O POÇO E A ÁGUA DO POÇO
Um advogado adquiriu certa vez uma pequena área de terras na zona rural do seu município. Como o local era um tanto árido, comprou ainda um poço artesiano de um dos seus vizinhos. Entretanto, dias após ter recebido o valor acertado, o homem que vendeu o poço decidiu lembrar ao comprador que havia negociado o poço e não a água nele contida. Assim, para fazer uso dela, que permanecia do seu lado da cerca e sendo sua, seria necessário que um valor a mais fosse acrescido. Mesmo surpreendido, o advogado manteve seu sorriso e avisou: – Eu estava agora mesmo indo encontrar com o senhor. Como sua água está no meu poço, por favor a retire toda ou terei que passar a cobrar aluguel.
Lembro que minha avó e minha mãe tinham ambas o costume de, em determinadas ocasiões, me lembrar o ditado que “não se deve ter os olhos maiores do que a barriga”. Essa expressão popular originalmente é, com certeza, um alerta para não se engolir mais alimentos do que a nossa real capacidade de digerir. Mas, vai muito além do óbvio, uma vez que carrega em si um sentido figurado sobre a importância do equilíbrio. Aponta para o risco trazido pela cobiça, o desejo de ter ou adquirir algo que fique além da nossa real necessidade ou condição financeira. Algo que não tenha equivalência com o que de fato precisamos.
A parcimônia como regra básica para tudo. Não que se precise fazer os chamados votos de pobreza, mas estabelecer um limite para a ambição. Esta é importante para que se conquiste coisas na vida, alimente todos os nossos sonhos com o combustível para serem alcançados. Ao mesmo tempo em que sem ela não se vai a lugar algum, tê-la em excesso pode nos conduzir a algo que se mostrará pernicioso e equivocado. Ou seja, se trata de uma espécie de remédio contra a ganância, um contraponto para a Lei de Gerson, que prega levar vantagem em tudo.
Muito próximas da parcimônia estão a moderação e a prudência. A primeira é um sinônimo direto e grita contra exageros, a segunda é o melhor alerta também contra riscos, além dos excessos. Ainda temos a cautela – aquela que nossos avós recomendavam junto com caldo de galinha, uma vez que ambas as coisas nunca fazem mal –; a contenção, que segura impulsos; e até um termo com múltiplos significados, que é a economia. Neste caso, utilizado no sentido de eficiência, de evitar desperdícios.
Por mais dinheiro que você tenha, só conseguirá dormir em uma casa a cada noite. Só poderá dirigir um automóvel por vez. Mesmo podendo pagar, não terá como comer dez bifes ao invés de um. Claro que condições financeiras poderão permitir que a casa seja melhor, que o carro tenha um considerável número de tecnologias embarcadas e a carne poderá ser filé ao invés de carne moída de segunda. Entretanto, você continuará envelhecendo, nenhum recurso da medicina tornará seu corpo imune à morte e suas finanças não garantirão amizades e amores sinceros. Então é melhor pensar além da sua conta bancária. É melhor dividir a água do poço porque nele deve haver o suficiente para matar a sede de mais de uma pessoa. E, citando outro ditado popular para terminar, “quem tudo quer, tudo perde”.
11.07.2025

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é o áudio de Para que tanta ganância se ninguém veio aqui para ficar?, um repente nordestino de Zé Xavier.