UMA GUERRA BEM-HUMORADA

Talvez você, que está me lendo agora, nem sequer tenha se dado conta. Afinal, não há registro de baixas até agora. Mas, estamos em guerra com Portugal. Uma guerra virtual, a bem da verdade, que não é pela nossa independência porque essa estaria sendo tardia demais. O conflito tem se dado no território ao mesmo tempo imenso e restrito, de redes sociais. E começou como quase todas as beligerâncias: um motivo bobo e com certeza muito facilmente contornável, antes do caldo entornar. Este fato contou com o envolvimento involuntário da Espanha.

Em novembro de 2024 o time feminino do Barcelona contratou a atleta lisboeta Kika Nazareth, junto ao Benfica. Ela é uma meio-campista de bom talento, atualmente com 22 anos, que assinara seu primeiro contrato profissional aos 17 e que defende também a Seleção Portuguesa. No anúncio oficial da chegada do reforço, o clube catalão fez publicação usando a expressão “fala galera”. Portugueses, talvez motivados também pela perda da futebolista, se manifestaram nas redes sociais criticando a escolha, considerando isso muito inapropriado e “brasileiro demais”.

Pronto: do lado de cá do Atlântico houve reação com ironia. E criaram memes nos quais transformaram Portugal numa colônia digital brasileira. No mapa, o território passou a ser chamado por nomes distintos – alguns bem criativos –, como Faixa de Gajos; Pernambuco de Pé, devido a uma evidente semelhança no formato e nas áreas geográficas, com o Estado nordestino sendo ligeiramente maior; Rio Grande do Fora; e Porto das Gaijinhas. Outros tantos não tiveram a mesma inventividade, como Guina Brasileira, Rio de Fevereiro e Mato Grosso do Norte. Quanto mais mapas surgiam com as inovações propostas, maior a revolta de “além mares”. Porém, como acontece com todo e qualquer apelido, a revolta daquele que é apelidado só contribui para que a alcunha pegue de vez. Como a que está sendo aplicada sobre Lisboa, agora Vitória da Reconquista, em uma colonização reversa.

A loiríssima tiktoker portuguesa Nokas – recomendo acompanhar – fez publicação onde aparece, inicialmente como se estivesse muito irada com tudo isso. No meio reclama de afirmações passadas, como aquela que acusava Portugal de ter roubado nosso ouro e também de opiniões sobre ser o idioma lá falado acusado de arcaico, pré-histórico. Mas, no final, conclui com o seu bom-humor característico. Segundo ela, se não gostassem tanto de açaí e de coxinhas de frango (que devem importar provavelmente aqui do Rio Grande do Sul), nós iríamos ver só. Outras publicações de moça – chamar de rapariga cairia bem apenas no seu país natal e não aqui – revelam uma inveja boa das nossas praias e dos lindíssimos biquínis que podem ser comprados no Brasil.

O Google Maps restringiu imagens que, sabe-se lá como, chegaram a ser disponibilizadas nas pesquisas feitas. Uma delas, a referente ao termo Pernambuco em Pé, não aparece mais em celulares e PCs que estejam em Portugal. Viram só: quando alguma das Big Techs querem conseguem resolver facilmente “problemas”, ao contrário do que vivem afirmando para a Justiça Brasileira. Tanto a Meta (Facebook, Instagram, WhatsApp e Messenger) quanto Alphabet (Google), Amazon, Apple e Microsoft, além do X (antigo Twitter), possuem mecanismos que podem nos proteger de coisas bem sérias, como apologia ao crime, misoginia, racismo, homofobia e ataques à democracia. Mas, evidentemente não fazem isso porque nenhuma destas questões é tão urgente e relevante quanto apaziguar uma batalha com troca de memes.

27.04.2025

Você gosta de política, comportamento, música, esporte, cultura, literatura, cinema e outros temas importantes do momento? Se identifica com os meus textos? Se você acha que há conteúdo inspirador naquilo que escrevo, considere apoiar o que eu faço. Contribua por meio do PIX virtualidades.blog@gmail.com ou fazendo uso do formulário abaixo:

Uma vez
Mensal
Anualmente

FORMULÁRIO PARA DOAÇÕES

Selecione sua opção, com a periodicidade (acima) e algum dos quatro botões de valores (abaixo). Depois, confirme no botão inferior, que assumirá a cor verde.

Faça uma doação mensal

Faça uma doação anual

Escolha um valor

R$10,00
R$20,00
R$30,00
R$15,00
R$20,00
R$25,00
R$150,00
R$200,00
R$250,00

Ou insira uma quantia personalizada

R$

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmente

O bônus de hoje é a música Sinceramente, composta por Marcelo Gross, guitarrista da banda de rock Cachorro Grande. O grupo foi formado em Porto Alegre, no ano de 1999. A interpretação é do cantor português Alberto Índio, natural do Porto.