádio de “Ilha da Madeira”. O jogo inaugural foi contra um combinado formado por Palmeiras e São Paulo, que foi batido por 3×2.
O bem mais majestoso Canindé terminou sendo construído aos poucos. Quando o primeiro estágio das obras estava concluído ele foi batizado de Estádio Independência. Em 1972 o primeiro anel ficou pronto, usado pela primeira vez em amistoso contra o Benfica, de Lisboa. No ano seguinte iniciaram as obras do segundo anel, com cadeiras numeradas e cabines de imprensa. E em 1981 inauguraram refletores, com a ajuda do Banco Itaú, em torneio do qual participaram Sporting, Corinthians e Fluminense. O nome do ex-presidente Teixeira Duarte foi oficialmente dado em 1984.
Voltando à história do trator, ela foi difundida muito mais por se tratarem diretoria e torcida do clube majoritariamente formadas por portugueses. E esses eram figuras presentes na maioria do anedotário nacional criado. Era fácil atribuir falta de inteligência ao grupo, mesmo sendo um absurdo tal associação – o que é feito ao contrário em Portugal até hoje, onde os brasileiros passam por pessoas de poucas luzes. Enfim, não adiantou nada arquitetos que trabalharam na construção terem desmentido o fato com veemência. Até porque o ex-vice-presidente de comunicações da Portuguesa, Carlos Ferreira, em uma entrevista afirmou que seu pai, que participara da construção do estádio, admitiu que a história fora apenas ampliada. Teria contado que não foi um trator, mas sim “uma peça de retroescavadeira que ficou no local”. Pronto: os rivais passaram a ter aval para o que afirmavam.
Lembrei da história atribuída à Portuguesa porque ontem foi revelado um fato igualmente surpreendente. O governo suíço adquiriu por um valor equivalente a R$ 550 milhões um jato VIP Bombardier Global 7500, que é produzido no Canadá. Ele foi projetado para percorrer distâncias muito grandes, com autonomia para 14.260 quilômetros. Pois, quando o avião chegou em Berna, dias atrás, se deram conta de que o comprimento da pista não é suficiente para permitir que ele decole com o carregamento de combustível completo. A meticulosidade e perfeição atribuída aos suíços foi desmentida: ninguém pensou ou se deu conta disso antes e a aquisição foi de uma aeronave cara e inadequada. Entretanto, eles com certeza não vão enterrá-la sob a pista.
16.02.2025

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje começa com uma versão roqueira (apenas música, sem a letra) do mais recente Hino da Portuguesa, Vamos à Luta, que foi composto por Roberto Leal e Márcia Lúcia. São Daniel de Sá na bateria, Edi Rock e Rex Leff na guitarra e Anderson Carlucci no baixo. Havia outro hino, mais antigo, de Archimedes Messina e Carlos Leite Guerra. Depois, temos uma animação usada pela Seleção Portuguesa de Futebol antes da Copa de 2018, realizada na Rússia. Traz uma música motivacional para a torcida, como também se costuma fazer no Brasil. A campanha de Portugal foi a seguinte: 3×3 Espanha, 1×0 Marrocos, 1×1 Irã, na fase de grupos; sendo eliminada pelo Uruguai nas oitavas, pelo placar 2×1, dois gols de Cavani.