Um filme francês lançado no ano de 2019, baseado na história real de Marie de Régnier – também conhecida pelo seu nome de solteira, Marie de Heredia –, uma escritora que produzia romances e poesias assinando com o pseudônimo Gerard d’Houville, é a dica que o blog virtualidades ousa fazer hoje. Seu nome original foi mantido na versão em português: Curiosa. A temática é adulta, uma vez que o roteiro lança um olhar sobre temas como amor, erotismo e sexualidade. Ele está disponível para os assinantes da Amazon Prime Video, sendo lá um dos mais assistidos.

Começa que Marie foi obrigada a casar com o poeta Henri de Régnier, em virtude de dívidas de jogo de seu pai, José Maria de Heredia. Claro que o casamento tinha tudo para ser um fracasso, uma vez que os dois não se comprometeram na busca de qualquer evolução sentimental na relação, puramente conveniente. Foi com esse quadro que ela termina se envolvendo com um amigo do marido, o fotógrafo Pierre Louys. No filme, como se acredita ter acontecido na vida real, explode tudo em termos de arte e vida íntima e amorosa. Cartas trocadas entre Marie e Pierre, mais tarde tornadas públicas, é que nortearam tanto o roteiro quanto a direção do longa.

Tudo se passa entre o final do Século 19 e o início do Século 20, sendo a literatura o seu fio condutor inicial, seguido da fotografia. Duas das mais relevantes expressões artísticas, portanto. Por intermédio delas é que as descobertas da protagonista vão se sucedendo no filme, numa exposição sem exageros e sem apelação. Isso apesar da vida da protagonista ter sido marcada por comportamento nada ortodoxo, considerando-se a época – há, por exemplo, envolvimento em triângulos amorosos e outras experiências. No papel central, a atriz Noémie Merlant atrai olhares e causa suspiros devido à atuação convincente, sutil e muito sensual. Sedutora, para sintetizar. Os atores também conseguem ser muito convincentes.

O filme não aborda toda a vida de Marie, mas narra a publicação do seu livro, A Inconstante, em 1903. E, no desenrolar da história, também se acompanha a utilização das máquinas fotográficas para a captura de momentos eróticos. Aliás, ele consegue com clareza demonstrar que o erotismo não é nem sexo nem pornografia. Enfim, o “curiosa” do título não se refere a uma característica da identidade da personagem, que sem dúvida existe, mas ao nome dado a um tipo de lente fotográfica em francês. E outro detalhe relevante, que flui indiretamente, está no fato de que a psicanálise dava seus primeiros passos naquele mesmo momento.

Se você for assistir, faça isso sem maiores expectativas, mas mantendo o coração tão aberto quanto a mente. Essa é a receita para assimilar uma obra artística que tem leveza e muita beleza. E que consegue nos oferecer um pouco da alma típica da Belle Époque, um período de muita exuberância em termos de cultura, na França.

23.09.2024

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O bônus de hoje começa com o trailer do filme Curiosa. A seguir temos Andrea Bocelli cantando La vie en rose, de Edith Piaf (letra) e Louis Guglielmi (melodia). Ela foi lançada em 1946 – fora composta no ano anterior – alcançando um sucesso estrondoso e planetário.