SONATA AO LUAR

O que essa história tem de triste, também tem de linda. De tal forma que importa pouco saber se esse fato ocorreu de verdade. O mais importante é que ele se materialize ocupando e cumprindo papel de ser exemplo de superação, sensibilidade e capacidade criativa. Falo da suposta razão pela qual o gênio musical Ludwig van Beethoven (1770-1827) compôs Sonata ao Luar. Consta que em fase mais do que difícil de sua vida, morando em uma pensão pobre para onde havia se mudado por necessidade absoluta, estando abandonado e surdo, conheceu uma moça que lá também residia e era cega. Nessa versão dos acontecimentos, teria ela dito a ele que o que mais desejava na vida era poder enxergar uma noite de luar.

Sensibilizado com a situação, ele teria criado outra de suas tantas obras imortais: a Sonata para piano nº 14, Op. 27 nº 2. O nome, que pouco deve significar a quem não é profundo conhecedor de música erudita, se tornou secundário diante da difusão do “apelido”, esse sim reconhecido pela maioria das pessoas: Sonata ao Luar. Ao longo da história do cinema, ela integrou a trilha de inúmeros filmes, sendo a maioria deles romances. Mas, existem também registros que garantem ter o apelido sido dado pelo crítico Ludwig Rellstab, que teria comparado sabe-se lá por que razão a sua sonoridade com um luar sobre o Lago Lucerna. Se essa segunda informação se confirma, põe em dúvida a história que antes apresentei como original. O que, sinceramente, me faz torcer contra o crítico e a favor da moça sem visão e sem nome. Mas, existe ainda versão que afirma ter sido a composição, criada em 1801, apenas uma obra dedicada à condessa Giulietta Guicciardi, uma de suas alunas.

O que ninguém nega é que o compositor sofria de uma enorme carência afetiva, algo trazido ainda da infância. Seu pai era um dependente de álcool que o agredia fisicamente, com frequência, tendo morrido na rua. Sua mãe faleceu jovem e os irmãos biológicos nunca foram próximos a ele. Além disso, a doença que o tornaria surdo progredia de modo constante e irreversível, o que poderia afastá-lo da música. A situação era tão grave que ele costumava levar consigo uma tábua ou caderno, pedindo para quem quisesse lhe dizer algo que optasse por escrever. Entretanto, poucas tinham paciência para tanto, o deixando com escassas condições de se comunicar. A profunda depressão foi resultado lógico, de tal forma que consta ter ele redigido testamento e pensado em pôr fim à própria vida. O que felizmente não ocorreu, permitindo à humanidade ser brindada com tudo que ainda veio a constituir sua obra.

Voltando ao suposto encontro na pensão, Beethoven teria chorado ao se dar conta que sua limitação não era nem a única nem a mais grave de todas. Afinal, ele podia “imaginar” o som e escrever nas linhas de suas pautas – isso mais tarde passou a ser chamado de partituras. Sonata ao Luar, em sua sonoridade, imita passos vagarosos, hesitantes. Talvez os dados por alguém que não enxergue, ao trilhar caminhos estranhos. Estudiosos chegam a garantir que as três notas que se repetem remetem às sílabas da palavra “why?” (por quê), como se houvesse um clamor no sentido de entender as razões da vida.

Essa resposta ele não deve ter tido. Essa resposta não temos nenhum de nós. Mesmo assim, acredito que todos, sem exceção, devemos agradecer por ele ter feito a pergunta. Por ele ter se emocionado e nos permitido compartilhar dessa mesma emoção, através da sua sonata.

27.01.2024

Ludwig van Beethoven

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O bônus de hoje é Sonata ao Luar (Moonlight Sonata), com a pianista Lola Astanova e o violoncelista Stjepan Hauser. Astanova é nascida no Uzbequistão e se tornou mundialmente conhecida principalmente em função de suas interpretações de compositores como Chopin, Liszt e Rachmaninoff, além da performance visual e das transcrições de piano. O croata Hauser também é uma estrela da música, realizando as suas apresentações solo ou em parcerias, por todo o mundo.