A INACREDITÁVEL HISTÓRIA DO VOO 5390

Quem primeiro me falou sobre isso foi meu sobrinho Arthur Zuchetti Lechmann, que é piloto da Azul. O voo 5390 da companhia aérea British Airways ligava as cidades de Birmingham, na Inglaterra, e Málaga, na Espanha. Os passageiros eram geralmente ingleses que iam passar suas férias no calor do sul espanhol. Mas, ao realizar esse percurso no dia 10 de junho de 1990, com 87 pessoas a bordo, houve uma situação digna dos mais ousados filmes de ação, com a tripulação do BAC 1-11.

Este era um modelo de aeronave desenvolvido pela Hunting Aircraft e produzido pela British Aircraft Corporation – daí a sigla BAC –, sendo um avião a jato de curto alcance. Entre todos os que foram fabricados no Reino Unido, esse foi um dos mais bem sucedidos, tendo voado por 30 anos entre 1960 e 1990, quando o aposentaram devido a problemas que passou a enfrentar com legislação a respeito de restrições de ruído. Em nosso país seu modelo 400 chegou a ser utilizado pela antiga VASP, entre 1968 e 1974, quando fazia a transição de sua frota passando dos turboélices Vickers Viscount para aqueles de propulsão puramente a jato. Depois, os BAC One-Eleven foram substituídos pelos Boeing 737. E a versão 500 foi usada pela Transbrasil, entre 1970 e 1978, quando aquela empresa aérea tinha dez unidades.

A título de informações adicionais, a Transbrasil foi fundada em 1955 e permaneceu como propriedade do empresário Omar Fontana durante a maior parte do tempo. Em 2001, enfrentando forte crise de crédito, ficou sem condições até para comprar combustível, o que forçou todos os voos a serem cancelados. Em 2002 sua falência foi decretada. Uma solicitação em 2005, tentando a recuperação judicial, não foi atendida. A Viação Aérea São Paulo (VASP) foi fundada em 1933 por um grupo de empresários. Ela também enfrentou crises financeiras, que resultaram na perda da sua autorização para operar, em 2005. Entrou em recuperação judicial, mas não conseguiu resolver os problemas. A Justiça decretou sua falência em 2008.

Voltando ao incidente, ele foi causado pela imprudência de um mecânico ao instalar parafusos de tamanho incorreto para a fixação do para-brisa esquerdo cockpit, retirado para manutenção. Eles são feitos de um material especial, que reúne vidro e acrílico, o que os torna fortes e duráveis, de tal forma que consigam resistir às condições extremas verificadas durante os voos, como alta pressão e temperaturas muito baixas. Mas, precisam ser limpos e polidos com regularidade, com a retirada e recolocação. O que foi feito, naquela oportunidade, com parafusos 0,6 milímetros mais estreitos do que os corretos. A consequência é que o para-brisa foi arrancado em pleno ar.

O piloto Tim Lancaster teve seu corpo parcialmente puxado para fora da aeronave, quando estavam a 17.300 pés de altitude. Não despencou na direção do solo porque comissários de bordo conseguiram agarrar suas pernas. Só que a força do vento era forte o suficiente para impedir que o trouxessem de volta para dentro. O avião continuou voando por 21 minutos, agora com o copiloto Alastair Atchison no comando, até fazer um pouso de emergência no aeroporto de Southampton. Durante todo esse tempo o comandante permaneceu pendurado, sendo castigado pelo vento e uma temperatura de muitos graus negativos.

Houve a coincidência do comissário Nigel Ogden ter entrado na cabine instantes antes. Tinha ido oferecer uma xícara de chá para os pilotos. Quando viu que o corpo do comandante deslizava gradualmente para fora, ele se agarrou nas suas pernas, saltando por cima do manche. Os objetos soltos começaram todos a ser arremessados para fora, alguns o atingindo. E suas forças estavam faltando. O copiloto não podia ajudar, uma vez que ele próprio tinha dificuldades em se manter no assento e assegurar a continuidade do voo. Foi quando chegaram os também comissários Simon Rogers e John Heward, que passaram a auxiliar na tarefa. O primeiro se amarrou em um dos assentos e prendeu os tornozelos do homem pendurado. Também houve a sorte do corpo pendente ter se dobrado, formando uma espécie de “U”. Entretanto, o rosto batia contra o que restara da estrutura da janela e saia sangue do nariz e da lateral da cabeça.

Os homens contaram depois que os olhos de Lancaster permaneciam abertos, o que era assustador. Mas, acreditavam que ele já estivesse morto. O esforço era para entregar o corpo, garantindo sua dignidade. Quando o avião parou na pista, os serviços de emergência acorreram com prontidão. E encontraram o comandante surpreendentemente vivo. Escapara por milagre, mesmo com inúmeras fraturas e queimaduras por congelamento. Alguns meses depois, estava de volta ao trabalho.

10.02.2025

Tim Lancaster, ao lado de Simon Rogers (esq.) e Nigel Ogden (dir.) – Foto: Getty Images

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