A FARSA DA CAMISA ROXA
Roberto Gomes Pedrosa, um carioca nascido em 1913, ao longo de sua vida foi futebolista, dirigente esportivo e também político. Era goleiro e iniciou a carreira no Botafogo, em 1930. Com apenas 21 anos de idade, foi convocado para jogar a Copa do Mundo de 1934 defendendo a Seleção Brasileira. Em 1935 passou a jogar no Estudante Paulista, clube que em 1938 participou de uma fusão que resultou no surgimento do São Paulo Futebol Clube. Seguiu atuando no tricolor até 1940, onde depois se tornou conselheiro e mais tarde chegou à presidência. Cumprindo um mandato que asseguram deixou marcas indeléveis pela sua capacidade como gestor, foi eleito presidente da Federação Paulista de Futebol e por mais duas vezes reeleito. Permaneceu no cargo até sua morte, em 1954, com apenas 40 anos. Chegou também a ser vereador na capital paulista, por uma legislatura.
Desde 1950, quando foi oficialmente criado, a maior disputa entre clubes de futebol no Brasil era o Torneio Rio-São Paulo. Isso porque reunia os principais dos dois Estados que detinham a hegemonia, se não na qualidade técnica – porque isso é impossível afirmar – certamente no poder político e econômico. A antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD), precursora da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), realizava apenas o Campeonato Brasileiro de Seleções Estaduais, não atendendo ao interesse dos clubes, mesmo que tenha sido a organizadora de um torneio precursor em 1933, que nunca mais repetira. O Rio-São Paulo perdurou até 1966, sendo que a partir de 1954 recebeu oficialmente o nome de Torneio Roberto Gomes Pedrosa, como forma de homenagear o dirigente morto.
Em 1967 ficou decidido, agora com a confederação nacional à frente, que ele ganharia maior dimensão, sendo incluídas equipes de outros Estados. O nome, no entanto, seria mantido. Assim, para a imprensa e o imaginário popular nascia o “Robertão”, que durou quatro anos e se tornou o embrião do Campeonato Brasileiro, que passou a ser disputado em 1971. Mas, havia um problema a ser resolvido, no primeiro ano da ampliação: o critério de escolha dos clubes que seriam convidados. Foram estabelecidas condições como o potencial dos Estados e as condições de estrutura destas agremiações. O Rio Grande do Sul e Minas Gerais foram os primeiros escolhidos, apesar de paulistas e cariocas terem exigido compensação financeira para atuarem em Porto Alegre e Belo Horizonte. O Paraná acabou agraciado com uma vaga, já que seria uma “escala” no deslocamento até a capital gaúcha. Houve a tentativa de inclusão do campeão pernambucano, o que não deu certo em virtude de não existir por lá, na época, um estádio condizente.
Só que essa mesma situação ocorria em Porto Alegre: apenas o Grêmio tinha estrutura, com o Estádio Olímpico. O colorado, em função do seu precário Eucaliptos, teria que ficar de fora, considerado o mesmo critério ajustado com os nordestinos. Foi então que o tricolor gaúcho ofereceu suas dependências e pode o Internacional ser mandante usando a casa do rival para TODOS os seus jogos. Isso ocorreu também em 1968, mesmo com a entrada de Náutico e Bahia tendo derrubado a exigência anterior. O Beira-Rio estava em obras e foi inaugurado em 1969. O agradecimento dos vermelhos ao seu anfitrião por DOIS ANOS, tão logo ocuparam sua casa nova, foi adotar o apelido de “Chiqueiro” para se referir ao Olímpico, a partir de então.
Com a enchente agora de 2024 atingindo seriamente a arena do Grêmio e o estádio do Internacional, ambos foram desalojados. O governador Eduardo Leite (PSDB), um dos responsáveis pelo agravamento da situação, devido ao desmantelamento da legislação ambiental e também à retirada de recursos da Defesa Civil, tratou de realizar uma ação de marketing na busca desesperada por melhorar sua imagem e pousou entre os presidentes dos dois clubes, lançando a campanha “Unidos Pelo Rio Grande”. Foi cogitado o uso de uma camisa roxa por ambos, em pelo menos um jogo, uma vez que essa cor é decorrente da fusão do azul com o vermelho. Isso tudo em meio a promessas de, se necessário fosse, uso conjunto de dependências para treino e jogos.
Com o Beira-Rio já recuperado e a Arena dependendo da chegada de equipamento importado para restabelecer a energia elétrica, o Grêmio pediu formalmente essa semana a cedência do estádio do colorado para DUAS partidas. Seriam contra o Vasco, pelo Brasileirão; e contra o Fluminense, pela Libertadores. O presidente do Internacional disse não, o que mostra que eram duas as pessoas falsas naquela foto meramente de propaganda. Eduardo Leite não estava só. Deste modo, time e torcida tricolor terão que ir até Chapecó, em Santa Catarina, cerca de 500 quilômetros distante de Porto Alegre. Mas, o tempo é o senhor da razão. Vamos ver o que o futuro reserva, até para quem esquece de propósito do passado.
20.07.2024

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