A SEMPRE-VIVA VAI MORRER

A sempre-viva não é uma única flor. Várias dividem este mesmo nome e são todas utilizadas em ornamentação. Originais da região mediterrânea e do Oriente Médio, a Limonium sinuatum é aquela mais encontrada em Portugal, onde recebe o nome popular de Estátice ou Lavanda do Mar. Aqui no Brasil, por sua vez, a espécie predominante é a Helichrysum bracteatum, que veio da Austrália e da Papua Nova Guiné. O que essas e outras têm em comum é o fato de estarem correndo perigo de extinção.

A ameaça decorre do extrativismo predatório para fins comerciais, mas não apenas dele. As populações, principalmente de algumas das suas espécies, estão sendo drasticamente reduzidas por uma série de fatores. As áreas de sua ocorrência são cada vez menores, devido ao avanço do desmatamento, das queimadas e da agropecuária. Aliás, em geral esses três fatores ocorrem de forma associada. E, com a degradação dos seus habitats naturais, a sobrevivência das sempre-vivas se torna menos provável.

Além do que citei acima, existe ainda o problema causado pela poluição ambiental. Nela se inclui a contaminação tanto dos solos quanto das águas, chegando ao descarte inadequado de resíduos. Resumindo: como elas são plantas sensíveis e raras, a combinação de todos estes problemas decorrentes de atividades humanas, as colocam em risco definitivo. Então se torna aceitável afirmar que se nada for feito com urgência, a sempre-viva irá morrer.

No caso do Brasil, em uma região em especial a sempre-viva tem uma grande importância para as comunidades tradicionais. Trata-se da Serra do Espinhaço, uma cadeia montanhosa que se estende entre Minas Gerais e Bahia, no Planalto Atlântico. Por lá ela é coletada e utilizada em artesanato, sendo patrimônio cultural. A atividade compreende e se combina com práticas agrícolas tradicionais e com a biodiversidade de ecossistemas resilientes. Em conjunto, integram uma rede, um sistema econômico mais amplo, que inclui o cultivo de roças e a criação de animais, garantindo a necessária segurança alimentar e renda para quem reside no local. A questão mais delicada fica no subsolo, que afirmam conter jazidas de ferro, manganês, bauxita e ouro, por ser composta por terrenos do proterozóico (*). E isso representa potencial possibilidade da mineração se impor sobre todo o resto, pela prevalência de interesses macro.

Agora, não que isso sirva de consolo, elas não morrerão sozinhas. São centenas as espécies sendo extintas no mundo. As raflésias, que têm tamanhos significativos comparando-se com outras existentes, também estão. Estas se conhece também pelo desagradável nome de “flores-cadáver” – ou seja, no batismo já anunciam a própria morte. A Mata Atlântica, uma extensa e generosa área brasileira, está se tornando um cemitério de espécies. Como a flor-da-imperatriz, a orquídea das cascatas, o hibisco branco e muitas mais.

As flores-cadáver vivem pelo parasitismo nas várias trepadeiras tropicais; a flor-da-imperatriz é a única representante brasileira em um dos gêneros mais antigos da família Amaryllidaceae; a orquídea das cascatas é planta encontrada em cachoeiras e águas rápidas e rasas; e o hibisco branco se trata de uma espécie endêmica que corre risco devido à polinização cruzada com variedades não nativas.

As árvores, irmãs maiores e em tese menos frágeis, também sofrem com nosso modo de vida. Seguindo na Mata Atlântica, pau-brasil, araucárias, palmito-juçara, jacarandá-da-bahia e outras tantas restarão em breve apenas nas nossas lembranças, fotos e ilustrações em livros de botânica. Assim como gravatá, bromélia, jacarandá paulista, catleia, jaborandi… À urbanização, exploração excessiva, mudanças climáticas e outros que tais, se soma a introdução de espécies invasoras. Plantas e animais não nativos terminam por competir e causar mais danos. No fundo, talvez a extinção da mais predadora de todas as espécies, que é a humana, possa resolver. Parece que a natureza está avaliando esta possibilidade.

17.05.2025

(*) O Proterozóico é um período geológico. Ele se estende de 2,5 bilhões e 542 milhões de anos atrás, sendo o mais longo em termos de escada de tempo. Foi precedido pelo Arqueano e sucedido pelo Fanerozóico. O seu nome vem do grego “proteros” (primeiro) e “zoico” (animal). Ou seja, indica a época na qual a vida começou a florescer na Terra, desde que se formaram seres unicelulares até os multicelulares.

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