O LIVRO QUE ME ESCREVEU
Sábado, 14 de junho. Durante a manhã acompanhei as duas primeiras mesas que ocorreram após a abertura oficial da 4ª Feira do Livro de São Paulo, realizada na Praça Charles Miller, junto ao estádio do Pacaembu. A primeira delas, no Auditório Armando Nogueira, tratou de História e Colonialismo. Como convidados comparecem a escritora portuguesa Lídia Jorge; Mário Lúcio, um cabo-verdiano que é pintor, poeta, político e cantautor (*); e Fernando Rosas, historiador, professor e político natural de Lisboa. O tema dos três são as cinco décadas de descolonização de Cabo Verde, Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. A segunda logo após, desta feita no Palco Petrobrás, com o título Um Milhão de Ruas, reúne dois cronistas para conversa com o público sobre a prosa que se escreve nas vias paulistanas. Os convidados eram Fabrício Corsaletti, contista e romancista nascido na pequena Santo Anastácio – município com cerca de 18 mil habitantes –, que está na capital paulista há quase 30 anos, onde cursou Letras na USP; e Ricardo Terto, produtor, roteirista e editor de podcasts. Escreveu os livros Marmitas frias (2017), Os dias antes de nenhum (2019) e Quem é essa gente toda aqui? (2020).
A manhã que começou levemente fria foi se aquecendo em virtude do ambiente, da companhia e do conhecimento compartilhado. Com Mário Lúcio ainda tive a oportunidade de uma conversa breve, ganhando uma dedicatória no livro que também foi presente. A obra tem orelha assinada por Chico César, cantor, compositor, jornalista e escritor paraibano; e prefácio de Pilar del Rio, jornalista, escritora e tradutora espanhola, viúva do escritor português José Saramago. O autor é formado em Direito, foi membro do Parlamento cabo-verdiano, embaixador cultural do seu país e Ministro da Cultura, entre 2011 e 2016. O livro que me escreveu é uma novela que conta a história de um homem que é diagnosticado com uma doença cardíaca grave e que, em função disso, decide escrever o livro de sua vida, usando literalmente o coração. Só que isso leva trinta anos, nos quais ele e sua esposa vivem a crédito, com a esperança de que a publicação lhes renda valores suficientes para pagarem suas dívidas.
A história é cativante, na medida em que aborda temas fundamentais, como perseverança, a força da união nas adversidades e a busca pela realização pessoal. Ela mostra o impacto que a escrita e a leitura têm na vida das pessoas e na sociedade. É uma celebração da capacidade de sonhar, criar e superar obstáculos. E tem imagens marcantes, como a da colocação de livros e jarras de água nas janelas das casas, para atender passantes. O mundo estaria sendo transformado em uma biblioteca de fato imensa, onde a sede de saber estaria saciada tanto quanto àquela do corpo. Mais do que recomendo a leitura.
No evento foram mais de cem mesas com as mais variadas abordagens, além de oficinas, sessões de autógrafos, ações ambientais, encontros matinais para atividades físicas, a ação Troca de Livros e o projeto De Mão em Mão, que distribuía gratuitamente, todos os dias, exemplares de O Alienista (Machado de Assis) e Um senhor muito velho com umas asas enormes (Gabriel Garcia Marquez), isso além do Espaço Rebentos, que era dedicado às crianças, tudo entre 14 e 22 de junho. Quem promoveu foram a Associação Quatro Cinco Um, que é uma organização sem fins lucrativos que se dedica à difusão do livro e da leitura no Brasil; e a Maré Produções, uma empresa especializada em exposições e feiras culturais. Houve ainda o patrocínio do Grupo CCR, Itaú Unibanco e Rede, com a TV Brasil e a Rádio Nacional de São Paulo participando. O Ministério da Cultura contribuiu, através da Lei de Incentivo à Cultura. O público foi estimado em mais de 80 mil pessoas.
1º.07.2025
(*) Em Portugal e nas suas ex-colônias em África o termo cantautor se usa para identificar um artista musical que escreve, compõe e também interpreta suas próprias canções, que em geral têm seu foco em temas sociais e políticos, além de poéticos. Geralmente fazem isso tocando um instrumento musical como violão ou piano.

Você gosta de política, comportamento, música, esporte, cultura, literatura, cinema e outros temas importantes do momento? Se identifica com os meus textos? Se você acha que há conteúdo inspirador naquilo que escrevo, considere apoiar o que eu faço. Contribua por meio do PIX virtualidades.blog@gmail.com ou fazendo uso do formulário abaixo:
FORMULÁRIO PARA DOAÇÕES
Selecione sua opção, com a periodicidade (acima) e algum dos quatro botões de valores (abaixo). Depois, confirme no botão inferior, que assumirá a cor verde.
Faça uma doação mensal
Faça uma doação anual
Escolha um valor
Ou insira uma quantia personalizada
Agradecemos sua contribuição.
Agradecemos sua contribuição.
Agradecemos sua contribuição.
Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje está composto por duas músicas de dois cantores que têm nacionalidade cabo-verdiana. Primeiro temos o áudio de Maria Julia, com Gil Semedo, que está radicado nos Países Baixos (Holanda). Após é a vez do clipe de Nha Terra, com Soraia Ramos, eleita em 2020 como a melhor artista feminina na África Central, na 6ª edição do African Muzik Magazine Awards. A premiação lhe foi concedida mesmo Cabo Verde sendo um arquipélago que se localiza no Oceano Atlântico, ao largo da costa da África Ocidental, próximo ao Senegal.