LEITE VAI CRIAR CAMPOS DE REFUGIADOS

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB) decidiu criar em nosso Estado campos onde serão colocadas as pessoas que foram desabrigadas em função da enchente – fenômeno climático que teve os seus efeitos potencializados pela negligência de sua administração e da administração porto-alegrense. Ao melhor estilo Gaza, mas com o nome pomposo e ilusório de “cidades temporárias”, o plano foi anunciado na sexta-feira pelo vice-governador Gabriel Souza (MDB). Segundo ele, a montagem das primeiras estruturas já deverá estar concluída em cerca de três semanas, depois que uma empresa for contratada – sem licitação, óbvio – para a realização do trabalho. Além de Porto Alegre, também Canoas, Guaíba e São Leopoldo serão os municípios “contemplados” com a medida.

No caso da capital gaúcha, o prefeito Sebastião Melo (MDB) já adiantou que seu local preferido é o Porto Seco, onde atualmente ocorre o Carnaval de Porto Alegre, depois que as escolas de samba tiveram, de modo compulsório, seus desfiles afastados das áreas centrais da cidade. O que não se sabe é se Melo tem conhecimento de que tal região da cidade sequer oferece estrutura necessária para os próprios moradores, uma vez que o foco da sua administração é outro. O transporte público é precário, assim como atendimento em saúde e escolas para as crianças, em creches, em áreas de lazer e em tudo mais que permitisse chamar o amontoamento que pretendem de cidade, mesmo que supostamente sendo provisória. Até porque a gente sabe que a tendência posterior é a perpetuação de tudo.

A proposta é altamente segregativa. Trata-se de um mero depósito de pessoas pobres, comprovando a inoperância e/ou ineficiência do trabalho de assistência social do Estado e da prefeitura. No caso desta última, se viu isso recentemente com o caso do incêndio da Pousada Garoa, que saiu das manchetes quando veio a enxurrada. Empilhar todo mundo sem se preocupar com quem são, suas estruturas familiares, seu entorno, as relações pré-existentes enquanto comunidades, os locais onde trabalham e onde seus filhos estudam. Desconhecer isso tudo é deixar de seguir quaisquer protocolos de atendimento humanitário. O acolhimento precisa considerar meios de manter as pessoas o mais próximo possível de suas referências, de sua “vida normal”.

Outro detalhe interessante é que Leite e Melo já disseram que pretendem contar com o apoio de organizações internacionais para o financiamento deste plano. Ou seja, pretendem se “livrar do problema” sem sequer fazer uso dos recursos vultosos que estão recebendo agora do Governo Federal para que o Estado seja reconstruído. Querem parecer atentos e preocupados, mas fazer “caridade com o chapéu alheio”, reservando a verba para outros fins. “Campos de refugiados” a custo zero, melhor ainda.

Hoje, a evidente maior preocupação do governador é evitar que recaia sobre o Governo Lula os merecidos créditos pelas ações em andamento. Porque isso pode repercutir em votos nas eleições municipais de outubro deste ano e nas presidenciais de 2026, frustrando os planos neoliberais que estão em curso. Tanto que tão logo o presidente da República criou o Ministério Extraordinário de Apoio à Reconstrução Gaúcha, nomeando Paulo Pimenta para a pasta, Leite criou a Secretaria da Reconstrução Gaúcha. Nesta, colocou à frente Pedro Capeluppi, um ex-assessor de Paulo Guedes, que até então cuidava da Secretaria de Parcerias e que havia elaborado o edital de concessão do Cais Mauá, uma das áreas fortemente atingidas pela enchente. Ambas as iniciativas têm no fundo a mesma preocupação, só que abordagens opostas: Lula quer ter certeza de que todos os recursos disponibilizados de fato sirvam para o fim proposto; Leite quer ter a gerência dos mesmos sem que seja vigiada sua destinação. Aliás, a exemplo do que tentou fazer com o tal PIX que é anunciado pelo Estado, mas gerido por uma associação privada e muito suspeita.

As águas, tomara que baixem logo. Mas, não se pode é baixar a guarda em relação ao que virá depois. Porque tudo o que está sendo feito – ou deixado de ser feito –, assim como o modo como as coisas aconteçam, irá repercutir e muito no futuro de todos nós, porto-alegrenses e gaúchos.

21.05.2024

Você gosta de política, comportamento, música, esporte, cultura, literatura, cinema e outros temas importantes do momento? Se identifica com os meus textos? Se você acha que há conteúdo inspirador naquilo que escrevo, considere apoiar o que eu faço. Contribua por meio do PIX virtualidades.blog@gmail.com ou fazendo uso do formulário abaixo:

Uma vez
Mensal
Anualmente

FORMULÁRIO PARA DOAÇÕES

Selecione sua opção, com a periodicidade (acima) e algum dos quatro botões de valores (abaixo). Depois, confirme no botão inferior, que assumirá a cor verde.

Faça uma doação mensal

Faça uma doação anual

Escolha um valor

R$10,00
R$20,00
R$30,00
R$15,00
R$20,00
R$25,00
R$150,00
R$200,00
R$250,00

Ou insira uma quantia personalizada

R$

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmente

O bônus de hoje é uma canção linda e triste gravada por Roger Waters, do Pink Floyd: Song for Gaza. Na verdade, se trata de uma versão que ele fez de We Shall Overcome (Nós Superaremos), no ano de 2010. Não se pretende comparar o que acontece por lá com o que ocorre agora em Porto Alegre. Entretanto, são condições que não se deseja ver em lugar algum, essas de deslocamentos forçados dentro do próprio território, essas de uma vida menos plena do que deveria ser.