DEU PRA TI, RENATO!
Me responda honestamente: que outro treinador você acredita que se manteria no cargo, no Grêmio Porto-Alegrense, após essa sequência inacreditável de derrotas no Brasileirão, além de Renato Portaluppi? Se você resolver pensar um pouco antes de responder ou se resolver fazer uma pesquisa para apoiar sua resposta em dados históricos do clube, estará perdendo seu tempo ou se dedicando a uma busca que será tão demorada quanto inútil, pois a resposta certamente será NENHUM.
Renato é uma figura de fato singular. Atacante vitorioso, treinador com relativo sucesso e estátua na esplanada da Arena, ele tem relevância que poucos atingiram ou atingirão no clube. Quem convive com ele ou ao menos acompanha o noticiário esportivo sabe que ele tem personalidade forte e consegue muitas vezes ser generoso. Entretanto, arrogante como poucos, prepotente a ponto de acreditar que ninguém entende de futebol tanto quanto ele, consegue evocar sentimentos opostos e extremos nas pessoas. Idolatrado e odiado, está sempre em evidência. E sabe, com muita competência, manipular situações e vender uma imagem positiva. O que resulta no fato de ser um dos treinadores mais bem pagos de todo o futebol brasileiro.
O problema é que este cargo parece ser muito pouco para ele. Assim, com a conivência de sucessivas direções que são coniventes com isso, ou pelo menos omissas, ele acumula funções indevidamente. E tem tal poder que se torna intocável. Faz parecer que todas as nossas vitórias e conquistas têm o nome dele; que todas as nossas derrotas e fracassos acontecem quando ele não está presente. Assim, de alguns anos para cá, o Grêmio aceitou se tornar refém desse pensamento mágico. O clube concordou em ficar do tamanho do Renato. Só que ele é muito menor do que o Grêmio, apesar de sequer cogitar essa hipótese. Desta forma, ao fazer isso, a agremiação reduziu sua própria dimensão.
Até pouco tempo atrás uma das coisas que seguravam a sua mística era o fato de que poderia perder para qualquer um, menos para o Inter. Nos Grenais, dava sempre (ou quase) o Grêmio. Até isso se perdeu, agora que estamos vivendo a incômoda sequência de três derrotas seguidas. Também havia – e ainda persiste em muitos momentos – mitos como o de ele ter uma capacidade nata de “recuperar” jogadores que estavam com carreiras em declínio. Tal fato levou o tricolor a contratar, a peso de ouro, atletas que não deram resposta alguma em campo. Do mesmo modo, qualquer menino promissor que surge é uma “descoberta” dele, apesar do trabalho incansável e muitas vezes invisível dos profissionais que atuam nas categorias de base. Mesmo assim, paradoxalmente, ele demora uma eternidade para colocar em campo esses mesmos garotos, que fica “lapidando”, como se o banco de reservas fosse o melhor lugar do mundo para experiência ser adquirida. A prioridade são sempre seus amigos “cascudos”, até que o caldo é entornado e os mais jovens são chamados para tentar a salvação da lavoura.
A teimosia – manifestação prática da arrogância e da prepotência que já citei acima – faz com que insista em jogadores como JP Galvão, contra a opinião unânime da imprensa e da torcida, que não viam nele solução. E dispense o promissor Cuiabano e manter o lateral Reinaldo, também insuficiente tecnicamente para ser lateral-esquerdo titular do time. Isso, citando-se apenas dois dos erros mais recentes. Também não se pode esquecer que suas indicações para contratação se mostram, via de regra, um desastre. Mas, nas narrativas que ele lidera, são citados os poucos acertos, jamais os erros repetitivos. Esse mito, também de certa forma é alimentado pela imprensa. Um exemplo prático: cada vez que esta informa que a direção do Grêmio está interessada em algum jogador vem o complemento no texto, com a afirmação de que ele aprovou. Mas quem é ele para aprovar ou desaprovar alguma contratação? Treinador bom como ele jura ser, adapta esquema de jogo às peças que têm ao seu dispor.
O resultado é que a atual campanha do time no Brasileirão o coloca na incômoda 18ª posição na tabela. Há oito rodadas o Grêmio está na zona de rebaixamento. São apenas 11 pontos ganhos, com três vitórias, dois empates e nada menos do que nove derrotas em 14 rodadas. É um desempenho sofrível, indigno das tradições do atual Bi-Hepta Campeão Gaúcho e Vice-Campeão Brasileiro. Mesmo assim, com o risco do desastre crescendo a cada partida disputada, o discurso não muda. A promessa de que não cairá não se apoia em nada concreto, sendo fruto apenas de uma crença infundada que o clube é maior do que o abismo. Ele não pede o boné e a direção não tem a coragem necessária para tomar ela a iniciativa.
No próximo domingo, às 11 horas, o Grêmio estará em campo para decidir a vaga na fase seguinte da Copa do Brasil. Será necessário vencer o Operário, do Paraná, em jogo que acontece em Caxias do Sul, no Estádio Centenário. Os recursos financeiros que decorrem do fato de ir além na competição são primordiais. O adversário disputa a Série B. Tem menor tamanho e tradição que o tricolor gaúcho. E, mesmo assim, a torcida fica apreensiva sobre o que pode ocorrer em campo. Porque, mesmo que se admita ser o atual elenco insuficiente para competições mais exigentes, o comando – ou a falta dele – não transmite a confiança que dele se espera e precisa. Na derrota mais recente, na quarta-feira, no mesmo local, alguns torcedores jogaram pipoca em Renato. Depois, na entrevista, o treinador fez o de sempre: atribuiu o fracasso a fatores os mais diversos, se isentando o máximo possível da culpa que tem e é grande. Chegou a culpar alguns jogadores publicamente, sem dizer os seus nomes. Falou em “falta de vergonha na cara” e em “corpo mole”. O que mostra que até mesmo sua fama de magnífico gestor de vestiário já não se sustenta.
Renato, por favor: nos classifique e depois peça para sair. Nem que seja para depois dizer que o time caiu porque você não estava aqui, num seletivo e proposital esquecimento da sua parcela de culpa, ao citar todos os pontos que já perdemos por sua culpa até agora. Seja gremista o suficiente para torcer que alguém consiga reverter todas as bobagens que você vem acumulando, nos últimos meses.
12.07.2024

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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é o áudio da música de Jorge Ben Jor, Ponta de Lança Africano (Umbabarauma). Quando lançada, ela conquistou aceitação pública graças aos backing vocals, que a tornam contagiante, assim como devido ao refrão. E é bastante apropriada neste momento em que o Grêmio busca um artilheiro para fazer gols que o ajudem a sair da crise que vive no Brasileirão.