NEM TENTE SE NÃO FOR TEIMOSO
Para ser treinador de futebol profissional, aqui no Brasil, é necessário que o interessado obtenha as chamadas Licença A ou Licença PRO. A primeira delas habilita para as quatro séries do futebol nacional, com a segunda qualificando também para atuação internacional. Esses dois são os nomes dados aos documentos fornecidos pela CBF, a Confederação Brasileira de Futebol. E existem pré-requisitos para tanto: ensino médio completo ou graduação em Educação Física ou experiência comprovada como atleta. Mas, há ainda um caminho a ser trilhado, como obter as licenças preliminares (B ou C), sendo essas assim como as primeiras citadas também fornecidas depois de cursos feitos na CBF Academy. Um parêntesis e uma pergunta que julgo aqui necessária: por que adotaram um nome em inglês, mesmo sendo ela voltada para brasileiros? Faço mesmo sabendo a resposta. Se trata de subserviência, de “viralatismo”. O futebol não seria exceção, mesmo sendo o esporte mais amado e praticado do país. Mas, voltemos ao tema principal.
Segundo pesquisei, o curso inclui desenvolvimento de várias habilidades técnicas, táticas, físicas e de gestão de equipe. Afinal, os treinadores via de regra se tornam líderes de uma comissão técnica multidisciplinar e têm um grande número de atletas distintos para comandar. Não consegui saber que disciplinas compõem cada um desses módulos, mas tenho certeza que existe uma na qual, se os candidatos não conseguirem nota dez, não irão prosseguir rumo à formação. Falo em “Teimosia”. Essa é absolutamente necessária e ai de quem não tenha ao menos um mínimo de propensão ou enorme capacidade de assumi-la como algo normal e imprescindível. Acho até que são progressivas, Teimosia I, Teimosia II, Teimosia III e assim por diante, evoluindo a cada período de aulas.
Acompanho futebol há seis décadas. Sou torcedor apaixonado. O clube do meu coração e outros tantos que vi ao longo da vida tiveram dezenas de treinadores diferentes. Todos eles mantinham no time pelo menos um jogador que a torcida não suportava, que a crítica especializada afirmava não ter ou estar com as condições necessárias para merecer a vaga. Só que eles eram – e ainda seguem sendo – escalados do mesmo modo. Se saem vaiados é certo que estarão em campo, como titulares absolutos, no próximo compromisso da equipe. Existe até o termo “bruxos” dado para aqueles que são preferidos em quaisquer ocasiões.
Vejam que jogar mal uma partida é normal e compreensível. Até mesmo mais de uma, quando a fase é ruim. Isso acontece com profissionais de outras áreas também. Então, no caso dos jogadores, basta deixar de lado por algum tempo, aprimorar condicionamento físico e técnico antes de uma nova oportunidade. Se mesmo assim se mostrarem insuficientes que sigam para outra agremiação, talvez com nível de exigência menor. E vida que segue. Mas, vai explicar isso para aqueles que agora gostam de ser chamados de “professores”? Como ninguém entende nada tão bem quanto eles – é o que imaginam –, não há quem consiga ver aquilo que apenas eles estão sempre vendo: a importância tática e a irrelevância dos erros sistemáticos dentro do jogo.
Agora, vamos sair por um momento da área técnica lateral e adentrar no gramado. Para ser árbitro de futebol em nosso país é necessário ensino médio completo, boas condições físicas e de saúde, além de não possuir antecedentes criminais – ou seja, deve mesmo ser uma injustiça chamar quaisquer deles de ladrão. Com isso se habilitam também para cursos e, depois de concluir essa etapa, começam apitando categorias de base, acendendo conforme adquirem experiência. Como são amadores, eles possuem algum outro emprego e profissão. Apitar é uma espécie de bico, que pode até ser relativamente bem pago, assegura boas viagens, as estadias e certa notoriedade. Esses, além de também precisarem comprovar determinado grau de teimosia, precisam ter boas doses de arrogância – característica que também dividem com muitos técnicos – e cegueira seletiva.
Quem acompanha futebol, seja nas arenas, pela televisão ou em ambas as alternativas, não passa uma única rodada das competições sem que veja provas contundentes do que afirmo acima ser verdade. Isso atinge todas as torcidas, de todos os clubes. E a chiadeira não resolve nada, porque os “erros” sempre se repetem. Na noite do último sábado, por exemplo, no jogo Grêmio x Ceará, um jogador quebrou a perna de um adversário na frente do juiz, que nem amarelo deu ao faltoso. Vaiado pela torcida local, passou a perseguir seu time em campo, com pequenas inversões de faltas, permissão de “cera” e outros recursos que se conhece muito bem. O técnico, por sua vez, retirou de campo um atleta que não estava bem desde a primeira etapa e vinha sendo vaiado, apenas aos 44 do segundo tempo. Chego à conclusão que eu também sou muito teimoso, pois continuo insistindo em acompanhar todas as partidas que posso. E até agora sem o uso de calmantes.
26.08.2025

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é o clipe de Minha Teimosia, música de Jorge Ben Jor.