AMORES IMPROVÁVEIS (2)

Em postagem anterior, citei aqui filmes que narram relacionamentos amorosos entre homens mais velhos e mulheres mais jovens. Hoje faço na relação contrária, em termos de idade. Mas, é necessário que se estabeleça que a arte também reproduz em muitos momentos um tipo de preconceito que é normalizado socialmente. Em geral, quando o homem é o mais velho do casal, a repercussão dessa diferença é mínima. No entanto, se for a mulher a pessoa mais velha, as reações da sociedade estão longe de serem as mesmas. E isso repercute inclusive no número de produções disponíveis.

Recente edição do programa Mais Você, de Ana Maria Braga, na Rede Globo de Televisão, entrevistou a sexóloga Laura Muller e a terapeuta de casais Eda Fagundes. Ambas afirmaram que está aumentando o número de casais formados por maduras e novinhos. Uma das razões, entendem elas, seria o encantamento desses pelas mulheres capazes de dominar a própria vida, independentes e mais experientes. Isso faz com que o homem mais jovem se sinta também poderoso, pela “conquista” – talvez sem se dar conta de ter sido ele próprio o conquistado, imagino eu. Agora, quanto às mulheres, o seu interesse pode vir da possibilidade do reencontro com o frescor da juventude, a empolgação, como algo que as remeta para seu próprio tempo de mais jovens, segundo as convidadas.

As especialistas concordam que hoje em dia existe uma redução do preconceito de idade, mesmo ele ainda existindo e sendo forte. E que em uma relação, ao menos em tese, apenas o que sentem e querem os envolvidos deveria ser levado em consideração. Se há um bom encaixe emocional e sexual, isso deveria bastar. Mas, evidente que não há como se isolar totalmente do que o coletivo diz e comenta: o que se pode tentar é impedir que as opiniões externas se sobreponham ao desejo interno.

Postas essas considerações – havendo ou não concordância com elas –, vamos a alguns dos filmes que localizei. E começo com um verdadeiro clássico, que é A Primeira Noite de Um Homem. O filme é de 1967 e tem Dustin Hoffman vivendo Benjamin, um rapaz recém-formado que volta da universidade para casa e termina sendo seduzido por uma mulher atraente, de meia-idade, casada e amiga dos seus pais. Mike Nichols arrematou o Oscar de Melhor Direção pelo trabalho. E a trilha sonora, composta por Simon & Garfunkel, Paul Simon e Dave Grusin alcançou enorme sucesso. A atriz Anne Bancroft é a senhora Robinson.

Kate Winslet ganhou o Oscar de Melhor Atriz, em 2009, com o filme O Leitor. Nele ela dá vida a uma mulher mais velha que se envolve com um jovem na Alemanha, logo após a Segunda Guerra Mundial. O casal volta a se encontrar alguns anos mais tarde, justo no momento em que ele está enfrentando um julgamento por supostos crimes cometidos durante o conflito militar. O papel masculino é de David Kross.

Para quem deseja ver algo mais leve, ao invés de um drama, recomendo a comédia-romântica A Proposta, de 2009. Sandra Bullock vive o papel de uma mulher poderosa e chefe tenebrosa, temida por todos. Para que obtenha a cidadania norte-americana ela faz com que um subordinado, papel do ator Ryan Reynold, finja ser seu noivo. Na verdade, a diferença de idade entre ambos – 12 anos na vida real – é citada apenas muito rapidamente. O que fica mais evidente neste caso é a relação de poder.

Merece destaque especial um filme brasileiro que venceu o Festival do Rio em 2016. Fala Comigo, dirigido por Felipe Sholl, conta a história de um garoto de 17 anos (Diogo), que é solitário e filho de uma psicóloga. Ao conseguir os números de telefone de pacientes de sua mãe, passa a se masturbar enquanto liga para elas. Com uma delas, no entanto, vai além e termina por iniciar um relacionamento real. Ângela tem 43 anos. São protagonistas os atores Tom Karabachian e Karine Teles. Ele é ex-guitarrista da banda Dônica, além de filho do músico Paulinho Moska. Ela, por este trabalho, foi escolhida como Melhor Atriz no mesmo festival que incensou o filme. Com uma carreira consolidada, esteve em vários outros, como Que Horas Ela Volta? (2015) e Bacurau (2019).

Aqui mesmo no blog já escrevi um texto abordando o filme Boa Sorte, Leo Grande – acesso ao texto pelo link https://wp.me/p1jFYb-14y. Ele conta a história de uma professora que se aposentou, está com 70 anos e é viúva. Ela então decide contratar um garoto de programa para que, finalmente, venha a saber o que é um orgasmo. O filme é de 2022, se passa quase todo dentro de um quarto de hotel, e tem Emma Thompson em desempenho brilhante.

Outra boa pedida é Estrelas de Cinema Nunca Morrem, longa de 2022. Ele conta uma história real do envolvimento entre a atriz Gloria Grahame, vencedora de um Oscar, com Peter Turner, então um ator iniciante e com quase 30 anos a menos. Os papéis ficaram com Annette Bening e Jamie Bell. Na vida real o fato se deu na década de 1970. E, em que pese todo o falatório registrado, ele cuidou dela pessoalmente quando ela, muito doente, se recusou a receber tratamento hospitalar. Até o final ocorreu uma relação de profundo amor e amizade.

07.06.2024

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O bônus de hoje, além do trailer oficial de Fala Comigo, é a música Amor Maior, com a banda mineira Jota Quest. inusitado

ACORDARAM A XUXA

A bela andava adormecida. Ou ao menos estava sonolenta, longe dos holofotes que mais dão destaque: aqueles da Rede Globo de Televisão. Nos últimos dias, no entanto, ao retornar para sua antiga casa, virou verdadeiro arroz de festa (*). Esteve presente em diversos programas, seja como entrevistada, convidada ou atração. Circulou pelo Domingão com Hulk; no Mais Você, da Ana Maria Braga; no Altas Horas, de Serginho Groisman; no Que História é Essa, Porchat?; no Fantástico e até mesmo no Papo de Segunda, atração do canal GNT. Deram um jeito inclusive de recuperar velhos vídeos com ela no Criança Esperança, onde também teve participação no deste ano. E uma apresentação junto com Angélica e Eliana, antigas “concorrentes”, foi chave de ouro. Se estivéssemos na época do Big Brother Brasil, que ocorre sempre no começo do ano, não duvidem que seria vista visitando a casa. Ela ganhou até mesmo um documentário, que recupera sua trajetória mostrando ser ela um dos cases mais bem sucedidos da história da TV brasileira. Falo de Maria da Graça Meneghel, a Xuxa.

Gaúcha de Santa Rosa, há quem diga que saiu da sua cidade natal em uma quinta-feira e começou a falar chiado no Rio de Janeiro na segunda seguinte. Maldades à parte, iniciou como modelo ainda aos 16 anos, em desfiles e fotos publicitárias. Sua primeira capa foi para a revista Carinho, da Bloch Editores. Em 1983 iniciou na televisão, no Clube da Criança, criado por Maurício Sherman na extinta Rede Manchete. Ficou por lá até 1986, quando se transferiu para a Globo, onde de fato explodiu em termos de popularidade e audiência. Foram vários os programas que então protagonizou: Xou da Xuxa, Xuxa Park, Planeta Xuxa e alguns outros. Seu nome sempre no título da atração.

Graças ao trabalho da empresária Marlene Mattos, virou uma máquina de produzir dinheiro. Muitos discos, alguns filmes, linhas de cosméticos e de roupas, material escolar e brinquedos com sua imagem, tudo rendia uma fortuna. Mais tarde se transferiu para a Rede Record, onde não mais teve o sucesso anterior, mas seguia conhecida. Inclusive no exterior tentou fazer carreira, claro que sem a repercussão alcançada aqui em terras tupiniquins.

Em um país onde temos tantos reis e rainhas assim denominados pelos interesses do mercado – Pelé, Roberto Carlos, Marta, Hortência e Rita Lee, por exemplo – por que não uma Rainha dos Baixinhos? Foi a este posto ela alçada, quando ocupava o horário matinal da programação global e arregimentava milhões de crianças, que a seguiam como os ratos de Hamelin iam atrás do flautista. Naquele período contribuiu para encher muitos cofres, em especial os da emissora e dela própria, mas também de vários daqueles empresários que embarcaram juntos na empreitada.

Seus programas tinham relativa qualidade, mas nunca se livraram de alguns escorregões que, hoje em dia, seriam muito mais evidentes. Era constrangedor ver todas as manhãs ela conclamar as crianças que assistiam para se alimentarem bem na refeição matinal. Fazia isso diante de uma mesa com vários tipos de pães, frutas, cereais, leite, sucos e bolos, esquecendo que uma gigantesca parte entre aquelas que estavam vendo aquilo tinham no máximo um café preto e um pão dormido para consumir. Outra coisa é que suas Paquitas, as assistentes de palco que sempre a acompanhavam, eram todas loiras. Nunca houve sequer uma que tivesse cabelo escuro, mesmo que conservasse a pele clara. Negras jamais, nem em sonho.

O documentário que citei fizeram também para exorcizar algumas dessas agora indesejadas lembranças. E nele coube transformar a sua antiga empresária Marlene Mattos, outrora fundamental no sucesso de Xuxa, em uma bruxa malvada. Alguém precisava levar a culpa, deixando o papel de boazinha para a outra vez eterna Rainha dos Baixinhos. Esta afirmou em entrevista recente que nunca soubera que quando escolhiam por outros atributos uma Paquita não loura, essa era obrigada a pintar os cabelos. Mas, se esqueceu de um antigo comercial que fizera, que desmente essa sua conveniente versão de agora (veja ele no final desta crônica, nos bônus). Marlene foi também acusada pela antiga amiga de filtrar até mesmo seus possíveis namorados.

Alguns anos e procedimentos estéticos depois, eis que ela surge de volta à televisão que a projetou. Agora sessentona e sem mais chances de animar apenas auditórios infantis, até porque as crianças de hoje em dia são um tanto diferentes daquelas da sua época, se tornou necessário trabalhar a sua imagem. Para que possa ser aproveitada em outra gama de programas. Uma nova Xuxa precisaria brotar dos escombros, para ainda render o dim-dim que agrada tanto ao plim-plim. E é esse renascimento que todos estamos presenciando agora. Como Lázaro, ela está sendo despertada outra vez para a vida. Mas, esse milagre deve ser atribuído não a Jesus e sim ao “Deus Mercado”.

12.08.2023

(*) No Brasil essa expressão, “arroz de festa”, costuma ser empregada para designar pessoa que faz o possível para estar presente em todos os eventos comemorativos que consegue.

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No bônus de hoje temos primeiro um vídeo (a qualidade não é boa) de um velho comercial de televisão, estrelado por Xuxa. Depois é a vez de Pedro Iaco, com a música Fada Madrinha.