A MÃE DO BADANHA
O nome que consta no seu registro de nascimento é Sylvio Luz Cauduro. Ele jogou futebol nos anos 1940, em algumas equipes do Rio Grande do Sul, tendo sido um esforçado volante. Primeiro esteve no São José, em 1941 e 1942, quando foi inclusive convocado para defender a Seleção Gaúcha. Depois, se transferiu para o Grêmio, tendo disputado quatro Grenais com a camisa tricolor. Sua venda chegou a ser anunciada para o América, do Rio de Janeiro, pela quantia de oito contos de réis, mas ele preferiu ficar no Sul mesmo. Defendeu então as cores do Brasil (Pelotas) e do extinto Renner. Estou aqui contando, simplificadamente, a trajetória profissional do jogador Badanha.
Essa é a grafia abrasileirada do sobrenome Badagna, de origem italiana, que seria a sua verdadeira descendência. Não sei explicar porque não foi esse o constante na certidão, mas não é difícil de se estabelecer alguma hipótese, considerando-se a época, costumes e preconceitos reinantes. Pois a sua mãe, que se chamava Maria da Glória da Luz, era conhecida por exercer na vida uma marcação ainda mais forte que a do filho em campo. O profissionalismo no futebol estava chegando e era essa temida senhora que negociava os contratos do rebento, de tal forma que ao chegar nos gabinetes alguém já alertava: “Lá vem a mãe do Badanha”. De faca-na-bota, outra expressão típica do linguajar gaúcho, ela também invadia redações dos jornais, uma vez por outra e em geral aos berros, quando algum cronista analisava de modo desfavorável o desempenho do meio-campista.
Não demorou para que Mãe do Badanha se tornasse sinônimo de quem reclama demais. Ou, no mínimo, para identificar alguém inconveniente. Mas, com o tempo, foi ganhando mais acepções. Também se corrompeu um pouco, com pessoas citando parentesco diferente ao dizer “a vó do Badanha”. Isso além de mandar que fossem reclamar “na casa do Badanha”. De certa forma, esse último uso repetia um ditado que existiu na época do Brasil Colônia. O “vai se queixar com o bispo” apontava como saída para o queixoso apelar para orações ou, se um intermediário ao poder divino fosse recomendável, dirigir-se a alguém com poder dentro da igreja.
Em 1968, uma reportagem feita pelo jornal Zero Hora localizou dona Maria da Glória. Ela dividia uma casa no bairro Partenon, em Porto Alegre, com uma neta, cachorros e uma galinha. O repórter a descreveu como “uma velhinha simpática”. E confirmou, com ela, a história que se está contando outra vez aqui. O que, portanto, não se trata de modo algum de uma lenda urbana, dessas que não se sabe como surgiram.
A foto que ilustra essa crônica é uma reprodução que mostra o time do Grêmio ao entrar em campo para uma partida, em 1943. Nela estão em pé, da esquerda para a direita, os jogadores Vinícius, Castrinho, Valter, Badanha, Heitor e Rubens. E agachados Medina, De Leon, Nichele, Nelson Adams e Edgar.
23.09.2025

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