OS CÃES NOSSOS DE CADA DIA

Minha tia Dorcas, irmã da minha mãe, tinha na sua casa um cachorro Pequinês de nome Mickey, levado para lá pelo genro Toninho. O bichinho era vesgo e, portanto, deveria ver tudo duplo. Vez por outra errava uma das portas da casa e, acreditando que iria passar pela certa, dava com o focinho na parede. Ele recuava e sacudia a cabeça se aprumando, antes de seguir em frente para uma segunda tentativa, quando passava pela porta certa. Meu primo Paulo, filho dela, durante anos foi criador de Dálmatas com o canil Arachane, cujo nome foi sugestão minha. Ele ainda existe, mas agora com criação da raça Fila-brasileiro.

Marília, a minha irmã mais velha, teve por muitos anos um Yorkshire Terrier que batizou de Toby. O vínculo do animalzinho com ela era algo extraordinário. Onde ela estava ele ficava junto, não raras vezes optando pelo colo, ao invés de apenas deitado nas proximidades. Quando se foi, teve o merecido direito de cremação e o ritual que recebe quem a gente ama e se despede dessa vida. Algum tempo depois, a Cristal, cadelinha da raça Shih-Tzu – hoje está com o Luciano –, veio para preencher o vazio deixado.

Eu “herdei” a Kakau quando a Bibiana veio estudar em Porto Alegre. Ela era uma Beagle tricolor super parceira. Ganhou casa de alvenaria, que construí no pátio de nossa casa em Lajeado, mas bastava a gente chegar do trabalho que ela vinha para a porta e esperava pacientemente o convite para entrar e se acomodar na sala de TV, onde ficava conosco até a hora de se ir dormir. Chorei quando precisei dar autorização para ela ser sacrificada, justo no dia em que completou 12 anos, devido a um câncer que estava fazendo com que sofresse demais.

A partir da chegada na capital gaúcha a Bibiana teve – e ainda as tem, junto com o Felipe, agora em outras paragens – duas outras adoráveis parcerias de quatro patas. O Horácio é um Lhasa Apso que agora está velhinho e mais ranzinza. Nos últimos tempos basta que ela se ausente de casa por mais tempo do que ele acha tolerável, por exemplo, para no retorno ele desconhecer a presença dela. Vira as costas, vai para um canto qualquer e evita manter contato por algum tempo. Ao invés de demonstrar alegria, faz questão de registrar sua contrariedade.  A Dora é inquieta e inteligente como são os Border Collie. Vi mais de uma vez ela pular por uma janela quase sem tomar impulso. E parecia mesmo tripudiar da gente, uma vez que fazia isso meio de lado e olhando para quem estava na “plateia”. Algumas vezes cometeu proezas perigosas, como subir na mesa e comer todo um grande ovo de Páscoa de chocolate. Com isso, lá se foram outra vez Felipe e Bibiana em busca de socorro veterinário.

A relação entre a humanidade e os cães, que foram os primeiros animais domesticados, tem pouco menos de 20 mil anos. Isso teria acontecido de modo simultâneo, na Europa e no Extremo Oriente, a partir de diferentes populações de lobos. Entretanto, na composição genética das raças atuais, as orientais têm uma presença genética mais genuína, enquanto que as europeias a têm mesclada com as que vieram do Leste, sendo isso uma consequência da migração humana, que se deu nesse sentido. Mas, existem estudiosos que afirmam algo diferente, garantindo haver indícios que de cachorros domesticados já existiam há 30 mil anos, fato que teria acontecido em pleno Paleolítico, também conhecido como Idade da Pedra Lascada.

É uma larga trajetória comum, com ambos tendo influenciado e muito uma à outra. Se por um lado nós fomos primordiais na modificação de alguns aspectos do comportamento e até na fisiologia dos cães, por outro a compreensão das emoções dos humanos por esses animais é fato amplamente comprovado. Além da observação do dia-a-dia, várias experiências trataram disso, com a que mostrava fotos dos donos para seus cães, com expressões faciais que denotavam tristeza, brabeza ou alegria: as reações imediatas eram associadas com as respectivas emoções. O mesmo resultado pode ser alcançado usando gravações com tons de voz. A coevolução explica coisas como os cães se aproximarem quando estamos chorosos, ou se afastarem se falamos alto. Um rosnado deles também nos dispersa, ao mesmo tempo que o abanar dos seus rabos acusam felicidade.

Segundo dados do IPB – Instituto Pet Brasil, relativos ainda ao ano de 2021, nada menos do que 58% das residências brasileiras têm cães, contra 33% na média mundial. Em termos de economia, o setor dos pets, considerando também outros animais, como gatos e aves, teve naquele mesmo ano um incremento de 27% no seu faturamento anual, atingindo R$ 51,7 bilhões. Mas, assim como naqueles poucos exemplos familiares que coloquei na abertura do texto, a relação de afeto que se estabelece entre cachorros e seus tutores – nome que passou a ser adotado no lugar de “donos”, como anteriormente era comum – não podem de modo algum ser mensurados como algo econômico-financeiro. O que não adianta eu tentar descrever melhor aqui, porque apenas quem vive essas relações iria entender o que fosse colocado.

12.12.2023

Estima-se que existam quase 350 raças de cães no mundo

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O bônus de hoje é o clipe da Canção Para o Meu Cachorro, de Gabriel Gonti, com a participação de Peu.