RENATO É PENSAMENTO MÁGICO

O termo pensamento mágico é de uso comum em algumas ciências, como a psicologia e a antropologia. Ele refere certo esforço, em geral inconsciente, no sentido de estabelecer uma relação causal (de causa mesmo) entre elocuções e ações. É atribuir certos acontecimentos a outros eventos que, na realidade, nada têm a ver com eles. Algo que ocorre muito no futebol, com os torcedores. O time só ganhou porque eu fui ao estádio com minhas meias da sorte; só posso ver a partida na televisão com o som do rádio e a bandeira sobre o sofá, numa determinada e imutável posição; nunca pronuncio o nome do time rival, porque isso traz um azar danado; perdemos apenas porque eu não estava lá, no campo de jogo.

Renato Portaluppi é pensamento mágico no Grêmio. E sabe aproveitar isso como ninguém jamais soube. Maior ídolo da história do clube, como jogador, se transformou em mito como treinador, mesmo quando tem menor responsabilidade pelas vitórias do que provavelmente gostaria e certamente propala. Agora, é impressionante a capacidade que ele tem de absorver todos os méritos e terceirizar todas as culpas. Se algo dá errado, foi a imprensa, o estado do gramado, os erros da arbitragem – só aqui vez por outra ele tem uma certa dose de razão, mas nem sempre – a CBF, o clube investiu menos do que se precisava, o escambau. Ele só não culpa os deuses para não ofender seus semelhantes. Entretanto, afirma ou deixa a entender que todo gol salvador tem o dedo dele, que todas as viradas improváveis vieram das substituições geniais. Nesse último caso, esquecendo de uma das máximas do futebol: mexe bem quem escala mal.

O Grêmio acaba de ser vice-campeão brasileiro, terminando essa que foi uma das mais parelhas competições de todos os tempos, apenas dois pontos atrás do Palmeiras, que ficou com o título. E com uma vitória a mais, o que significa que bastaria ter alcançado dois empates entre os jogos que se perdeu. O senso comum e precipitado de imediato atribuiu a ele ter “chegado tão longe”, com pouca gente pensando que talvez pudesse ser outro o foco. O ter sido “graças ao Renato” tem como ser visto ter ido além do esperado, em função do bom trabalho dele; como também pode significar que algumas das suas teimosias nos custaram esse tão pouco que faltou. Outra vez não aproveitamos a chance de repetir a volta olímpica daquele longínquo 1996. Isso porque se perdeu alguns jogos e pontos de uma forma inacreditável. E porque em casa o time passou o ano todo rugindo feito um leão, enquanto fora miava como um gatinho, sem que o treinador tenha tido em momento algum sequer uma explicação plausível para o fato.

Precisamos também falar sobre dois pontos no qual Renato de fato é fera. No trato com os jogadores nos vestiários e na sua estratégia de renovação de contratos. Aqui no Grêmio sempre os faz por apenas um ano, sem cláusulas de renovação ou multas contratuais, no caso de quebra. Quando a temporada vai terminando – e vamos admitir que com ele raramente ela é ruim – ele começa com um teatrinho de que não sabe se irá continuar, que agora é o tempo do seu futevôlei no Rio de Janeiro, que o assunto é da alçada do presidente. Com esse último tópico, transfere a culpa para a instituição. E além do reajuste que ele sempre pede também inclui, como está fazendo agora, solicitação de reforços. Sem a vinda deles, não se conseguirá títulos, garante. Ou seja, antecipa indiretamente a eventual culpa por fracassos vindouros. Jóquei se tinha, a montaria (o elenco) é que deixou a desejar.

Não chego ao extremo de dizer que Renato seja hoje um mal para o Grêmio, pois isso seria um exagero. Mas, afirmo categoricamente que é um vício, um descaminho, uma quase perda de tempo. Acreditar que a presença dele fará o clube ser vencedor e que outro qualquer, seja quem for, não conseguirá isso, é um pensamento mágico típico. Mas, enfim, o homem é um ídolo e uma estátua. Torço muito por ele, mas não na casamata. Precisamos de novos rumos e caminhos. E esses só virão depois que ele for tomar novos ares. Iniciar a temporada de 2024 com Renato será repetir a alimentação de sonhos que não irão se concretizar. Pelo menos não naquelas disputas mais importantes, como serão a Libertadores, a Copa do Brasil e outra vez o Brasileirão.

Não bastasse isso, Renato ainda está tentando convencer o presidente Guerra a colocar os meninos das categorias de base no Gauchão, praticamente abrindo mão do único título que temos conseguido nos últimos anos, logo agora quando se está a apenas dois para alcançar a maior sequência da história. Sou hexa pela terceira vez e não abro mão de buscar nosso segundo hexa e o inédito octacampeonato. Claro que, se ele ficar e sua sugestão for acatada, se pode esperar que também o treinador seja interino, de tal forma que o clube perde o título, mas ele não – suposição minha, sem a necessária concretização.

O treinador está em processo de negociação essa semana. Mas, mesmo se dizendo muito preocupado com a situação financeira da agremiação, não deixou de pedir um polpudo aumento. Os atuais vencimentos, na casa de R$ 1,2 milhão por mês, lhe pareceram insuficientes. Quer 50% de reajuste, passando para R$ 1,8 milhão. Por favor, presidente Guerra! Não aceite isso! Por menos da metade desse valor pode haver reposição de qualidade. Que tal uma sondagem pelo treinador do Fortaleza, o argentino Juan Pablo Vojvoda? Isso se ainda for considerada prematura uma oportunidade para jovens, como o treinador do Juventude, o paulista Thiago Carpini. Deixe a estátua do Renato lá na esplanada da Arena, onde ela se encontra. Mas aproveite a oportunidade para arejar nossa comissão técnica, terminando com essa relação simbiótica, com essa aparente interdependência. Sua administração já demonstrou coragem e ousadia ao ter trazido Luiz Suárez esse ano. Repita isso agora, com alguns reforços pontuais e um novo nome no comando.

14.12.2023

Renato Portaluppi

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O bônus de hoje é a música Pensamentos Mágicos, talvez a mais dançável entre todas as do álbum Véspera, do grupo Clãs. Eles são portugueses, tendo surgido em 1992. E se dedicam aos gêneros pop, dance e eletrônica.