ANA CLARA FOI MORTA PELA GANÂNCIA

A estudante de psicologia Ana Clara Benevides, de 23 anos, faleceu na noite da sexta-feira, 17 de novembro, ao cometer a ousadia e tentar ver o show que a cantora Taylor Swift realizava no Rio de Janeiro. A jovem viera da pequena cidade de Sonora, no Mato Grosso do Sul, justamente para isso. Conseguiu ocupar um dos primeiros lugares disponíveis no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, que fica na Zona Norte da capital carioca. Mais de 50 mil pessoas se encontravam no local, que todo o dia – e mesmo a noite – enfrentava forte calor. Estimativas garantem que a sensação térmica beirou 60 graus centígrados. Após sofrer um desmaio, o que também aconteceu com centenas de outros fãs – segundo dados extra oficiais divulgados pelo Corpo de Bombeiros foram algo perto de mil pessoas –, Ana Clara foi conduzida para o Hospital Municipal Salgado Filho, onde veio a falecer.

Essa tragédia, no entanto, não foi obra do acaso. Não se tratou de um simples acidente. Uma série de fatores contribuíram para o fato, com a ganância dos organizadores do evento podendo ser apontada como o maior deles. O exemplo mais gritante foi a proibição de que as pessoas adentrassem no estádio com recipientes com água, pela simples razão de que deveriam adquirir lá dentro o que desejassem beber. Por preços exorbitantes, lógico. Ou seja, não bastava o lucro considerável garantido pela bilheteria, a receita precisava ser engordada. Além disso, soube-se depois, tinham tampado as entradas de ventilação, para que nenhuma pessoa de fora pudesse espiar o show sem pagar ingresso.

A temperatura era tão elevada que fãs que se encostaram nos gradis de metal, próximo onde Ana Clara estava com sua amiga Daniele Menin, tiveram graves queimaduras na pele e também precisaram ser atendidos. As duas amigas haviam comprado ingressos do pacote VIP, chegando ao estádio às 11 horas da manhã. Os portões foram abertos por volta das 15 horas, tendo elas aguardado ainda até 18h30min para alcançarem a acomodação desejada. Daniele teve tonturas fortes, mas os sintomas em Ana Clara foram mais intensos ainda. E definitivos.

Este abuso praticado contra frequentadores de espetáculos, tanto musicais quanto teatrais e esportivos, tem sido recorrente. Nos últimos tempos, quando você busca adquirir um ingresso, além do preço normal é cobrada uma inoportuna e inconveniente “taxa de conveniência”, que em alguns casos pode chegar a 20% do valor do ingresso em si. Mas, é evidente que esse “extra” não é acrescentado ao borderô, o que pode mascarar a receita real. Quando quem se apresenta tem, por contrato, direito a parte do que é arrecadado na bilheteria, acaba lesado. E a mesquinharia das empresas em muitos casos chega a minúcias inenarráveis.

No mês passado fui a um jogo do Grêmio, na Arena, e a empresa que a administra – não é o clube que faz isso, infelizmente –, através dos seus fiscais, tentou impedir a minha entrada porque encontrou no bornal que eu levava com boné, manta do clube, celular, documentos e chave do carro, uma barrinha de cereais. Juro que nem lembrava que ela estava por lá. E obviamente eu não a usaria para agredir ninguém – era de nuts, não de ferro. Mas, era o jeito de me obrigar a enfrentar de qualquer nível de fome adquirindo o que eles vendem lá dentro. Não aceitei entregar e esperei uma “autorização superior” para poder me dirigir à cadeira, que é minha. Nos pontos de venda internos, junto às cadeiras, as opções de compra, com preços maiores do que praticados fora, se resumem desde a abertura da Arena a fatias de pizza (muitas vezes frias e demasiado gordurosas), um cachorro quente de molho aguado que empapa o pão, e a única coisa tragável e nem sempre apetecível, que é a pipoca.

Evidente que esses problemas gastronômicos estão longe de adquirir a importância do fato que motiva esse texto. Não se pode entender como aceitáveis descasos que custam vidas. A garota era uma das alunas da Universidade Federal de Rondonópolis, no Mato Grosso. E atuava como diretora do grupo atlético daquela instituição. Era alegre, saudável, cheia de futuro. No dia seguinte à morte de Ana Clara o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, anunciou portaria determinando ser a partir de agora obrigatória a permissão de entrada de garrafas de água para uso pessoal, em shows que ocorram em todo o território nacional. Também precisarão ser disponibilizadas ilhas de hidratação, com distribuição gratuita de água potável. Como nova apresentação da cantora Taylor Swift estava marcada para ocorrer no mesmo local, os organizadores se apressaram a informar que permitiriam o ingresso da água, como se isso fosse uma deferência deles e não uma obrigação legal, uma vez que a portaria já estava assinada, publicada e valendo. Não colou o esforço de marketing. A TF4, empresa promotora no Brasil dos shows da turnê mundial The Eras Tour, da cantora Taylor Swift, ainda tem muito a explicar. E tomara que nós não tenhamos mais nada a lamentar.

22.11.2023

Ana Clara Benevides

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O bônus de hoje, como forma de homenagear Ana Clara, é um clipe com a música You Belong With Me (Você Pertence a Mim), de Taylor Swift.