MORRE O DOCUMENTARISTA SILVIO TENDLER

Na última sexta-feira, 5 de setembro, faleceu o cineasta e historiador Silvio Tendler. Aos 75 anos, ele estava internado no Hospital Copa Star, em Copacabana, Rio de Janeiro. A causa de sua morte foi uma infecção generalizada. O velório aconteceu na manhã do domingo, 7 de setembro, no Cemitério Israelita do Caju, o que terminou sendo extremamente simbólico. Isso porque em seu legado, de mais de 70 filmes e 12 séries televisivas, era muito focado na história política do nosso país, razão suficiente para que o destino lhe reservasse essa despedida em pleno Dia da Pátria.

Nascido em 12 de março de 1950, a paixão pelo cinema veio em plena adolescência. Com apenas 18 anos tornou-se presidente da Federação de Cineclubes do Rio. Naquele mesmo ano produziu o seu primeiro documentário, Entrevista com João Cândido, sobre a Revolta da Chibata. Destruído pela ditadura militar, não existe cópia desse trabalho. Homem culto e com uma visão ímpar do mundo, se formou em História e cursou especialização em Cinema e História, na conceituadíssima Sorbonne; e Documentário Aplicado às Ciências Sociais, no Musée Guimet. Sua paixão por cinema veio através de Glauber, Godard, Truffaut, Joaquim Pedro e Leon.

Quando voltou ao Brasil, fundou a Caliban Produções e, logo depois, passou a lecionar Cinema e História, na PUC-Rio, onde permaneceu por quatro décadas. Como documentarista, conseguiu reviver memórias e sempre tratava de questionar o presente. A justiça social era uma das suas obsessões. Tendler assinou, entre outros, Os Anos JK – Uma Trajetória Política (1980), relatando a trajetória de Juscelino Kubitschek; Jango (1984), sobre João Goulart, a segunda parte da chamada “Trilogia Presidencial”; e Tancredo: A Travessia (2011), fechando o ciclo. Os dois primeiros tiveram cerca de um milhão de espectadores cada um.

Para citar apenas mais alguns dos inúmeros títulos notáveis com os quais nos brindou, se pode incluir Glauber o Filme – Labirinto do Brasil (2003), Encontro com Milton Santos: o Mundo Global Visto do Lado de Cá (2006) e Utopia e Barbárie (2009). Além disso, entre as séries, tivemos Os Advogados Contra a Ditadura (2014). Também assinou trabalhos sobre Carlos Marighella e Castro Alves. Por associação com os personagens de vários desses trabalhos, Silvio passou a ser reconhecido por alguns críticos como “o cineasta dos sonhos interrompidos”.

Em duas oportunidades tive a honra de entrevistar o cineasta. Uma delas foi no dia 13 de março de 2023, no programa Espaço Plural, da Rede Estação Democracia, que apresentei por alguns anos, com imagem e som na internet. Isso ocorreu exatamente no dia seguinte ao do seu aniversário de 73 anos e da cerimônia de entrega do Oscar. Durante mais de uma hora ele brindou a mim, aos colegas da emissora e ao público que nos prestigiava com audiência, distribuindo todo seu imenso conhecimento e bom humor. Estava em casa, com uma bandeira atrás de si onde se lia a palavra “amor”, em um círculo feito com as cores da nossa bandeira. Sentimento esse que ele sempre nutriu pela arte e pela nação brasileira. Ele deixa a filha Ana Rosa, um neto e um imenso vazio.

09.09.2025

Silvio Tendler, um dos maiores documentaristas do Brasil

Você gosta de política, comportamento, música, esporte, cultura, literatura, cinema e outros temas importantes do momento? Se identifica com os meus textos? Se você acha que há conteúdo inspirador naquilo que escrevo, considere apoiar o que eu faço. Contribua por meio da chave PIX virtualidades.blog@gmail.com ou fazendo uso do formulário abaixo:

Uma vez
Mensal
Anualmente

FORMULÁRIO PARA DOAÇÕES

Selecione sua opção, com a periodicidade (acima) e algum dos quatro botões de valores (abaixo). Depois, confirme no botão inferior, que assumirá a cor verde.

Faça uma doação mensal

Faça uma doação anual

Escolha um valor

R$10,00
R$20,00
R$30,00
R$15,00
R$20,00
R$25,00
R$150,00
R$200,00
R$250,00

Ou insira uma quantia personalizada

R$

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmente

O bônus de hoje é clipe de AmarElo, música de Emicida. Ela carrega um forte incidental de Sujeito de Sorte, de Belchior. E tem, nesse áudio, participações de Pablo Vittar, Majur e Thiago Jamelão. Foi escolhida por trazer em si uma forte crítica social, exatamente como Tendler carregava em cada produção sua.