COMO SLIM CONQUISTOU A NET
O maior projeto de televisão a cabo do Brasil surgiu em 1980, quando se uniram Globo e Bradesco para a criação da NET. A proporção societária determinava que a empresa de comunicação, mesmo sendo minoritária, com 49% do capital, controlasse as operações da nova empresa. O plano ambicioso nasceu com o propósito de aproveitar as estruturas que a Globo já possuía em todo o país para alavancar o sucesso. Em poucos anos eles conseguiram conquistar mais da metade de todo o mercado nacional. Isso se tornou estratégico, uma vez que a emissora poderia não apenas distribuir programação importada, mas ampliar a produção própria e mesmo ter um controle maior sobre os acessos dos assinantes. Entretanto, algo muito ruim aconteceu.
Em 2001, na reta final do último mandato de Fernando Henrique Cardoso, o dólar explodiu no câmbio, dobrando de valor. O país mergulhou numa crise econômica e enfrentou outros problemas estruturais muito sérios, como o apagão elétrico. Com tudo isso, entramos em uma recessão, o que também derrubou as verbas publicitárias a patamares irrisórios. E a Globopar, empresa controladora do Grupo Globo, entrou em default. Na economia esse termo é usado quando ocorre uma falha no cumprimento das obrigações financeiras, com atraso no pagamento de dívidas ou de juros por parte de quem está devendo. Isso pode acontecer também com pessoas físicas e mesmo governos. É uma espécie de inadimplência.
Isso ocorreu porque a empresa, para bancar toda a enorme operação, havia captado cerca de US$ 1,5 bilhão. O empréstimo tinha sido feito no exterior e, quando o dólar disparou, a dívida cresceu a ponto de ficar muito difícil de ser paga. Diante do cenário, o Bradesco tratou de pular fora e vendeu sua participação. Quem comprou foi o bilionário mexicano Carlos Slim. Com uma visão agressiva em relação ao mercado, quando ele fez isso agiu pensando em outros movimentos.
Como o governo FHC havia privatizado e vendido a Embratel em 1998, para a norte-americana MCI WorldCom (que mais tarde assumiu o nome Verizon), ele passou a agir em frentes diferentes. Aqui se aproveitando de uma fragilidade empresarial, no México comprando a Telmex que foi entregue à iniciativa privada pelos mesmos ventos neoliberais que sopravam também no Brasil. E, com a antiga estatal mexicana nas mãos, comprou a Embratel. Usando sua América Móvil, Slim adquiriu ainda, algum tempo depois, a operadora Claro. Assim, acabou, entrando de vez no mercado brasileiro.
Voltando ao assunto NET, mesmo com os 51% que havia comprado do Bradesco, o bilionário não se deu por satisfeito. Através da Embratel, ele injetou nada menos do que R$ 800 milhões na empresa, aproveitando que a Globo estava circunstancialmente enfraquecida. Fez isso através de debêntures e comprando ações preferenciais. Sem condições de igualar os aportes, a participação dos Marinho foi caindo. Foi o modo dele controlar o conselho e assumir o comando das operações. Sem ter mais poder algum, os brasileiros venderam sua parte por R$ 570 milhões e Slim se tornou o único dono do negócio.
Com isso, sem uma aquisição direta e sim com ações estratégicas, ele conseguiu assumir um império de comunicação no Brasil, a exemplo do que possui no México. Ou seja, nos dois maiores países da América Latina. Ele tem ainda empresas na Argentina, Chile, Colômbia, Peru, Equador e Guatemala. No território tupiniquim, depois de garantir a propriedade de Embratel, NET e Claro, ele aprimorou os serviços que ofereciam. Lançou em 2006 uma internet com velocidade até então não alcançada, diversificou o portfólio de canais e ampliou a presença em todo o território nacional.
Em 2011 ele fundiu as três empresas, quando ultrapassou a marca de 60 milhões de clientes no país e se tornou o maior conglomerado do ramo. Quatro anos depois, a NET chegou à marca de 52% sobre o total de TVs por assinatura no Brasil e um terço dos usuários de banda larga. E em 2024 atingiu faturamento que beirou R$ 50 bilhões. O proprietário, Carlos Slim, tem patrimônio pessoal de US$ 90 bilhões.
15.06.2025

15.06.2025
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