O RISCO DE UMA GUERRA PRÓXIMA DEMAIS
O termo que refere “proximidade”, do qual estou fazendo uso no título desta crônica, diz respeito à geografia e não ao tempo. Ao menos por enquanto segue sendo uma esperança grande – e felizmente alicerçada em fatos – que tudo possa ser resolvido pela via diplomática. Mas, uma vez que nem todos os atores envolvidos no processo são confiáveis, seja em propósito ou em ações, ainda convém que se coloque as barbas de molho. Entretanto, acredito ser quase unânime o desejo que Venezuela e Guiana não cheguem ao recurso militar como forma de solucionar esse conflito no qual se envolveram. Vamos lembrar que ambos os países fazem divisa com o Brasil.
Agora, precisamos dizer que o problema não é recente: ele tem mais de cinco décadas e não foi enfrentado de forma adequada. O que fez com que o problema recrudescesse foi a permissão concedida pelo governo de Georgetown no mês de outubro, para que seis empresas petrolíferas estrangeiras, incluindo a francesa Total Energy e a estadunidense Exxon, explorasse petróleo em uma área que sempre esteve em disputa pelos dois países. A resposta de Caracas foi convocar um plebiscito, no qual a população venezuelana votou pela definição do Essequibo como sendo território seu e não guianês. Imediatamente após isso, Nicolás Maduro propôs uma lei que prevê a criação de uma nova província e divulgou um mapa no qual as novas fronteiras estavam assinaladas.
Outro ato do presidente da Venezuela foi ordenar à petroleira estatal PDVSA que conceda licenças para exploração imediata dos recursos naturais abundantes que existem na região que pretende anexar. Ao mesmo tempo, informou às empresas que receberam outorga do governo da Guiana, que elas terão três meses para abandonar suas operações no mar ou estabelecer uma nova negociação, uma vez que ele “está aberto ao diálogo”. Também nomeou o general Alexis José Rodríguez Cabello como governador provisório, declarando ser a partir de agora ele a “autoridade única” naquele território.
Convém lembrar que a Venezuela tem o maior poderio militar de toda a América Latina, rivalizando com o Brasil em número de soldados, mas nos superando em termos de qualidade do equipamento e no treinamento do pessoal. Sua Força Aérea, por exemplo, tem caças mais avançados e número importante de aviões de carga, além de uma enorme quantidade de helicópteros. A Guiana, por sua vez, não chega a ter um total de cinco mil soldados, não tendo a menor chance de se defender sozinha de um eventual ataque. Mesmo em termos de população total, o número mal passa de 800 mil pessoas. Isso é pouco menos que os habitantes de João Pessoa, na Paraíba. Entretanto, não se pode esquecer que o país tem fortes laços com o Reino Unido, do qual foi colônia, que podem fazer sua defesa. E também há os EUA, que a protegeria de imediato, não por caráter humanitário e sim por estar de olho não apenas no petróleo como em outras tantas riquezas minerais abundantes. Há ferro, níquel, urânio, cobre, quartzo, ouro, diamantes, magnésio e bauxita no subsolo do país.
Esse imbróglio todo iniciou no Século 19, quando a Venezuela se tornou independente da Espanha. Isso se deu a partir da tomada de Caracas, em 1813, por Simon Bolívar. Uma partilha posterior do território foi feita entre França, Holanda e Inglaterra, que mantinham colônias nas áreas adjacentes. E essa última, de forma fraudulenta, “absorveu” parte que antes era dos espanhóis. Posteriormente, o Reino Unido admitiu discutir a questão, para a busca de uma “solução satisfatória” com a Venezuela. Mas, isso nunca foi feito. Assim foi que, modernamente, quando a Guiana se tornou independente (1966) a área em disputa acabou ficando nela, com os ingleses “lavando as mãos”. Foi então acertado um prazo de quatro anos para acordo. Como ele não prosperou, novo protocolo congelou o assunto por outros 12 anos. Isso veio até 1982, quando a Venezuela denunciou o tema para a ONU e essa outra vez manteve tudo em “sono profundo” até 2015, quando foram descobertos bilhões de barris de petróleo nas águas profundas da Guiana, boa parte deste mar territorial ficando justo na disputada Essequibo.
Com tanto dinheiro em questão, não se espere que alguém abra mão de qualquer coisa. Maduro pode até estar blefando, para forçar uma divisão dessa enorme riqueza. Mas, o “Grande Irmão do Norte”, mantendo sua postura de xerife do mundo, se apressou em anunciar que estuda colocar uma das suas bases militares no território em disputa – um contingente já chegou a Essequibo em tempo recorde. O que não se trata de novidade na região, uma vez que possui outras na Colômbia, no Suriname e na Guiana Francesa, essa com a OTAN. Seria apenas mais uma a cercar a Amazônia. E, se houver conflito armado, novamente isso ocorrerá muito longe da Matriz. Para ela se remete sempre os lucros: o sangue eventualmente derramado é problema dos outros.
08.12.2023
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Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmenteO bônus de hoje é a canção venezuelana Alma Llanera, de Rafael Bolívar Coronado (letra) e Pedro Elias Gutierrez (música), uma das mais populares daquele país. Nessa interpretação, por estranho que possa parecer, temos Baltazar Juarez com os “mariachi” Los Caballeros, que na verdade se trata de um grupo croata que se dedica à execução de músicas tradicionais latino-americanas, especialmente do México. A apresentação se deu em Zagreb, em 2014.