É PRECISO APRENDER A FICAR EM SILÊNCIO

Eu sempre falei mais do que deveria e tenho plena consciência disso. Só não me sinto mais culpado por esta falha – felizmente não de caráter, pois essa sim considero indefensável – porque tenho muita ousadia e pouca modéstia para acreditar que, pelo menos na maioria das vezes, não falo besteiras. Enfim, estou dando o passo mais fácil, ao reconhecer este problema. O seguinte, bem mais complicado, precisa ser no sentido de buscar modos de resolver a questão. E, dentro deste contexto, me deparei esta semana com um vídeo na internet no qual a pessoa que o gravou sugere cinco situações nas quais não vale mesmo a pena qualquer coisa que não seja o silêncio. Anotei e repasso, procurando ser o mais fiel possível ao que vi e ouvi, com a descrição do momento seguida do conselho repetido.

A primeira das situações é quando alguém está dizendo como está se sentindo. Escuta e fica em silêncio, pois essa é a melhor maneira de mostrar real atenção e necessária empatia. A segunda é quando todo mundo está falando ao mesmo tempo. Neste caso, nem desperdice a sua energia: fique em silêncio. A terceira é quando não te deixam terminar de dizer o que está dizendo. Como já não estão te ouvindo mesmo, o melhor é ficar em silêncio. A quarta é quando estiver precisando obter uma resposta, uma luz, um direcionamento. Como esse é o momento de ouvir o próprio coração, fica em silêncio. A quinta é quando estiver vivendo um momento único, marcante, algo maravilhoso. Então, o melhor é respirar profundamente e ficar em silêncio, para que possa aproveitar isso tudo ao máximo.

Não acredito que essas situações sejam as únicas e talvez sequer as principais a merecer que se mantenha a boca fechada. De qualquer modo, não custa nada começar a observá-las com a devida atenção: mesmo que não resolvam tudo, na certa irão nos permitir uma sensação boa, de conforto diante dos outros e de nós mesmos. Aliás, precisamos levar em consideração que fazer silêncio não é apenas algo que sirva para demonstrar respeito e generosidade com os outros. O silêncio é também a forma mais poderosa de nos conectarmos com o divino, importando pouco a forma como o concebemos. E essa “descoberta” não é nova nem ocidental. Basta vermos como as religiões orientais – e não apenas elas – cultivam o recolhimento tanto quanto a prece. O voltar-se para dentro muito mais do que as manifestações exteriores.

Os budistas dizem que o que importa é o silêncio eloquente, que é pleno de energia, posto tratar-se de uma quietude consciente e intencionada. Sem dúvida, eles têm razão, pois silêncio não significa mutismo. São duas coisas muito diferentes: o primeiro é prelúdio da abertura para a revelação; o segundo a impede, uma vez que se recusa a recebe-la ou a transmiti-la. O silêncio abre passagens, enquanto o mutismo as obstrui. Aliás, segundo regras monásticas, “o silêncio é uma grande cerimônia”.

Isso posto, afirmo que não quero me calar: só pretendo ter mais disciplina. Preciso manter em mim, tanto quanto possível, a voz que se rebela quando necessário. Que se manifesta quando me ocorre a não aceitação daquilo que considero injusto, absurdo ou desumano. Tenho mesmo que falar menos, mas apenas no sentido da seletividade. No mais, talvez deva acrescentar um cuidado também na escolha dos interlocutores, daqueles dispostos a me ouvir e também a falar comigo. Ser atento com a necessária reciprocidade. E, para terminar, considerar ainda se isso deve se aplicar também ou não ao que escrevo. Até porque, se pensarmos bem, o “falar” ocorre ainda com sinais, gestos e no que se coloca no papel ou nas telas.

21.08.2024

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O bônus de hoje é Sound of Silence (O Som do Silêncio), com Simon & Garfunkel.