FORMATURAS PÓSTUMAS

Em uma cerimônia realizada na tarde desta segunda-feira, na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP), foram diplomados postumamente um grupo de alunos seus assassinados pela ditadura militar – ela completou 60 anos no dia 1º de abril. Os diplomas foram entregues para familiares dos mortos também como uma forma de ser reconhecida a luta e o sacrifício de cada um deles nos “anos de chumbo”. A universidade, sem dúvida alguma, havia sido um dos pólos mais importantes no enfrentamento daquele período e este projeto, agora posto em prática, recebeu o nome de “Diplomação da Resistência”. O reitor Carlos Gilberto Carlotti Júnior e o diretor da faculdade, Paulo Martins, alcançaram os documentos pessoalmente.

Esta iniciativa visa resgatar a trajetória desses estudantes e preservar o que se pode chamar de “memória coletiva”. Este não foi o primeiro dos atos, uma vez que em dezembro de 2023 já haviam sido diplomados Alexandre Vannucchi Leme e Ronaldo Queiroz, ex-alunos do Instituto de Geociências (IGc). Agora foram mais 15 e no total serão 31 a receber esta homenagem. A USP criara internamente, ainda em 2013, uma Comissão da Verdade própria, com o objetivo de apurar quantas e quais pessoas ligadas à instituição haviam sido vitimadas pela ditadura. Ao todo foram 47, incluindo professores e funcionários, que sofreram graves violações dos direitos humanos, com tortura e morte.

No grupo de ontem estava o cearense Tito de Alencar Lima, conhecido como Frei Tito. Ele iniciou o curso de Ciências Sociais em 1969, mas foi preso e forçado a abandonar os estudos. Barbaramente torturado pelo sádico delegado Sérgio Paranhos Fleury, tanto nas dependências do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) quanto no 36º Distrito Policial, que abrigou a Operação Bandeirante (Oban) – alguns outros dominicanos foram presos na Operação Batina Branca –, ele foi um dos presos políticos trocados pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bücher em janeiro de 1971. Nunca se recuperou e, com danos psicológicos profundos, suicidou-se na França em 10 de agosto de 1974.

Os outros alunos diplomados postumamente nesta segunda etapa foram: Antônio Benetazzo (Filosofia), Carlos Eduardo Pires Fleury (Filosofia), Catarina Helena Abi-Eçab (Filosofia), Fernando Borges de Paula Ferreira (Ciências Sociais), Francisco José de Oliveira (Ciências Sociais), Helenira Resende de Souza Nazareth (Letras), Ísis Dias de Oliveira (Ciências Sociais), Jane Vanini (Ciências Sociais), João Antônio Santos Abi-Eçab (Filosofia), Luiz Eduardo da Rocha Merlino (História), Maria Regina Marcondes Pinto (Ciências Sociais), Ruy Carlos Vieira Berbert (Letras), Sérgio Roberto Corrêa (Ciências Sociais); e Suely Yumiko Kanayama (Letras). Os corpos de alguns deles jamais foram devolvidos às famílias; houve quem morresse com rajada de metralhadora pelas costas; nenhum escapou de tortura; e em dois casos forjaram acidentes de carro para justificar mortos com múltiplas fraturas, algo desmentido posteriormente. Ainda não foi informado quando ocorrerá uma terceira cerimônia.

Esses foram alguns dos “traidores” que morreram defendendo nossa liberdade e a soberania nacional, enquanto “patriotas” mais recentes continuaram entregando riquezas de mão beijada, batendo continência para bandeiras estrangeiras e precarizando a vida de muitos milhões de brasileiros. Quantos desses últimos “corajosos” suportariam aquilo que os jovens estudantes suportaram?

28.08.2024

P.S.: Em agosto de 2013 um projeto de lei aprovado alterou o nome de uma rua na Vila Leopoldina, bairro da zona oeste de São Paulo. Ela deixou de homenagear o torturador Sérgio Fleury e passou a se chamar de Rua Frei Tito.

Tito de Alencar Lima, o Frei Tito

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O bônus de hoje começa com um clipe que foi feito com imagens da novela “Amor e Revolução” e a cantora Pitty interpretando um trecho da música Cálice, de Chico Buarque de Holanda e Gilberto Gil. Depois temos Maria Bethânia cantando Sonho Impossível, que está em seu álbum “A Beira e o Mar”.