Página 3 de 3

O SUBMUNDO DAS BETS

Você realmente acredita que “fazer uma fezinha” no resultado ou em outros eventos de um jogo de futebol é algo inocente, que pode até mesmo lhe render uns trocados sem fazer mal a ninguém? Nem sequer desconfiou do que pode estar por trás de tanta “bet” surgindo toda semana? Vamos começar contando sobre a origem deste nome, antes de explicar um pouquinho mais sobre o que pode estar ocorrendo nas sombras deste fenômeno relativamente recente.

O termo “bet” foi mais uma apropriação que se faz do inglês, muitas das vezes de forma desnecessária. “I bet” significa, traduzindo literalmente, “eu aposto”. Se bem que lá nos Estados Unidos a expressão é usada também como uma espécie de gíria, não significando realmente que a pessoa queira apostar em alguma coisa. Pode ser, por exemplo, apenas uma concordância. No primeiro caso posso citar a frase I bet our team will win the game (Aposto que nosso time vai ganhar o jogo); no segundo seria algo como I bet you like him (Aposto que você gosta dele). Esse último significaria algo como “tenho certeza”, sendo essa fala a expressão de uma verdade sincera ou mesmo de algo irônico.

Por aqui, essa epidemia de bets é pura incerteza. Ou nem tanto assim, porque basta abrir os olhos e temos muito o que enxergar. Imagino que ainda não tenha caído no esquecimento, apesar de ter praticamente sumido das manchetes, o caso de jogadores que eram aliciados para, por exemplo, serem “agraciados” com cartões amarelos ou até mesmo para cometer pênaltis nas partidas. Grupos criminosos apostavam que isso iria ocorrer e ganhavam muito mais do que pagavam para estes atletas. Tivemos algumas punições bastante rigorosas e, essa semana mesmo, a FIFA tornou as decisões válidas para além das fronteiras do Brasil. Mas, esse crime é café pequeno perto de tudo o mais que pode ser feito. E era externo às organizações que controlam essas casas de apostas.

Vejamos algo muito maior, que paira sobre este mundo. Isso inclui até mesmo a mudança do comando do Ministério do Esporte, que foi feita dias atrás. Saiu a atleta Ana Moser, do voleibol, que integrava a cota pessoal de indicações do próprio presidente Lula e entrou no seu lugar um médico do interior do Maranhão, de nome André Fufuca. Esse é ligado ao presidente da Câmara, Arthur Lira, sendo que a troca teria sido feita para assegurar maior governabilidade, uma vez que o Governo Federal sofre as consequências de não ter maioria no Congresso. Só que uma das exigências do Partido Progressista foi a ampliação da verba disponível e, ainda mais importante, das atribuições. Deverá caber à pasta definir coisas como o controle sobre sites de apostas e a liberação de cassinos.

Os “atletas” do Centrão estão de olho na cobrança de licenças para a operação das bets, que será algo como R$ 30 milhões de cada uma, a título de outorga. E também sobre as taxas, que ficarão em torno de 18% sobre os valores das apostas. A previsão é de uma arrecadação de perto de R$ 12 bilhões por ano. Como não existem critérios objetivos para a definição do que se faz necessário para uma casa de apostas receber autorização de funcionamento, isso abre um leque enorme para o tráfico de influência e para a cobrança de “pedágios”. Mesmo assim, existe um risco ainda maior: que essas estruturas sejam usadas para a lavagem de dinheiro. Saímos então das conjecturas quanto ao futuro e passamos a examinar uma situação presente. Isso porque já recai suspeita sobre bets atualmente, com algumas podendo estar envolvidas na legalização de recursos vindos do crime organizado, do tráfico de drogas e das milícias.

Uma CPI chegou a ser instalada, em meados de junho, para investigar as bets. Entretanto, ela rapidamente foi esvaziada e caiu em descrédito. O relator escolhido foi Filipe Carreras, outro deputado muito próximo de Arthur Lira e sócio de uma produtora que é patrocinada por sites de apostas. Assim é difícil de acreditar que exista qualquer chance de a farra ser controlada. Aliás, o presidente da Câmara tem se manifestado, nem tanto assim na surdina, dizendo que pretende levar as coisas ainda mais longe, negociando liberações também para bingos e o jogo do bicho. Enquanto isso, as pessoas colocam seus “pilas” em uma ou mais das bets do momento, ingenuamente acreditando que tudo não passa de uma diversão. Pode até ser, mas quem se diverte mesmo está neste submundo e não na superfície.

15.09.2023

Se você gostou desta crônica, garanta a continuidade do blog com uma doação. Isso ajudará a cobrir custos com sua manutenção. Faça isso usando a Chave PIX virtualidades.blog@gmail.com (qualquer valor ajuda muito) ou o formulário existente abaixo. São duas alternativas distintas para que você possa optar por uma delas e decidir com quanto quer ou pode participar, não precisando ser com os valores sugeridos. Toda contribuição é bem-vinda. No caso do formulário, a confirmação se dá depois das escolhas, no botão “Faça uma Doação”.

Uma vez
Mensal
Anualmente

FORMULÁRIO PARA DOAÇÕES

Selecione sua opção, com a periodicidade (acima) e algum dos quatro botões de valores (abaixo). Depois, confirme no botão inferior, que assumirá a cor verde.

Faça uma doação mensal

Faça uma doação anual

Escolha um valor

R$10,00
R$20,00
R$30,00
R$15,00
R$20,00
R$25,00
R$150,00
R$200,00
R$250,00

Ou insira uma quantia personalizada

R$

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmente

O bônus de hoje é o samba Bebeto Loteria, com o grupo carioca Fundo de Quintal. Ele surgiu a partir de rodas de samba do bloco carnavalesco Cacique de Ramos, tendo sido criado por Bira Presidente, Ubirany e Sereno.