VÍCIOS DE LINGUAGEM

Vícios de linguagem são muito mais comuns do que se pensa. Todos nós os temos ou conhecemos alguém que os tenha. Por incrível que pareça, até mesmo entre profissionais da comunicação vez por outra se encontra um, quebrando parte da qualidade possível de um trabalho que estava sendo bem feio. O mais comum talvez seja o dizer repetidamente e de forma interrogativa um “né”. Assim como se fosse necessário obter a aprovação do interlocutor a cada frase falada. Só que este, via de regra, não responde. Até porque, talvez inconscientemente, se dê conta de que não está lhe sendo feita de fato uma pergunta. E, ao não fazer isso, de responder, não alerta o outro sobre seu erro.

Esse “né” se trata de uma contratura da interrogação “não é?”, como se viu no parágrafo anterior. Apesar de muitas vezes se tornar irritante para quem ouve, não se trata do maior dos problemas, uma vez que existem outras expressões bem piores. Mas não é apenas a repetição que torna tudo desagradável. Ela muitas vezes é inclusive usada de propósito, na linguagem oral e também na escrita, como forma de ressaltar o que está sendo dito ou escrito. Uma redundância reforçativa. O terrível é quando isso se dá de forma não intencional, porque então ocorre o contrário: se dá desvio de atenção e falta de clareza no entendimento da mensagem.

Vícios de linguagem podem ser classificados como ambiguidade, hiato, barbarismo, colisão, cacofonia, estrangeirismo, pleonasmo, solecismo, eco, arcaísmo, preciosismo, plebeísmo e parequema. Eu não vou entrar em detalhes aqui, por duas razões: a primeira e principal é que me falta conhecimento em profundidade suficiente para esclarecer quais as características de todos eles e estabelecer diferenças. Outra razão é que este espaço está longe de pretender assumir uma função professoral. Aliás, em geral é mais fácil confundir do que esclarecer, sendo minha escrita apenas uma motivação para quem lê buscar real conhecimento fora.

Na verdade, sendo bem honesto, abordei esse tema porque ontem estive com uma pessoa que era viciada neste “né” que citei. Lá pelas tantas eu nem prestava atenção no que ela estava realmente dizendo. Me peguei foi contando quantas vezes a expressão estava sendo repetida, ficando envergonhado com minha atitude. Quisera eu ter a intimidade necessária e suficiente para sugerir que buscasse solucionar isso de alguma forma. Agora, admito que também não sei como se faz. Talvez só mesmo se policiando, buscando estabelecer uma espécie de plano de recompensas e punições, quando se controlasse ou não. Profissionais que possam ajudar também devem ser uma boa pedida: fonoaudiólogos e psicólogos podem ser necessários e muito úteis.

Em termos de questionamento impertinente além do “né” se pode citar o “entende” – o Pelé usava muito esse. E existem aqueles sons que não constituem exatamente uma palavra, mas servem como bom exemplo de vícios. O “ahã” ou “aham” são interjeições desagradáveis. Existem o “bem”, o “tipo assim”, aquele “éééé” alongado. Tem ainda quem diga algo mais elaborado, como “na verdade”, reafirmando sem parar a veracidade do que estão contando, o que é mais comum quando da oralidade. Pensando bem, na escrita eu uso com relativa frequência. Também vou ter que me policiar.

E, para fechar essa série de exemplos que com certeza são parciais, tem quem ao invés de relatar algo que pensa sobre um fato ou sobre alguém, assumindo opinião própria, trata de atribuir isso a terceiros. Assim surge o “diz que” nas conversas, assim mesmo no singular, mesmo quando a suposta origem da informação é múltipla. Mas, acho que só mesmo se forem gravadas as manifestações e depois postas para serem ouvidas, para que admitam a ocorrência. Porque esse vício, como outros tantos tão perfeitamente humanos, são quase sempre negados por quem os possui.

02.12.2023

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