SOBRE A MALDIÇÃO DE MARTE

A Índia ganhou manchetes dias atrás, ao se tornar o país com a maior população em todo o planeta, ultrapassando a China. Tem agora cerca de três milhões de habitantes a mais, tendo chegado ao número absurdo de 1,428 bilhão, segundo as estimativas divulgadas pela ONU. Outra “ultrapassagem” fora feita ainda no ano passado, quando tirou do Reino Unido o posto de quinta economia do mundo. País onde se encontram profundos contrastes, tem grande avanço tecnológico em várias áreas, ao mesmo tempo em que convive com uma miséria quase absoluta em outras.

Em termos de cultura, duas forças são facilmente constatadas entre os indianos: a crença em espíritos e na astrologia. Este segundo aspecto é percebido pelo fato de que raras são as crianças que, ao nascer, não recebem seu mapa astral. É quase que uma providência familiar mais sagrada do que o registro civil. Tanto que o resultado fica guardado da mesma forma, como um documento para ser usado pelo restante da vida. Isso porque em vários momentos marcantes da existência ele vai ser consultado, para uma espécie de aferição das possibilidades de se ter sucesso ou não. Vale, por exemplo, para os casamentos.

Antes da cerimônia ser acertada, cabe ao sacerdote comparar os mapas dos cônjuges – sim, eu sei que não se diz conge – para avaliar quais as chances de terem um matrimônio feliz. E uma preocupação séria ocorre quando um dos dois ao menos tem forte influência de Marte. Para eles isso é o maior dos maus presságios, praticamente uma maldição. Essas pessoas, marcadas pelo planeta vermelho, são chamadas de manglik. E trarão quase que com certeza má sorte para quem com elas se casam. Algo tão sério que pode chegar ao nível de afetar a saúde.

Uma família que tem um ou uma manglik entre seus membros enfrenta uma situação desagradável, sendo homem, ou um desgosto profundo, no caso de ser mulher. Eles se reequilibram pelo casamento, segundo suas crenças, mas elas precisam ser reequilibradas para casar. Isso se ainda conseguirem um pretendente. Incrível é como isso se dá: um sacerdote as casa, simbolicamente, com um vegetal ou animal, de tal sorte que a “Maldição de Marte” passa para este outro ser, as tornando livres. Em 2009, na novela Caminho das Índias, realizada pela Rede Globo, Pandit (José de Abreu) descobre que Maya (Juliana Paes) é uma manglik e a casa com uma bananeira. Eu, particularmente, entendo que a atriz foi de fato amaldiçoada, mas muito tempo depois, ao se tornar bolsonarista. E, para este mal, não existe vegetal ou animal que suporte a transferência: iria secar e morrer.

Sobre sua crença na espiritualidade, a noção reencarnacionista marca presença milenar entre os habitantes da Índia. Por lá 11% da população é muçulmana, 2,5% está composta por sikhs, 2% é cristã e os budistas são apenas 1%. Outras religiões são quase inexpressivas em termos de participação. Entretanto, os hindus somam 83%, divididos em correntes distintas: o bramanismo (ou hinduísmo) e os seguidores de Ahsoka, um dos mais notáveis soberanos que tiveram, que também os liderava do ponto de vista religioso – ele defendia ideias como compaixão, tolerância e não-violência. Essas duas linhas levemente diferentes somam-se aos budistas no compartilhamento da certeza que todos temos não apenas uma vida física, mas várias, em função da possibilidade de reencarnar. Não se pode esquecer que existem também cristãos que acreditam nesta mesma hipótese.

27.07.2023

Para contribuições voluntárias via PIX, na sua conta bancária informe a seguinte chave: virtualidades.blog@gmail.com (Qualquer valor será sempre bem-vindo)

Se você gostou desta crônica, garanta a continuidade do blog com uma doação. Isso ajudará a cobrir custos com sua manutenção. Logo aqui acima você encontra uma Chave PIX e abaixo deste texto existe um formulário.

Uma vez
Mensal
Anualmente

FORMULÁRIO PARA DOAÇÕES

Selecione sua opção, com a periodicidade (acima) e algum dos quatro botões de valores (abaixo). Depois, confirme no botão inferior, que assumirá a cor verde.

Faça uma doação mensal

Faça uma doação anual

Escolha um valor

R$10,00
R$20,00
R$30,00
R$15,00
R$20,00
R$25,00
R$150,00
R$200,00
R$250,00

Ou insira uma quantia personalizada

R$

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmente

O bônus de hoje é Triste, Louca ou Má, da banda Francisco, el Hombre, sendo esta faixa parte integrante do álbum Soltasbruxa (2016). Quem canta é Juliana Strassacapa, neste clipe gravado durante turnê realizada em Cuba. Com sonoridade, além de performance em termos de dança – há parceria com a Danza Luminosa –, a canção trata de relacionamentos que calam as mulheres e se levanta contra a submissão e o trabalho maçante.