LUTA POR JUSTIÇA
Se você for uma pessoa que preza por uma sociedade mais justa e igualitária, não tem como não gostar de Luta Por Justiça. Se você quer manter viva em si e nos seus a chama da esperança, acreditando que ainda poderemos ter uma estrutura social que não desampare pobres, negros e minorias, com certeza irá apreciar posteriormente a decisão de ter ficado diante da televisão para assistir esse filme – tomara ainda que acompanhado de pessoas a quem ama. Porque, com toda a certeza, terá valido muito a pena. A sua narrativa é baseada num acontecimento real, que se passou nos Estados Unidos, país que adora vender a imagem de ser terra de oportunidades, um local onde todos podem prosperar, sem admitir que se trata de uma nação marcada por uma fissura social realmente profunda.
A história mostra o trabalho do advogado Bryan Stevenson, que assume como algo pessoal a luta pela reversão da pena de morte imposta a Walter McMillian. A condenação ocorreu no ano de 1987, apesar de todas as evidências que apontavam para a inocência do réu, que tinha contra si apenas um único depoimento, que foi dado justamente por um criminoso que tinha motivos para mentir. O “detalhe” é que o condenado era negro, em local onde o preconceito racial é marca acentuada. Mesmo assim, o filme conta muito mais do que a história de um condenado à morte: termina sendo uma exaltação ao convívio em harmonia, uma forma de exaltar a dignidade.
O ator Michael B. Jordan, que faz o papel do advogado idealista, mostra uma performance mais do que convincente, materializando toda a sua revolta contra a injustiça. A atuação do ator Jamie Foxx, que faz o papel do acusado, entretanto, está ainda melhor. A forma como ele apresenta o relacionamento do inocente acusado com os demais prisioneiros, assim como a sua tocante reação ao saber da sentença, elevam o nível de toda essa narrativa cinematográfica, dirigida com correção por Destin Daniel Cretton. O resultado cumpre a contento o claro objetivo de mostrar como a sociedade norte-americana é plena em abusos cotidianos.
Convém lembrar, em favor do esforço da arte em denunciar toda essa realidade, que outros filmes também colocaram o dedo nessa ferida, ao longo da história. O racismo é tema central de obras como o excelente Infiltrado na Klan, dirigido por Spike Lee (2018), e de Eu Não Sou Negro, do diretor haitiano Raoul Peck (2016). Agora, se quisermos buscar outro exemplo, mais longe no tempo, nada melhor do que O Sol é Para Todos, de Robert Mulligan, que levou para o cinema em 1962 o forte romance escrito por Harper Lee. Nele, Gregory Peck está perfeito no papel de um advogado liberal que defende um lavrador negro, em uma cidade sulista e preconceituosa ao extremo, acusado de estupro na década de 1930. Um diferencial neste último é que a narrativa é toda feita a partir da perspectiva de duas crianças, filhas do advogado que é o herói da trama e se chama Atticus Finch.
Voltando ao filme Luta Por Justiça, mesmo que ele seja um tanto linear e em determinados trechos até mesmo burocrático – isso se deve ao modo didático de como a defesa feita precisa ser apresentada –, não se pode desvalorizar a sua intencionalidade idealista. E nem tampouco a reta final fortemente emotiva, que é passada a quem tenha um mínimo de empatia e sensibilidade.
04.02.2024
P.S.: Abaixo você encontra o “Algumas Coisas Para Se Pensar” e também o tradicional bônus.

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- A apresentadora Aline Kelmt, da TV Pampa, foi indiciada pelos crimes previstos na Lei 7.716 (preconceitos de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional), por ter defendido ao vivo o extermínio dos palestinos. A pena é agravada pelo fato de o incitamento ter sido feito em um veículo de comunicação, podendo chegar a cinco anos de prisão mais multa.
- Sobre o texto O Bairro da Prostituição, publicado aqui no blog, o amigo Benedito Tadeu César lembra que, além do local citado que fica em Campinas, há outro semelhante em Piracicaba. Esse seria a Ripolândia. Mas, “experiências” do gênero podem ter havido outras na mesma época.
- Traficantes cariocas que dominam três comunidades, entre elas Vigário Geral e Parada de Lucas, todas na Zona Norte do Rio de Janeiro, usam referências bíblicas como símbolos. Os integrantes da facção criminosa se dizem evangélicos e se autodenominam “Tropa de Arão”, nome do irmão de Moisés. Muros e entradas das favelas têm bandeiras com a Estrela de David.

No bônus de hoje, primeiro o trailer oficial de Luta Por Justiça. Depois, a música Stand Up, que faz parte da trilha sonora do filme Harriet (outro que poderia ser recomendado). Ela foi indicada para concorrer ao Oscar de Melhor Canção, em 2020. A história se passa no Sul dos EUA, na época da escravidão dos negros. No clipe que veremos a seguir está Patrícia Ramos, cantora e influencer brasileira.