CHIMELO NÃO QUER A VERDADE EXPOSTA

Não é novidade alguma a arte incomodar o poder instituído. Até porque este, não raras vezes, chegou ou se mantém onde está graças ao fato de conseguir burlar a opinião pública, escondendo realidades indesejadas. No lado oposto, o talento artístico comprometido atua justamente para chamar a atenção para a realidade, evidenciando suas contradições e falhas. Pondo o dedo na ferida, desnudando interesses escusos e muito caráter duvidoso. Nesta sexta se viu na capital gaúcha um novo embate neste campo tantas vezes conflituoso.

Uma decisão judicial expedida ontem, 16 de agosto, pela juíza Patrícia Hochheim Thomé, acolheu parcialmente ação movida pelo prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo; pelo seu partido, o MDB; e por outras legendas que compõem a coligação que o indicou como candidato à reeleição. Deste modo, foi apagado o mural que o artista Filipe Harp havia pintado em uma parede da Casaverso, no bairro Cidade Baixa. A arte mostrava o prefeito Melo submerso pela enchente que atingiu a capital e contra a qual ele foi inoperante. Outra solicitação apresentada pelo grupo não foi acolhida pela juíza: a que pedia a proibição da reprodução da imagem em outros locais e nas redes sociais, bem como o impedimento de ser usado o termo “Chimelo” – uma junção do seu sobrenome com a palavra “chinelo” – para referir o mandatário.

Este mural repetia parte de um outro que havia sido pintado em junho na Praça Argentina, próximo ao campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Aquele primeiro foi apagado por uma empresa que mantém contrato com a prefeitura, que cobriu toda a área com tinta verde. Isso, no entanto, resultou em pichação posterior e anônima com a frase “Da memória ninguém apaga”.

A Casaverso é um espaço cultural, social e acadêmico que disponibiliza ainda estúdio para locação. Segundo se apresenta no Facebook, está constituída por “gente, sensibilidade, arte, filosofia, política, honestidade, verdade, calma e resistência”. Fica na rua José do Patrocínio, no coração de uma zona boêmia, jovem e pulsante.

Para evitar o pagamento de multa diária de R$ 5 mil em caso do não cumprimento da ordem judicial, o grafite foi imediatamente apagado. Mas, como este fato se deu no momento em que começou oficialmente a campanha eleitoral, o mesmo motivo que permitiu o acolhimento da reivindicação foi também visto como censura, pela oposição. Assim, no final da tarde já se via alguns cartazes criticando a decisão colados onde antes estava o rosto do prefeito Sebastião Melo.

Também nas redes sociais a reação foi praticamente instantânea. Centenas de internautas citaram que nenhum centavo havia sido destinado para a prevenção contra as cheias, inexistindo manutenção adequada para o sistema de proteção da cidade. Entre abril e maio, mais da metade dos bairros de Porto Alegre foram atingidos, com cerca de 170 mil moradores tendo a necessidade de sair de suas residências, grande parte delas destruída pelas águas. Cem dias depois o lixo ainda não foi totalmente removido e há problemas graves na mobilidade urbana. Estamos sem o Trensurb e sem o aeroporto, por exemplo. A economia burra resultou em prejuízos incalculáveis, que talvez possam começar a ser cobrados nas urnas, em outubro.

17.08.2024

A negligência de Sebastião Melo agravou as consequências da enchente. Arte: Filipe Harp

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O bônus de hoje é a música Onde Está a Honestidade?, de Noel Rosa, na voz de Teresa Cristina.