UM CONTRATO MUITO SUSPEITO

Sebastião Melo (MDB), prefeito de Porto Alegre, se supera a cada dia. Agora, acaba de anunciar a contratação de uma empresa dos Estados Unidos para que faça a gestão do enfrentamento pós-enchente na capital dos gaúchos. Claro que a situação de calamidade pública permite que ele, legalmente, faça isso sem que haja licitação. O que oportuniza ajustar um preço abusivo com menor margem de questionamento. Aliás, não se precisa focar no custo, mas no fato de que nem a necessidade haveria, considerando as disponibilidades próximas e competentes, que poderiam ser buscadas na UFRGS e na PUC-RS, por exemplo. Essas, além de conhecimento, têm raízes históricas e estreita relação com a comunidade porto-alegrense.

Acontece ainda que a escolhida é extremamente suspeita. Foi a mesma Alvarez & Marsal que atuou diretamente na privatização da Companhia Riograndense de Saneamento, a Corsan, tendo sido contratada ainda em 2020. Esta escolha anterior foi do governador Eduardo Leite, com o Governo do Estado pagando R$ 6,6 milhões para que ela prestasse “serviços de consultoria em otimização e análise crítica de plano de investimento”. Dois anos depois, em 2022, um novo contrato garantiu a ela mais R$ 3,8 milhões para a “gestão de processos”. Nenhum dos dois contratos passou por licitação.

O mais interessante de tudo é que no meio destes dois momentos, no mês de julho de 2021, a empresa também foi contratada pela Aegea Saneamento, que em dezembro do ano seguinte arremataria a Corsan. Ou seja, ela operou dos dois lados do balcão, para quem vendia e para quem comprava nesta privatização que foi questionada por boa parte do público sem ser inviabilizada pela Justiça. Agora, se alguém estranha este fato, entendendo a óbvia ilegalidade do processo, precisa refrescar a memória sabendo que foi a Alvarez & Marsal que acolheu nos Estados Unidos o ex-juiz Sérgio Moro, depois de defenestrado do cargo de ministro do governo que ajudou a eleger com uma atuação deletéria. Por lá ele recebeu como salário e bônus mais de R$ 3,5 milhões, em curto espaço de tempo, valor que foi pago por empresas em recuperação judicial – atendidas pela A&M –, sendo que ele mesmo as havia posto em dificuldades, com a Operação Lava Jato. Ou seja, ele dispunha de informações privilegiadas e por elas é que foi pago.

Agora, aqui em Porto Alegre, caberá à Alvarez & Marsal a gestão de recursos financeiros, além de regularizar operações e estrutura do comitê de crise. Ou seja, terá plenos poderes para direcionar as decisões que seriam responsabilidade da prefeitura, com recursos que poderão chegar à casa dos bilhões de Reais. Mas, mexer com quantias vultosas não é novidade para essa empresa. O conceituadíssimo Wall Street Journal publicou, ainda em 2011, uma reportagem na qual informava que ela foi contratada para a reestruturação do banco de investimentos Lehman Brothers, aquele que quebrou e desencadeou a crise financeira em 2008. Para tanto, recebeu meio bilhão de dólares, numa operação que o jornal chamou de “a falência mais cara da história”.

Fundada em 1980 nos Estados Unidos, ela passou a atuar também em nosso país em 2004, quando foi entrando aos poucos e se aproximando das pessoas certas para seus interesses e modo de atuação. Também se precisa acentuar que uma das características da atuação da empresa é que invariavelmente suas “consultorias” resultam em dois detalhes: primeiro a demissão em massa dos trabalhadores, segundo os ganhos estratosféricos da própria Alvarez & Marsal. Exemplo local é a sua participação na recuperação judicial das Lojas Americanas, envolvida em escândalo de fraudes e lançamentos indevidos, que chegou à casa dos R$ 40 bilhões. A fatia da A&M deve ser generosa, enquanto mais de 5,5 mil “colaboradores” foram dispensados. Os donos na empresa, causadores de problema, seguem distantes das mãos da justiça.

18.05.2024

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