OBRIGADO NORDESTE!

A noite entre os dias 30 e 31 de outubro de 2022 foi uma das mais felizes de toda a história do Brasil. Ela marcou uma espécie de ressurreição da pátria, o que foi determinado pela eleição de Luis Inácio Lula da Silva para presidente da República, ao receber a maior votação de todos os tempos. Nela, 60.345.999 brasileiros deram juntos um basta ao estado de coisas que estivera vigente nos últimos anos. E isso ocorreu, em grande parte, devido à resistência do Nordeste, a quem os democratas de todas as regiões devem um agradecimento que não tem preço, que nunca será suficiente.

O resultado que apontava a vitória de Lula foi confirmado exatamente às 19h37min do domingo, quando 98,81% das urnas haviam sido apuradas e não havia mais condições matemáticas do seu adversário o alcançar. A totalização ainda demoraria um pouco mais, entretanto a festa não tinha porque esperar por ela. Gritos entalados por seis anos, dois ocupados pelo golpista Michel Temer e outros quatro pela excrecência eleita, seriam afinal liberados da garganta da democracia.

Horas depois da decisão tomada pela maioria do povo, o presidente eleito se dirigiu aos cidadãos e cidadãs reafirmando seu compromisso: “Somos um único país, um único povo, uma grande nação. É preciso reconstruir este país em todas as suas dimensões”. Simbolicamente, estava dado o pontapé inicial para o seu terceiro mandato, aquele que seria com certeza o mais desafiador de todos. Começava o trabalho para mostrar ao Brasil e ao mundo que este país continental voltava a ter um presidente digno do seu tamanho físico e moral, voltava a ter comando comprometido com a civilidade. E merecia reconquistar o respeito que já tivera entre as demais nações, por merecimento.

O novo governo ainda não estava constituído, mas muitas de suas metas eram claras e do conhecimento de todos. Retirar outra vez nosso país do Mapa da Fome, para onde fora reconduzido, com mais de 33 milhões de pessoas em insegurança alimentar; retomar o investimento na educação em todos os seus níveis; trazer de volta o Mais Médicos, um sucesso que fora reconhecido em todos os recantos, pelo atendimento próximo e humano; impedir que a boiada continuasse passando no meio ambiente, com desmatamento recorde, garimpo ilegal, escancaramento ao excesso de agrotóxicos e abandono dos povos originários; impedir que pessoas comuns e milícias continuassem se armando; combater o endividamento das famílias; investir na valorização da cultura; geração de trabalho e renda; a criação de um novo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC); a retomada do Minha Casa Minha Vida; e muito mais daquilo que já existira e fora retirado.

Pela primeira vez um presidente que tentava a reeleição não alcançou esse objetivo. Mesmo tendo sido empregados recursos jamais sequer imaginados antes, em termos de uso da máquina e do dinheiro públicos na campanha, bem como apoio financeiro vultoso, além de manipulação via redes sociais e o fundamental auxílio das estruturas de igrejas pentecostais e do agronegócio. Até mesmo o uso da Polícia Rodoviária Federal, na tentativa de impedir a chegada de eleitores aos locais de votação, nada foi suficiente diante da vontade inquebrantável da maioria. A vitória de Lula não foi do Partido dos Trabalhadores e sim resultante de uma grande mobilização nacional, de toda uma população que entendeu que era essa a alternativa a um novo mergulho na escuridão, que com certeza seria ainda mais profunda. Mobilização essa que teve seu ponto alto no Nordeste, onde TODOS os Estados votaram a favor do petista.

Analisando isso com os percentuais, para que fique mais claro, por lá Lula teve 69,34% dos votos no segundo turno, contra apenas 30,66% de Bolsonaro. Mais do que o dobro, portanto. Na Região Sul, onde a maioria apoiou o candidato da extrema-direita, a diferença não foi tanta a ponto de compensar. E, mesmo nessa, a distribuição foi irregular, com bolsões de resistência ao então presidente. Porto Alegre foi um exemplo nesse sentido, uma vez que a capital gaúcha destinou 53,5% dos votos para Lula e 46,5% para Bolsonaro.

Essa situação contribuiu também para que um antigo preconceito viesse abaixo. A arrogância de sudestinos e sulistas, que sempre atribuíram a si mesmos um maior discernimento e politização, foi desmentida. As urnas provaram que se isso de fato aconteceu algum dia, há muito se tornou coisa do passado. De que não existe uma equiparação entre o maior desenvolvimento econômico com posições de vanguarda. Tanto que foram essas duas regiões que capitanearam a defesa do atraso, do preconceito e até do retrocesso, em vários temas.

Enfim, não haveria espaço neste texto para relatar tudo o que vem sendo mudado para melhor. Nem para o tamanho da dívida que se tem para com a Região Nordeste. Posso apenas dizer e dizer e repetir sempre: obrigado. Muito obrigado mesmo.

31.10.2023

P.S.: Essa semana completa também um ano a “solenidade” na qual um grupo de bolsonaristas se reuniu ao redor de um pneu e cantou, em sua homenagem, o Hino Nacional Brasileiro. A cena inusitada ocorreu em Irati, no interior do Paraná, com as imagens correndo mundo afora.

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O bônus de hoje é Estamos Todos Bêbados, com o grupo Matanza. Na letra, a comemoração incontida de amigos em um bar. E a ironia é que ela fala de um que perdeu dedo no trabalho. “O açougueiro sem dedo que trabalhava no cais/ Passava o dia fazendo piada da falta que o dedo lhe faz/ Dizia com riso amarelo: Ouça bem, meu rapaz/ Ao trabalhar com o cutelo nunca beba demais“. Existem ainda dois refrões distintos na música, com um deles explicando a razão dos encontros: “Somos amigos em terra, somos amigos no mar/ Juntos fomos à guerra, juntos estamos no bar”. Essa é uma das faixas do álbum A Arte do Insulto.

Matanza – Estamos Todos Bêbados