POIS NÃO, POIS SIM E OUTRAS EXPRESSÕES

Aqui entre nós, vocês não acham estranho a gente chegar em um lugar qualquer, uma casa comercial por exemplo, e ouvir um “pois não” logo na entrada? Não pedi nada e já me negaram. Tudo bem, eu sei que isso não é uma negativa. É como dizer “estou a seu dispor”. Mas, por que não falam assim como escrevi ou usando aquela pergunta clássica “em que eu posso servir”, por exemplo? O termo expressa disponibilidade, uma anuência, cortesia até. Entretanto, sempre me soou um tanto impróprio.

O “pois sim”, por sua vez, não é o oposto da primeira expressão. Este denota mesmo uma desconfiança, uma não aceitação. Algo assim como “imagina se eu acredito”. Então, acrescento eu, para desespero de quem busca aprender português, especialmente sendo estrangeiro, nem uma coisa nem outra demonstra objetivamente aquilo que está escrito ou é pronunciado. Se a primeira não nega, a segunda não permite, não é aprovação. Por essas e outras o nosso, como qualquer idioma, tem lá suas peculiaridades.

Agora, quando alguém fala em “perder a linha” não está se referindo ao extravio de um carretel, tentando dizer que uma pandorga fugiu céu afora levando consigo o fio de nylon que a retinha ou que um peixe foi mais forte do que o pescador imaginava e cortou a linha que o prendia ao caniço. O que de fato foi perdido, na maioria desses casos, foram as estribeiras, a compostura, a boa educação. Por outro lado, “andar na linha” não é se arriscar nos trilhos de um trem, mas adotar qualquer comportamento tido como apropriado, escolher uma conduta que o senso comum entende como correta. Assim como “acertar a mão” não é dar um soco em ninguém – por mais que às vezes se tenha vontade –; nem “perder a mão” significa que ela foi decepada. São apenas modos de dizer que se conseguiu fazer algo bem feito, uma receita, um texto, um produto que tende à perfeição; enquanto que o oposto quer dizer que não se está conseguindo repetir desempenho.

Soltar a franga” não é consentir que o galináceo fuja, mas apenas dizer que permitiu a si mesmo(a) algo impensado, que extrapolou limites antes impostos. Se for “soltar o verbo” não se está buscando tirar da prisão palavra alguma, mas apenas falando tudo o que se pensa. E “prender a respiração” não é testar seus limites de apneia, nem apenas seguir as instruções de seu professor de natação: trata-se de uma forma de expressar a sensação, naquele momento crucial do filme, quando o atacante do seu time vai cobrar um pênalti decisivo ou quando aguarda seu nome sair em lista de aprovação para qualquer coisa. Uma espécie de angústia boa, na maioria dos casos, por anteceder algo que é muito esperado e pode ser positivo. 

A questão é que existem centenas de casos como esses que citei acima. Não caberiam nesse espaço restrito. Então, terei que “abrir mão” de seguir listando, mas acreditem que não sou “mão fechada” (desistir de algo; e ser econômico demais). Se eu seguisse tentando abarcar mais e mais dessas expressões, estaria “andando feito barata tonta”, ou ainda “arrumando sarna para me coçar” (perdendo tempo e foco; e conseguindo criar problemas para mim mesmo). Então, mesmo que provisoriamente, é aconselhável que eu trate de “pendurar as chuteiras” (desistir). Quem sabe lá eu não retorne mais adiante ao tema, tentando “colocar os pingos nos is”? (esclarecer as coisas)

15.10.2023

Se você gosta dos meus escritos e acha que minha dedicação a eles vem sendo digna de alguma recompensa, por favor considere fazer uma doação de qualquer quantia do seu agrado e possibilidade. Isso pode ser feito de duas maneiras. A primeira e mais simples é através do envio usando a Chave PIX virtualidades.blog@gmail.com. A segunda é através do formulário existente abaixo. Nele a confirmação se dá, depois das escolhas de valor e periodicidade, no botão “Faça uma Doação”.

Uma vez
Mensal
Anualmente

FORMULÁRIO PARA DOAÇÕES

Selecione sua opção, com a periodicidade (acima) e algum dos quatro botões de valores (abaixo). Depois, confirme no botão inferior, que assumirá a cor verde.

Faça uma doação mensal

Faça uma doação anual

Escolha um valor

R$10,00
R$20,00
R$30,00
R$15,00
R$20,00
R$25,00
R$150,00
R$200,00
R$250,00

Ou insira uma quantia personalizada

R$

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmente

O bônus de hoje é a música Se Liga Aí, de Gabriel o Pensador. Mas, depois de um texto que na verdade é uma brincadeira, coloco aqui outro bônus, com um tema sério. Em um vídeo, o escritor uruguaio Eduardo Galeano (1940-2015) comenta sobre as “motivações” que sempre são alegadas para a ocorrência de guerras. Muito oportuno, no momento em que se vive no mundo ao menos dois grandes conflitos (Rússia x Ucrânia e Israel x Hamas), sem contarmos outras situações pontuais.