O hambúrguer parecido com este que se popularizou em todo o planeta, a partir dos EUA, não nasceu lá. O primeiro registro que se tem data de 1904, na cidade de Hamburgo, na Alemanha. Isso explica, por exemplo, o nome. Nela fica um dos portos mais movimentados da Europa e, para alimentar o grande número de pessoas que transitavam no local, alguém teve a ideia de reunir três ingredientes. Carne moída, ovo e leite foram misturados, dando além de boa textura uma maior durabilidade. Então, isso era consumido com pão. A aceitação foi imediata e positiva. Mesmo assim, bem antes disso, esta técnica para conservação da carne depois de moída era conhecida dos tártaros, um grupo étnico turcomano que habitou a Ásia Central e o território russo, integrando o Império Mongol.

Foram necessárias décadas, depois da criação em Hamburgo, para que a mistura ganhasse aprovação dos estadunidenses. O que de fato explodiu quando a primeira de suas cadeias de lanchonetes, a White Castle, a colocou no seu cardápio. Passaram a cozinhar tudo no vapor e acrescentar cebola crua. O preço, que era de apenas 70 centavos de dólar, também foi decisivo na popularização. Terem acrescentado uma fatia generosa de queijo modificou inclusive o nome, que foi alterado para cheeseburguer. Hoje em dia este é um hábito de fato universal, com inúmeras receitas, as quais aproveitam ingredientes antes impensáveis.

No Rio Grande do Sul também surgiu uma destas variantes, se bem que o bairrista povo local não gosta de comparações, afirmando que o daqui é melhor e insuperável. Ele teria surgido no início dos anos 1960, com o nome Xis sendo uma corruptela da palavra “cheese” (queijo), a única concessão feita aos “irmãos do norte”. As muitas adaptações começaram pelo tamanho do pão, que cresceu consideravelmente. Essa foi a maneira que encontraram para que coubesse em seu interior tudo o que passou a ser nele colocado. Além da carne de rês – que pode ser moída, cortada em pequenos pedaços ou um bife – abriram a possibilidade para ser frango, coração, suíno ou cordeiro, às vezes com mais de uma delas servidas juntas, isso com queijo, milho, ervilha, alface, maionese, algum dos tipos de molho, presunto ou outros embutidos, tomate e ovo. Enfim, se trata de uma fusão de sabores, que ficam ainda mais agregados porque tudo é devidamente prensado, antes de ser servido. Depois disso o consumidor ainda pode acrescentar mostarda e/ou ketchup.

O autêntico só existe aqui no Sul, mesmo que tenham tentado copiar isso em outros Estados. Falta o selo de qualidade a todas essas imitações, a força de ser tradicional, ter linhagem, identidade. Canoas, que integra a região metropolitana de Porto Alegre, chegou a estabelecer através de uma lei municipal (5.990/2016), o “Dia do Xis”. Não sei qual foi o critério para a escolha do dia, mas isso tem todo um simbolismo que precisa ser respeitado.

Dias atrás um austríaco de 23 anos, biólogo por profissão, esteve na capital gaúcha. Alexander Koehle quis comprar algo para comer, usando um aplicativo. Entretanto, como seu celular não conseguia acessar os existentes aqui, recorreu ao Instagram e digitou “Porto Alegre food”. A plataforma indicou uma influenciadora do ramo gastronômico que, por sua vez, sugeria naquele momento locais onde serviam Xis. Ele decidiu provar e se apaixonou. Mais do que repetir, nos dias seguintes, quando voltou para casa adquiriu três deles – um Salada e dois Filés –, mandou embalar adequadamente, e colocou o pacote na sua mala. Do outro lado do Atlântico, sua namorada e dois amigos seriam agraciados com essa experiência. Mesmo que, e isso ele admite, não estariam frescos como é o ideal.

Fiquei eu aqui imaginando a surpresa do pessoal que examinou a sua bagagem, usando o raio-x das esteiras em aeroportos por onde tenha passado. Talvez porque eu veja demais aquele programa de televisão no qual o pessoal alfandegário e as polícias federais procuram por drogas e outros produtos que são ilegalmente transportados. Seria até hilária sua explicação. Não deve ter dado tempo dele aprender gírias e expressões locais, na curta visita. Ou poderia dizer que os três Xis eram “Tri-legais”.

24.02.2025

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O bônus de hoje é o Hino do Hambúrguer Perfeito, uma brincadeira musical do publicitário Fabrício Schibuola. Na verdade, uma perda total de tempo, uma vez que perfeito mesmo é o Xis dos gaúchos. Depois temos o áudio de Amigo Hambúrguer, com Supla.