O DISCURSO NÃO É DELA, MAS A IDEIA É BOA

Antes mesmo de assumir como presidente dos Estados Unidos, neste de agora, que é seu segundo mandato, Donald Trump seguiu com a técnica que o notabilizou desde sua primeira campanha vitoriosa. Consta que ela foi sugerida por Stephen Kevin Bannon – conhecido como Steve Bannon, homem que foi por bom tempo seu estrategista-chefe. É a de manter-se em evidência com uma enxurrada de declarações e factoides criados, de tal forma que controle as pautas e a opinião pública.

Após as últimas eleições, no hiato de tempo até a posse, ele propôs em sequência tantos absurdos que se torna difícil citá-los todos. Desde as ameaças contra o Panamá, querendo a recuperação do controle sobre o canal que une os oceanos Atlântico e Pacífico, passando pela de anexar o Canadá, que se tornaria mais um estado do seu país, chegando a dizer que pretendia adquirir ou tomar na marra a Groelândia, até coisas pueris como mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América. Depois de ocupar outra vez a Casa Branca, propôs retirar os palestinos todos de seu território e transformar Gaza numa Riviera, para que ricos do mundo fizessem turismo sobre o solo hoje coberto de sangue. E ainda deu uma banana para a Ucrânia, afirmando que pretende cobrar por toda a “ajuda militar e humanitária” que estavam dando para aquele país, garantido condições de enfrentamento contra a Rússia. Está de olho nos minérios raros que os ucranianos possuem. Ou seja, esqueceu que o país que agora vai abandonar à própria sorte está lutando por procuração, porque a causa da reação russa foi a estratégia da OTAN – leia-se USA –, que pretendia cercar a Rússia com bases militares.

A última manifestação da arrogância trumpniana foi o anúncio de um tarifaço sobre produtos que seu país importa. Isso vai causar, por algum tempo, um desequilíbrio perigoso na economia de praticamente todos os países. Segundo ele, tal medida é fundamental para “fazer a América grande novamente”. Se é verdade que o abalo atingirá fortemente quem estiver além das suas fronteiras – não de forma igual, mas com certeza alguns mais do que outros –, também poderá causar inflação interna e, em casos específicos, até mesmo desabastecimento. Ou seja, trata-se de um clássico “tiro no próprio pé”.

Neste quadro, começou a circular nas redes sociais um texto que teria sido tirado de um suposto pronunciamento feito pela presidente do México, Claudia Sheinbaum. Nele estão fortes críticas a Donald Trump, com certeza todas mais do que merecidas. Só que não é dela a autoria. Os sites jornalísticos especializados em checagem desmentiram. Nas redes sociais da presidente não há nada e nenhum veículo de imprensa noticiou. Além disso, foi comprovado que tal mensagem circula desde pelo menos janeiro de 2017. De qualquer forma, compartilhamentos aos milhares foram feitos. Nele, depois de criticar quem votou em alguém que tinha como meta construir um muro segregacionista, a pessoa que o escreveu lamentou que os “queridos americanos” não entendam muito de geografia, uma vez que consideram América o seu país e não o que é de fato: um continente.

Agora, o que é sugerido a seguir aponta para uma alternativa bastante interessante e que pode – talvez deva – ser adotada de imediato. É a substituição da compra de produtos provenientes dos EUA por outros, dos mais variados lugares. Segundo a pessoa que escreveu, não seria nada difícil trocar os iPhone por Samsung ou Huawei. Se poderia não mais comprar Levi’s e escolher Massimo Dutti. Hambúrgueres muito mais saborosos e nutritivos do que os McDonald’s existem aos borbotões em todos os lugares. Nossos próximos carros não precisam ser Ford ou Chevrolet, uma vez que há dezenas de opções de veículos alemães, franceses, japoneses, suecos… Por que não um Volkswagen, Renault, Toyota, Honda ou Volvo, entre tantos outros? E, na hora de escolher um tênis, Adidas é uma opção mais razoável do que Nike.

Diz ainda o texto que os sete bilhões de consumidores não estadunidenses existentes no mundo – eles em geral preferem chamar assim as pessoas – poderiam deixar de ver os filmes de Hollywood e dedicar seu tempo a produções latino-americanas, asiáticas e europeias, que têm na maioria dos casos mensagens superiores, sem abrir mão de excelentes técnicas cinematográficas. Acrescenta que os destinos turísticos que existem na América do Sul, Europa e Oriente em nada deixam a desejar. Citou que ao invés de ir para a Disney, se torna interessante conhecer o Parque Eco Arqueológico de Xcaret, em Cancún. E que não existem pirâmides nos EUA, mas elas podem ser vistas no Egito, Sudão, Peru, Guatemala e México. Aliás, nenhuma de todas as maravilhas do mundo antigo e do mundo moderno ficam no território do “grande irmão do norte”.

Esta proposta apócrifa é concluída com a previsão de que se todos os consumidores dos demais países não mais comprassem produtos dos EUA haveria desemprego e colapso da economia localizada dentro dos seus muros, sejam eles físicos ou não. E que isso levaria os próprios estadunidenses a implorar pela derrubada de todas as barreiras que estão sendo agora impostas pela irracional extrema-direita yankee.

Para Trump, fica minha sugestão: ao invés de construir um muro que separe EUA e México, prossiga com a obra ao redor de todo o território pertencente ao seu país. E não apenas ao sul e ao norte, onde existe a divisa com o Canadá. Na falta de outros vizinhos, siga com ele em estrutura marítima, nos dois oceanos que banham suas praias. Isole também o Alasca e o Hawaii. Aproveite e feche o espaço aéreo. Do lado de dentro desta sua fortaleza estarão os pouco mais de 340 milhões de estadunidenses. Do lado de fora ficaremos os demais, provavelmente muito mais seguros e felizes.

04.04.2025

Claudia Sheinbaum – presidente do México

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Paródia de Dona, sobre Donald Trump.