SEM PRESSA DE CRESCER

Por que cargas d’água os adultos geralmente comemoram o crescimento das crianças, de tal forma que parece ser isso a coisa mais importante do mundo? Eu era pequeno e, quando chegava na casa dos meus avós ou de algum dos meus tios, a primeira coisa que ouvia era uma espécie de felicitação pelo fato de estar alguns centímetros mais alto. Algo assim como estar próximo de uma promoção. Como se ficar adulto fosse muito mais do que um destino, uma conquista. Pior é que isso não se limitava ao aspecto físico, incluindo também comportamento, aspirações. Perguntavam o que a gente queria ser quando crescesse, por exemplo. Estando na escola, como tinha sido o ano letivo e se tínhamos sido aprovados; para que ano havíamos “passado”.

Não lembro nunca de terem me perguntado se havia superado algum dos meus medos, se tinha feito novas amizades, aprendido alguma nova brincadeira ou simplesmente se estava feliz. Mas, adultos mal têm tempo de cuidar da sua própria felicidade, como exigir que se preocupem com a dos outros? Ainda mais se nesse grupo de “outros” estão aqueles que ainda não cresceram e, portanto, na concepção deles não devem ter noção exata do que é ser feliz. Ledo engano. As crianças sabem sim, mesmo que não tenham ainda descoberto um modo de falar sobre isso, de se expressar.

Agora, estranho é que esses mesmos adultos que te incitam a crescer rápido, a falar sobre teu futuro quando o que você mais quer é apenas aproveitar o presente, de certa forma mudam o foco quando estão em outro nível de relação contigo. Quando afinal você se tornou adulto e eles estão no que chamam sei lá porque de meia-idade, recomendam e até comemoram se você guarda em si um pouco da criança que foi. Passam a te lembrar daquele outro tempo de convívio. E dividem contigo uma boa dose de saudade.

Se por um lado é quase fundamental ser maduro, ser responsável na e com a vida, afirmo categoricamente, do alto dos meus 66 anos, que serão alcançados essa semana, ser também de visceral importância para nossa existência a manutenção de uma dose moderada de uma saudável irresponsabilidade. Ou tudo se tornará uma chatice profunda, que nos remete a casas de repouso, sejam elas materiais ou não; tenham elas um endereço físico ou habitem apenas nossa consciência, nossa percepção, o ambiente familiar. Se deixarmos morrer dentro de nós a adolescência, estaremos abrindo mão de energia vital. Se nos esquecermos totalmente da infância, estaremos desaprendendo o quanto é maravilhoso fazermos descobertas.

Crianças, por exemplo, são sempre otimistas. Eles tendem a ver o que de melhor existe nos outros e nas oportunidades que recebem. Se algo acontece de ruim, em geral suas lágrimas são passageiras. Uma outra importante característica é que elas não se comparam com as outras, do modo que fazem os adultos. Até têm sido ensinadas a fazer isso, pela ação das estruturas sociais de agora, mas afirmo a vocês que estão resistindo tão bravamente quanto podem. Mesmo assim, elas seguem acreditando em milagres, em magia, repletas de esperança, dando tanto ou mais valor aos sonhos do que à realidade. São genuínas e isso não tem preço.

Por isso tudo sugiro a quem esteja lendo: não tenham pressa de crescer, nem se cobrem um comportamento sempre exemplar. E quem ainda puder, que dê um passo atrás. Novembro está chegando ao final, logo teremos o período das festas e, acredite, você vai merecer presentes de Natal mesmo sem comprovar ter agido sempre dentro do previsto e desejável, ao longo do ano. Se não os receber – me refiro aos que são meramente materiais –, lembre-se que estar por aqui ainda será algo de um valor inestimável. E asseguro a vocês: também isso é sentido em profundidade muito maior se for examinado não pela racionalidade adulta, mas pela ótica espontânea de nosso lado criança. Pode ser paradoxal, mas é verdadeiro.

24.11.2023

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O bônus de hoje é clipe com a música Aquarela, composta por Vinícius de Moraes e Toquinho, em meados de 1983 (não estranhe: o som demora uns instantes antes de iniciar).