CADA MACACO NO SEU GALHO

Na biblioteca de uma universidade um jovem estudante se aproxima de mesa que está sendo utilizada por uma garota muito bonita. E pede, educadamente, se ela permite que ele sente ao seu lado. A moça responde falando muito alto: “Eu não quero passar a noite com você. Não insista”. Todas as pessoas que estão no ambiente olham para ele, que se afasta constrangido. Algum tempo depois ela se dirige ao lugar que ele ocupou após o ocorrido, dizendo para ele bem baixinho: “Eu sou estudante de Psicologia e sei perfeitamente como os homens se sentem, diante de situações que não controlam”. Então o rapaz respondeu, desta vez ele falando muito alto: “O quê? Cobrar R$ 200,00 por hora para dormir comigo? Isso é um absurdo!” Depois, diante do espanto e da paralisia dela, complementa, próximo ao seu ouvido: “Sou estudante de Direito, onde nos treinam para reverter situações desfavoráveis”. Virou o jogo nos acréscimos.

Não considero o Direito maior ou mais importante do que a Psicologia. São conhecimentos distintos e incomparáveis. Aliás, em muitos momentos ele recorre a ela para provar teses diante da Justiça. E ela já precisou da ajuda dos seus operadores para assegurar proteção legal a pacientes. O que essa pequena história – que nem nos compete dizer se ocorreu de fato ou se trata de mera ficção – pode nos ensinar é que adversários em muitas ocasiões nas quais parecem batidos, na verdade não estão. Ou que a soberba é perigosa, ao desconhecer totalmente a possibilidade do troco. Ou ainda que dominar o nosso território pode ser vantajoso, mas que em algum outro momento na certa teremos que enfrentar combates fora da nossa zona de conforto.

Sobre essa última alternativa, ouvi de meus avós maternos, muito sábios, a expressão “cada macaco no seu galho”. E garanto que foram várias as vezes, não me sendo possível dizer que não tive fonte para beber e para aprender. Dizem – e não posso garantir – que isso foi usado pela primeira vez por Duque de Caxias, em uma batalha na Guerra do Paraguai. Para surpreender o inimigo, determinou que cada soldado seu envolvido na preparação para o embate subisse em uma árvore distinta. Existe o risco muito grande de que a origem tenha cunho racista, uma vez que a maior parte do contingente era composta por negros. Eu prefiro acreditar, vai ver que por ingenuidade – ou porque hoje estou preferindo não entrar em polêmicas –, fosse apenas porque as copas das árvores são terreno dos primatas e ele quisera explicar que cada um deveria ser como um deles, se preocupando em estar atento somente àquele espaço que passaria a lhe dizer respeito. Um significado depois generalizado. Como escrever é um ato solitário, não havendo aqui ninguém da área do Direito, para defender pontos de vista distintos, nem da Psicologia, para explicar comportamentos, que fique por isso mesmo.

Na música brasileira, por volta de 1964 – êta ano complicado da gente lembrar – o sambista Clementino Rodrigues, conhecido como Riachão (1921-2020), compôs uma canção com esse nome: Cada Macaco no Seu Galho. Ela foi gravada pela primeira vez por Caetano Veloso e Gilberto Gil, em 1972. Mais tarde, Gal Costa também deu sua interpretação à música, não parando as gravações nesses três exemplos. Duas destas versões estão disponibilizadas em áudio no final desta crônica.

Uma outra expressão, muito mais recente, oferece significado que pode ser visto como semelhante: cada um no seu quadrado. E sua origem, garantem alguns estudiosos, também vem das hostes militares. Isso porque no Exército cada soldado recebia uma área pré-determinada para defender, nos seus exercícios. Não acredito que tivessem todas elas essa forma geométrica, mas deixa prá lá. Prefiro pensar nos diálogos que usei na abertura, lá no primeiro parágrafo. Seria um ótimo exercício de escrita criativa imaginar o que aconteceria daquele encontro inicial inusitado em diante, com o casal universitário. Quem sabe, qualquer hora dessas, eu não abra aqui no blog uma sessão de contos além desta habitual, que reúne apenas crônicas?

07.10.2023

Se você gostou desta crônica, garanta a continuidade do blog com uma doação. Isso ajudará a cobrir custos com sua manutenção. Faça isso usando a Chave PIX virtualidades.blog@gmail.com (qualquer valor ajuda muito) ou o formulário existente abaixo. São duas alternativas distintas para que você possa optar por uma delas e decidir com quanto quer ou pode participar, não precisando ser com os valores sugeridos. Toda contribuição é bem-vinda. No caso do formulário, a confirmação se dá depois das escolhas, no botão “Faça uma Doação”.

Uma vez
Mensal
Anualmente

FORMULÁRIO PARA DOAÇÕES

Selecione sua opção, com a periodicidade (acima) e algum dos quatro botões de valores (abaixo). Depois, confirme no botão inferior, que assumirá a cor verde.

Faça uma doação mensal

Faça uma doação anual

Escolha um valor

R$10,00
R$20,00
R$30,00
R$15,00
R$20,00
R$25,00
R$150,00
R$200,00
R$250,00

Ou insira uma quantia personalizada

R$

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Agradecemos sua contribuição.

Faça uma doaçãoDoar mensalmenteDoar anualmente

Como foi antecipado no corpo da crônica, como bônus temos hoje os áudios de duas das gravações da música Cada Macaco no Seu Galho, de Riachão. São elas as de Caetano Veloso e de Gal Costa. Cabe a quem está lendo escolher uma entre elas ou ouvir ambas para comparar.

Caetano Veloso – Cada Macaco no Seu Galho (Chuá-Chuá)
Gal Costa – Cada Macaco no Seu Galho (Chuá-Chuá)