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SOBRE FRIO E SENSAÇÃO TÉRMICA

Eu nasci em Bom Jesus, lugar que só perdeu a primazia de ser o mais frio do Rio Grande do Sul em 20 de março de 1992, quando um distrito seu chamado até então de Aparados da Serra se emancipou. Nascia São José dos Ausentes, com esse nome referindo apelido que a localidade já sustentava, o de Capela dos Ausentes. Contam os mais antigos que por lá sequer era fácil conseguir que padres se estabelecessem para rezar as missas na capela erguida em honra a São José. A razão seria o rigor do inverno, demasiado para os padrões brasileiros, com frequentes temperaturas abaixo de zero. E esta ausência sentida virou identificação. Para se ter uma ideia, a média anual na localidade não passa de 14 graus, considerando-se todas as estações. Geadas são constantes e a neve costuma ocorrer, mesmo que com uma intensidade nem sempre grande.

Campos de Cima da Serra é uma região com beleza ímpar, desenhada com cânions, alguns rios e inúmeras cachoeiras, com mata própria de altitude, formações rochosas e mirantes, oferecendo trilhas ecológicas muito próprias para exploração do turismo, inclusive de aventura, com possibilidade ainda de cavalgadas e passeios 4×4. O município, ao se emancipar, herdou o ponto mais alto do Estado, o Pico do Monte Negro, que tem altitude de 1.403 metros. Em termos comparativos, Porto Alegre está numa planície e tem média de apenas 10 metros acima do nível do mar, com seu ponto mais alto sendo o Morro Santana, com 311 metros. São José dos Ausentes, com dois vizinhos seus catarinenses, São Joaquim e Urupema, forma o trio mais frio entre os 5.570 municípios brasileiros.

Pois agora na madrugada da última terça-feira a temperatura por lá ficou em cerca de cinco graus abaixo de zero. A sensação térmica, no entanto, alcançou -16,2°C. Foram as mais baixas do Estado, mas em muitas outras localidades elas foram negativas. Porém, não é apenas quanto ao frio: também em relação ao calor a sensação térmica pode diferir do que os termômetros marcam. Essa diferença se explica pela conjunção de alguns fatores, como umidade do ar e velocidade do vento.  Existem aparelhos especiais para determinar cada um desses índices, bastando inserir nessas calculadoras os valores que, através de fórmulas físico-matemáticas, se obtém o resultado. Explicando cientificamente, temperatura é um número, uma grandeza física que mede o grau de agitação das partículas de um corpo ou sistema, indicando seu nível de energia térmica. Agora, o que o nosso corpo realmente percebe dela, o quanto isso age e interfere sobre a nossa pele, a respiração e outras condições físicas, essa é a sensação térmica.

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) possuía, até o ano passado, um total de 44 estações automáticas e outras 11 convencionais, no Rio Grande do Sul. Entretanto, em decorrência da enchente que atingiu o Estado em maio de 2024, o Governo Federal disponibilizou recursos para compra e instalação de outras 98, das mais modernas. Essas novas, além da averiguação da temperatura do ar, precipitação pluviométrica, pressão atmosférica e velocidade do vento, têm ainda sensores para o monitoramento da temperatura e da umidade do solo. Ou seja, elas têm condições de prestar serviços que interessam sobremaneira também à agricultura. Bom Jesus e São Francisco de Paula são dois municípios entre os muitos agraciados com o equipamento.

Agora, não há como ficar falando sobre o frio sem que se pense nas condições enfrentadas pela população em situação de rua. Essas pessoas são especialmente vulneráveis devido à falta de um abrigo adequado, de roupa apropriada, de alimentação. A sua saúde muitas vezes precária se agrava com isso. E seu acesso a cuidados médicos é tão insuficiente como suas demais condições pessoais. Na primeira onda de frio verificada esse ano, ainda no final de maio, algo bem menos intenso do que a de agora, em uma única noite três pessoas morreram por hipotermia, duas no bairro Floresta, em Porto Alegre, e uma terceira em Bento Gonçalves. Naquela ocasião, a Pastoral do Povo da Rua, em nota, afirmou que as ocorrências eram resultado da negligência e da ausência de políticas públicas. E citou o absurdo de ter ocorrido, pouco antes, ações de retirada dos poucos pertences dessas pessoas, como colchões e cobertores, o que as expôs ainda mais.

O número de pessoas morando nas ruas da Capital Gaúcha aumentou muito. Depois da enchente citada acima, o incremento ficou na ordem de 14,88%, isso segundo dados repassados pela Secretaria Municipal de Assistência Social. Em abril do ano passado o levantamento indicava 4.549 e, em fevereiro deste ano, já seriam 5.226. Os serviços de acolhimento são poucos e os gestos de caridade muitas vezes chegam tarde demais. Quem sabe quem me lê agora contribui com ao menos uma peça de roupa ou algum alimento? Não é difícil descobrir alguma entidade séria para fazer doações.

25.06.2025

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