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GUERRAS E BATALHAS ENVOLVENDO ANIMAIS

No início do século passado as relações entre Grécia e Bulgária não eram muito boas, devido a conflitos não resolvidos anteriormente. Para complicar a situação, um grupo de búlgaros tinha por hábito criar pequenos casos e disputas na fronteira, especialmente os moradores da cidade de Petrich. Naquela localidade, em 19 de outubro de 1925 um grego que cruzou a divisa atrás de seu cão, que fugira, foi baleado. A Grécia sequer aceitou o pedido formal de desculpas feito pela Bulgária e declarou guerra. Foi necessária a intervenção da Sociedade das Nações, uma organização anterior à ONU, para intermediar um cessar fogo. Mesmo assim, cem soldados perderam a vida, na soma dos dois lados. Do cachorro, nunca mais se soube nada.

Nesse mundo louco já se fez guerra inclusive contra bichos. Como a que a Austrália travou contra emus – que são primos dos avestruzes –, em função de terem esses se multiplicado demais no seu território. Em 1932, sabe-se lá por que motivo, milhares deles migraram do interior do país para mais próximo do litoral. Nesse novo habitat os animais passaram a invadir terrenos e casas, além de destruir plantações inteiras. Por isso o exército australiano enviou um contingente numeroso para a região, com os soldados armados de poderosas metralhadoras Lewis. O que eles não esperavam é que os emus, mesmo baleados, às vezes seguissem em disparada, sobrevivendo para novas invasões. Pior ainda: em pouco tempo eles desenvolveram uma espécie da “tática de guerrilha”, com alguns vigiando os soldados enquanto outros saqueavam o trigo, por exemplo. A um sinal, todos corriam. Depois de várias semanas, houve a desistência humana e as aves venceram.

A marinha brasileira entra no rol das escaramuças grotescas, com o caso da “Batalha das Toninhas”. Esse episódio absolutamente verdadeiro já foi relatado aqui mesmo em virtualidades.blog, dia 18 de agosto de 2021 (Proezas da Marinha do Brasil https://wp.me/p1jFYb-Dk). Isso ocorreu quando um bom número dos pobres mamíferos marinhos, que hoje estão ameaçados de extinção, foi confundido com submarinos alemães. Por isso, nossos gloriosos marinheiros abriram fogo e tingiram o mar com a cor vermelha. E também quase entramos em conflito armado contra a França devido à disputa pelo direito à pesca de crustáceos, conforme foi aqui narrado em 14 de dezembro de 2020 (A Inacreditável Guerra da Lagosta https://wp.me/p1jFYb-nF).

No Século XIX os EUA determinaram, com força de lei, a eliminação dos lobos, porque atacavam o gado. Foram mortos com tiros e veneno. No Século XX tentaram reintroduzir a população do animal, minimizando o exagero da primeira decisão. Também na América do Norte tivemos a Guerra dos Castores, na região onde fica hoje o Canadá. Várias tribos de indígenas lutaram umas contra as outras, algumas delas apoiadas por franceses, disputando o monopólio do comércio das peles dos animais. Muitas vidas foram perdidas em função disso, até 1701, quando finalmente foi restabelecida a paz.

Na Ilha Ramree, na costa da antiga Birmânia (hoje Mianmar), ocorreram muitas batalhas durante a Segunda Guerra Mundial. Mas uma delas, em 1945, foi especialmente cruel. As tropas britânicas cercaram cerca de mil soldados japoneses e os obrigaram a entrar num manguezal. Acontece que o local era a casa de crocodilos, justamente os maiores predadores reptilianos existentes no mundo. É comum espécimes com mais de seis metros e cerca de 900 kg. Pelos menos 500 soldados foram devorados. Isso virou tema no Guinness World of Records (O Livro dos Recordes), que identificou o evento como “o maior número de fatalidades em ataque de crocodilos”.

Cavalos desde sempre foram usados em campos de batalha. Exércitos cartagineses, indianos e persas também utilizavam elefantes. Durante a Primeira Guerra Mundial, raças de cães foram treinadas para operações militares: o pastor alemão da Alsácia, o airdale terrier e o schnauzer gigante, por exemplo. Na Segunda, países aliados passaram a usar pombos-correios para o envio de informações sobre posicionamento de tropas inimigas. Como solução os alemães treinaram falcões para que eles fossem mortos. Enfim, ao contrário dos homens, na natureza os animais matam apenas por fome, medo ou território. Nós fazemos isso por poder, dinheiro, em nome de uma suposta honra e até por motivos passionais. O que, cá entre nós, dificulta muito o estabelecimento do conceito do que venha a ser “civilizado”.

28.09.2024

P.S.: A data de 1º de outubro é consagrada no Brasil como sendo o “Dia Nacional da Toninha”. O objetivo é conscientizar sobre a importância de ser protegida esta espécie, que está em extinção. Nada mais justo, se considerarmos que até nossa Marinha andou contribuindo para o fim destes bichos. 

Toninhas fazem parte de uma linhagem antiga, surgida bem antes da maioria dos golfinhos ou botos

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O bônus de hoje é o áudio da música Bichos da Inglaterra, canção baseada no livro A Revolução dos Bichos, de George Orwell. Nessa versão em língua portuguesa a voz é de Chico Brant, que também toca violão, sendo todos os demais instrumentos (baixo, guitarra e teclados) gravados por Felipe Brant.