MEDICINA REQUER RELAÇÃO DE CONFIANÇA

Quando se escolhe um médico para que nos atenda, ou faça isso com algum familiar nosso, certamente a opção recai sobre alguém em quem se possa confiar. Um profissional que por anos tenha feito isso conosco ou, em caso de primeiras consultas, que está muito bem recomendado pelo seu histórico, a experiência, a capacidade mais do que comprovada. Ninguém deseja menos do que excelência, mesmo nas ocasiões nas quais isso não pode ser alcançado, seja por falta de recursos financeiros, por não abrangência do plano de saúde ou quaisquer outros motivos.

Agora, se poderia confiar de olhos fechados em um médico que tenha sido condenado por assassinar seu próprio filho? Se fez isso com o dele, o que poderia fazer com o nosso? Aqui no Rio Grande do Sul nós tivemos um caso real, no qual um menino de 11 anos foi morto com o uso de medicamentos e a Justiça, depois do devido processo e amplo direito de defesa, considerou seu pai culpado pelo fato. Não apenas ele, mas também a madrasta do menino, uma amiga dela e o irmão desta amiga envolvida. O caso teve repercussão nacional, como se esperava.

Relembrando: em 04 de abril de 2014 Bernardo Boldrini foi visto pela última vez, por volta das 18 horas, quando estava indo dormir na casa de um amigo. Apenas dois dias depois seu pai, Leandro Boldrini, teria ido saber dele, quando foi informado de que o garoto não estava e nem havia chegado na antevéspera. O corpo foi encontrado dia 13 distante 80 quilômetros de Três Passos, onde morava, em Frederico Westphalen, numa cova rasa. Os dois carros da família são recolhidos para perícia e, já no dia seguinte, três pessoas são presas: Leandro, a segunda esposa Graciele e a amiga Edelvânia Wirganovicz. Na data do desaparecimento a madrasta foi multada por excesso de velocidade, no percurso entre as duas cidades. A câmera mostra Bernardo no banco de trás do carro.

Órfão de mãe, o garoto era submetido a maus tratos, como seus vizinhos atestaram. Ele chegou por iniciativa própria a procurar o Judiciário, no início daquele ano, para se queixar de abandono e pedir para morar com outra família. A perícia comprovou que ele foi dopado com barbitúricos e recebeu posteriormente uma injeção letal. Depois, a investigação concluiu que a madrasta fez isso, com as necessárias instruções e medicamentos passados pelo pai. E que o irmão de Edelvânia, Evandro, ajudou na ocultação do cadáver, uma vez que as mulheres não tinham forças para sozinhas abrirem a tal cova. O casal foi condenado por homicídio quadruplamente qualificado. Os cúmplices por participação e ocultação do cadáver.

O médico pegou 33 anos e oito meses de cadeia. Conseguiu a anulação do julgamento e, no seguinte, a pena foi reduzida em exatos dois anos. Mesmo assim, o Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), em decisão tomada apenas em 2023, entendeu que ele não havia violado o Código de Ética Médica e manteve seu direito de exercer a medicina. Seus pares parecem ter entendido que não há nada de errado em matar um filho. Que este fato não tem ligação alguma com valores, sejam eles morais ou éticos.

Leandro, agora em regime semiaberto, conseguiu inclusive ingressar no programa de residência médica do Hospital Universitário de Santa Maria. Inconformado, o Ministério Público do Rio Grande do Sul recorreu da decisão junto ao Conselho Federal de Medicina. O CFM reconheceu a legitimidade da solicitação e, de forma inédita, revisou a vergonhosa decisão tomada no processo ético-profissional anterior e cassou o seu registro profissional. A deliberação foi do pleno do órgão e por unanimidade, não cabendo nenhum recurso.

Esta foi a primeira vez na história que, em nosso país, uma promotoria atuou administrativamente junto aos conselhos de medicina. A iniciativa corajosa do Ministério Público irá impedir que qualquer pessoa, no futuro, enfrente o dilema e o risco de receber atendimento médico dado por alguém que não mereça confiança. Aquilo que, conforme escrevi no primeiro parágrafo, é básico numa relação entre profissional e paciente.

15.02.2025

Leandro Boldrini. Foto: Reprodução RBS

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O bônus de hoje é um contraponto à atitude de Leandro Boldrini. Uma música que relata o amor incondicional de um pai por um filho especial (tem Síndrome de Down e cardiopatia). Mesmo não gostando nem um pouco de cantores do estilo sertanejo contemporâneo, abro exceção para Nando Luiz no dia de hoje, e para sua Amor de Pai. Pela razão exposta acima e também porque nesta canção ele foge ao estilo, como pode ser conferido no clipe.