Como gaúcho de nascimento e porto-alegrense adotivo, estou aqui só esperando quando a minha cidade será tomada por uma nuvem imensa de gafanhotos. Afinal, fazendo as contas, talvez seja essa a última praga que falte. Já tivemos a Covid-19, as enchentes sucessivas, estamos tendo a fumaça das queimadas, suportamos Eduardo Leite, suportamos Sebastião Melo e “Chuva Negra” está anunciada. Com os insetos nós chegaríamos ao número sete. E sete são as pragas apontadas como anunciadoras do apocalipse.

Acho que por aqui reencarnaram todos aqueles que jogaram pedras em Jesus Cristo. Ou que “colaram chiclete na cruz”, como virou moda dizer algum tempo atrás, quando se pretendia identificar uma provável razão para o enfrentamento de dificuldades inesperadas. Se bem que, sendo criterioso na análise dos problemas citados, quase todos poderiam ser evitados ou ao menos amenizados. Não se tinha controle sobre o vírus causador da epidemia, mas faltou agilidade na compra de vacinas e a coragem dos gestores em determinar medidas de isolamento social. As enchentes foram, obviamente, decorrentes do excesso de chuva. Mas, a falta de manutenção nos diques e casas de bomba as agravaram. Sobre as queimadas, temos que acabar com os privilégios do agronegócio e com a impunidade dos que dão ordem ou executam todos os incêndios criminosos. A “Chuva Negra” não viria, sem a poluição atmosférica que as queimadas causam. Votar em Leite e em Melo foi um erro histórico, que podemos reverter – contra o segundo já no próximo mês.

Sobra o risco dos gafanhotos que, para ser sincero, já corremos em 2021, quando a fronteira do Rio Grande do Sul com a Argentina esteve ameaçada. Por pouco os insetos não invadiram nosso território, o que causaria devastação de lavouras e pastagens. Se tivesse ocorrido, até suspeito que também seria “pela ira de Deus”. Afinal, nós tínhamos na ocasião Jair Bolsonaro na presidência, com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Sales, “passando a boiada” e ajudando a destruir a natureza tão perfeita com a qual o Criador nos presenteou.

Brincadeiras à parte, a verdade é que na última terça-feira a empresa suíça IQAir apontou Porto Alegre como sendo a segunda cidade mais poluída do mundo, naquele momento. Especializada no assunto e com reconhecimento internacional pelo serviço que presta, ela monitora o planeta todo com o uso de satélites. De imediato a Prefeitura Municipal se posicionou contra a informação. Segundo a administração, esses dados obtidos por satélite não têm a confiabilidade dos que resultam de uma análise próxima, como a feita pelos nossos órgãos ambientais. Mas, como assim? Esses “próximos” foram os que alertaram o prefeito Melo sobre o enorme risco de enchente, com ele tendo desconsiderado. Agora vale o que eles podem dizer?

Porto Alegre é uma das capitais mais arborizadas do Brasil, apesar do corte desenfreado de árvores que vem sendo promovido em todo o seu território. Entretanto, não possui estações públicas para que se possa acompanhar a qualidade do ar. A cidade, em passado recente, chegou a ter três equipamentos com a finalidade de monitoramento. Acontece que os dois existentes no bairro Santa Cecília e no Centro Histórico foram desligados pela prefeitura. E o do Jardim Botânico está inoperante. Deste modo, não se tem como avaliar nada e a população segue às escuras. Lembrando que a poluição atmosférica pode causar doenças como a pulmonar obstrutiva crônica, as cardiovasculares, derrame e câncer de pulmão. Talvez por isso o prefeito, que terceirizou 96% das Unidades Básicas de Saúde – as UBSs – da capital, esteja agora prometendo, na sua campanha eleitoral, interceder para que elas ampliem seu horário de atendimento. Isso além de jurar que vai construir um novo hospital.

12.09.2024

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O bônus de hoje é o belíssimo samba de João Nogueira, As Forças da Natureza, na voz de Teresa Cristina.